O espanhol Álvaro Morata chegou ao Chelsea, vindo do Real Madrid, para ser a principal referência do ataque dos Blues na temporada. Os valores foram bem altos, o que gerou uma enorme expectativa em cima do jovem centro avante, na época com 24 anos de idade. O jogador causou um impacto imediato, com gols e assistências logo no início da Premier League, mas vem tendo problemas da segunda metade da temporada para cá. Atualmente, são 12 gols marcados em 35 partidas disputados – ele vem de uma dura sequência de dez jogos sem marcar com a camisa do Chelsea.
Na Premier League, Morata estreou com gol e assistência, participando apenas nos 30 minutos finais na derrota contra o Burnley por 3×2, em casa. O impacto inicial fez os torcedores do Chelsea acreditarem que o substituto de Diego Costa se adaptaria rapidamente e conseguiria ser a referência que o time buscava. Foram necessárias apenas 6 rodadas para que conseguisse marcar seu primeiro hat-trick, numa vitória fora de casa contra o Stoke City. Na UEFA Champions League, sua estreia também foi com gol, dessa vez um importantíssimo contra o Atletico de Madri, numa vitória por 2×1.
Mas a boa fase ficou apenas no início da temporada. Se nas seis primeiras rodadas do campeonato inglês o centro avante anotou seis gols, e no restante do torneio conseguiu apenas quatro. Além da seca de gols, que já dura dez partidas, Morata vem sendo criticado por perder chances claras e cair muito em campo durante o jogo, sem conseguir dar prosseguimento às jogadas.
O Chelsea dependeu em vários momentos da temporada de um definidor de jogadas, e Morata não conseguiu ser essa figura. A partida mais marcante foi contra o Arsenal na Semifinal da EFL Cup. O espanhol perdeu pelo menos uma chance clara por confronto, e isso custou a classificação. Um grande clube depende de um bom centro avante que aparece em momentos importantes, por isso Morata vem sendo tão cobrado.
Boa parte da torcida questiona o atleta, mas será que ele realmente não terá mais futuro no Chelsea ou ainda pode se tornar o camisa 9 que o time espera e precisa? Algumas justificativas aparecem para tentar explicar um rendimento tão abaixo do esperado.
A pressão de ser “o cara do ataque”
A janela de transferências do Chelsea para a temporada 2017/18 foi marcada principalmente pela saída de jogadores e a busca por reposição. Isso aconteceu no ataque, o artilheiro da última temporada, Diego Costa, deixou Stamford Bridge, e para seu lugar o seu compatriota Álvaro Morata foi o contratado.
O espanhol tinha uma missão complicada e que nunca aconteceu em sua carreira. Vindo da base do Real Madrid, Morata sempre foi o reserva de Karim Benzema na equipe e não carregava a responsabilidade de ser o principal homem gol. Sua estreia no time profissional do Madrid foi na temporada 2012/13, na qual participou de 15 partidas e anotou apenas dois gols. A temporada seguinte foi um pouco mais produtiva, Álvaro conseguiu fazer 34 jogos e anotou nove tentos.
Depois dessas duas temporadas no Real, o centro avante se transferiu para a Juventus, e novamente chegou para ser apenas uma das opções no ataque. Sua passagem na Itália foi um divisor de águas em sua carreira. A equipe italiana contava com Carlos Tevez e Fernando Llorente, sendo que o argentino tinha a missão de ser o grande goleador. Porém na Juve, Morata teve mais chances de jogar, e na temporada 2014/15, fez 46 partidas e conseguiu anotar 15 gols, fazendo boas partidas, principalmente na Champions League e marcando gols importantes, inclusive o da classificação contra o Real Madrid. Em seu segundo ano na Velha Senhora, brigava por uma vaga no ataque com Mario Mandžukić e Paulo Dybala, por isso, a pressão em cima dele também não era tão forte. Foi uma média menor de gols que na anterior, 12 em 47 partidas.
Sua temporada anterior à chegada ao Chelsea foi novamente no Real. O clube espanhol repatriou Morata e contava novamente com o jogador para brigar com Benzema pela vaga no ataque. Foram bons números: 20 gols em 43 partidas.
Com bom posicionamento de área e muita qualidade na bola aérea, Álvaro já era convocado para a seleção espanhola e se tornou uma grande promessa do futebol mundial, por ser reserva, a vontade era de dar um upgrade em sua carreira, sendo titular em um clube. Por isso era visto com um dos principais alvos da janela de transferências, e dessa forma chegou aos Blues. Mas pode ser que todo esse status e expectativa em cima do atleta pelo preço alto em que foi contratado fez com que a pressão o prejudicasse, na medida em que as bolas pararam de entrar, a confiança caiu e isso foi aumentando jogo após jogo.
O estilo de jogo da Premier League e as lesões
Vindo do futebol espanhol, no qual a marcação é menos pegada e o juiz paralisa jogadas um pouco mais ríspidas, Morata tem o péssimo costume de cair a cada vez que um zagueiro chega um pouco mais firme. Isso faz com que muitas jogadas do Chelsea sejam paralisadas pelo fato do espanhol esperar uma falta que não é marcada.
Um camisa 9 tem que desempenhar bem a função de pivô para que algumas jogadas de ataque fluam corretamente. Recebem de costas para a marcação e conseguem fazer o passe para um dos jogadores que chegam de trás, ou girar para buscar a finalização. Isso é um ponto que ainda falta ao espanhol para se firmar como referência no ataque dos Blues.
Tempo para se adaptar é fundamental. É apenas a primeira temporada de Morata na Premier League sendo que o jogador ainda é jovem e assinou 5 anos de contrato com o Chelsea, o esperado é que o jogador evolua seu desempenho nesse aspecto e, com isso, entregue resultados melhores ao time.
Quando vivia boa fase no início da temporada, Morata se lesionou numa partida contra o Manchester City no dia 30/09/2017, uma lesão na coxa que o deixou de fora de três jogos na temporada. Era um momento do ano em que o atacante vinha com confiança, e boas partidas poderiam fazer com que a boa fase do espanhol continuasse.
No início de 2018, uma nova lesão, dessa vez nas costas, o tirou de mais cinco partidas. Dessa vez, Morata já vinha em uma má fase. Perdeu jogos que poderiam fazê-lo recuperar seu futebol e a confiança. Mas ao contrário disso, uma contusão normalmente faz com que o astral do jogador caia, e prejudique sua temporada.
Acomodação
No início da temporada, o reserva de Morata era Michy Batshuayi, jovem atacante belga que não conseguia convencer Antonio Conte. Quando o espanhol não podia atuar, era normal que o treinador improvisasse um de seus pontas na função de “falso 9”. Acostumado a contar com atacantes de bom nível em seus times anteriores e na falta de uma sombra que forçasse a trabalhar mais para aprimorar sua forma, pode ter feito com que Álvaro se sentisse confortável na posição, uma vez que claramente Batshuayi não era o jogador favorito de Antonio Conte.
Para resolver isso, a diretoria fez uma troca de atacantes na janela de meio de temporada. O francês Olivier Giroud foi contratado junto ao Arsenal e tem mais experiência na Premier League para oferecer uma “sombra de mais peso” ao espanhol. Por outro lado, Michy foi emprestado ao Borussia Dortmund – e vem fazendo boas partidas por lá- para ganhar experiência e voltar mais preparado para buscar seu espaço nos Blues.
Ainda é cedo para saber se a solução da diretoria vai funcionar. Pode ser que Giroud se torne o titular com o tempo ou não, ou faça com que Morata cresça de produção. Mas foi uma aposta válida.
Qualidade técnica
Além de todos esses fatores, o nível técnico também deve ser levado em consideração. Morata tem qualidades notáveis, é rápido comparado a outros centro avantes e por ser alto consegue ganhar disputas aéreas cabeceando com muita qualidade.
Porém alguns erros que ele comete quando está em frente ao goleiro adversário podem ser justificados por problemas técnicos. O modo como posiciona o corpo para finalizar, ou a decisão final precisam ser aprimorados. O atacante precisa saber o que fazer quando está de frente para o gol e erros não podem ser considerados normais.
Outro problema é que o centro avante parece estar disperso com relação ao jogo em certos momentos, em outra frequência com relação aos demais. No esquema de jogo do Chelsea, o atacante precisa participar para construir jogadas juntamente com os pontas e alas, e Morata já falhou diversas vezes com a bola nos pés -por mais que já tenha tomado boas decisões em outros momentos da temporada-
A solução para esse problema é treinamento. Treinar finalizações, ficar mais ligado no que está ocorrendo no jogo e ter uma leitura melhor das jogadas. Isso virá com esforço e vontade do atleta. Os anos de Premier League trarão experiência e por se tratar de um jovem, o potencial de crescimento ainda é enorme. Morata tem talento sim, mas precisa ser lapidado e depende muito dele mesmo para que consiga ser o camisa 9 que os torcedores do Chelsea esperam que ele seja.