O Chelsea vem sendo marcado pela inconstância dos seus jogadores ao longo desta temporada. Principalmente no setor defensivo, que já sofreu 46 gols em 34 partidas, ainda há trabalho a fazer. Isso ficou mais evidente ainda quando se analisam as três últimas partidas dos Blues. Uma derrota, que interrompeu boa sequência desde o reinício, seguida por uma vitória tranquila e outra vacilante, dizem muito sobre o momento atual do elenco.
Nesses três jogos foi possível observar que o técnico inglês está tentando ajeitar as peças que tem à disposição. Seu objetivo é que o time não caia de produção dentro de uma mesma partida. Foi assim no fracasso contra o West Ham por 3-2, de virada e também contra o Crystal Palace – vitória por 3-2. O jogo intermediário, 3-0 contra o Watford, só pode ser levado em consideração pelo resultado porque o adversário claramente facilitou as coisas para os comandados de Lampard.
Entretanto, algumas observações táticas puderam ser feitas nas três partidas para que as próximas sejam mais tranquilas.
Primeiro Tempo: Falta de criatividade ofensiva e marasmo defensivo marcaram a derrota contra os Hammers
No jogo contra o West Ham, os dois pontos que ficaram mais evidentes quando se analisa a performance do time foi a falta de jogadas ofensivas e a exposição da defesa com Kanté no meio. Além disso, faltou a chamada “vontade” para alguns atletas na recomposição defensiva.
Os dois laterais, que não são exímios passadores, eram os jogadores que mais tentavam articular jogadas. Contudo, as jogadas realizadas – leia-se bolas alçadas na área – não surtiram efeito. Assim, o Chelsea foi um time previsível e inocente, visto que a maior qualidade dos Hammers é justamente a imposição física.
Apesar disso, em duas jogadas de Pulisic, os Blues conseguiram dois gols, de pênalti e de falta, ambos por Willian. Além disso, não houve momentos de perigo para o goleiro adversário. Entretanto, o mesmo não pode ser dito das incursões dos Hammers na área. O Chelsea tomou dois gols exatamente iguais, um anulado e outro válido, de Soucek, em sequência. Assim, o lance desse gol demonstrou a inaptidão da marcação individual escolhida por Lampard, que viu o mais baixo da linha defensiva – Azpilicueta – terminar marcando o mais alto dos adversários.
Já no lance do segundo gol, o “apagão” voltou e Christensen deixou Antonio sozinho pra marcar de dentro da área. Por fim, o terceiro gol pode ser chamado de “erro ensaiado”. Kanté, primeiro homem de marcação, sai para disputar a bola na entrada da área de ataque e perde. Em seguida, Alonso falha em voltar marcando Yarmolenko. Isso resulta no atacante receber sozinho na ponta direita, cortar Rudiger e garantir a vitória. Antes disso, Christensen já havia perdido disputa física com Antonio. O inglês conseguiu segurar a bola para o companheiro virar o jogo encontrando o ucraniano livre.
Segundo Tempo: Calmaria contra o Watford antes da tempestade
No jogo seguinte, precisando da vitória, Lampard vem com alterações no time titular. James entra e Azpilicueta é deslocado para a lateral esquerda. Além disso, ainda na zaga, Zouma ocupa a vaga de Rudiger. No meio campo tivemos a presença de Barkley e Mount fazendo dupla de meias-atacantes. Por fim, Giroud entrou no lugar do artilheiro em má fase Abraham.
O placar foi construído basicamente no primeiro tempo de jogo. Com naturalidade os Blues mantiveram a posse de bola sem nenhuma objeção por parte dos Hornets. Assim, com quase 80% de posse de bola, no segundo tempo, O Chelsea entrou em ritmo de treino e aproveitou para dar minutos a Odoi e Loftus-Cheek.
Talvez o momento tático mais significativo foi a lesão de Kanté e a entrada de Gilmour, em vez de Jorginho. Até então, o ítalo-brasileiro não havia estreado após o retorno das competições. Assim, após alguns minutos, Azpilicueta assistiu o primeiro gol de Barkley na Premier League em 20 meses. Ou seja, apesar da vitória categórica, o Watford não exerceu nenhum tipo de resistência ao domínio azul.
Todavia, apesar do placar elástico, os problemas de criação continuavam existindo. Assim, a vitória mais ampla só foi possível graças a Willian e Barkley. O brasileiro marcou de pênalti e o inglês, além de fazer o seu, serviu Giroud para abrir o marcador.
Já a defesa, que havia sofrido no jogo anterior, não foi muito testada. Contudo, ainda sim respondeu bem aos avanços fracos dos Hornets. É interessante observar também que os espaços defensivos deixados por Kanté foram até maiores do que os da partida anterior mas não levaram a gols.
Terceiro Tempo: Discrepância entre os setores do time marca confronto contra o Crystal Palace
No último jogo os Blues sofreram nos minutos finais para garantir a vitória por 3-2 contra os Eagles. O nome do jogo novamente foi Pulisic, mas Giroud e Abraham também deixaram suas marcas, no primeiro e segundo tempo, respectivamente. Entretanto, o jogo ficou marcado pela diferença que existe hoje entre os setores do time. Se o ataque tem potencial para produzir as jogadas realizadas nessa partida, a defesa tem potencial ainda superior para deixar escapar o clean sheet.
Por duas vezes o Chelsea deixou o adversário construir sobre falhas defensivas – especialmente do lado direito com James – e marcar. O primeiro em arremate longo totalmente livre de marcação. Já o segundo em infiltração pela direita e finalização do meio da pequena área. Assim, isso demonstra falta de comunicação, empenho defensivo e organização do posicionamento. Em tempo, o lado mais prejudicado pelo ataque adversário é o lado oposto ao do capitão Azpilicueta.
Todavia, o Chelsea fez um jogo organizado do meio para a frente. A presença de Gilmour na cabeça da área e, nos dez minutos finais, Jorginho, evidenciou os problemas de Kanté na criação. Além disso, um organizador presente no início da jogada é capaz de aliviar a carga criativa dos atacantes, que só precisam entrar nos espaços criados pelo primeiro homem de meio. Assim, para um time propor o jogo, precisa de um meio que consiga ligar os setores do campo.
Portanto, a discrepância que os Blues têm hoje e a oscilação presente dentro de campo passam também pela falta de conexão existente entre os setores do time. Defesa, meio e ataque não podem jogar separados. Além disso, é necessário que o meio-campo seja o setor mais influente no jogo de troca de passes, para organizar a melhor hora de recuar e de atacar.