A história recente do Chelsea revela um panorama com a presença de alguns atacantes em ótimo nível, figuras da estirpe de Didier Drogba e Diego Costa. No entanto, a lista de avançados dos Blues também possui nomes de muito peso, que custaram verdadeiras fortunas e não desempenharam o papel esperado, como são os casos de Fernando Torres e Andriy Shevchenko. É extremamente difícil dissociar o custo de uma transferência de seu impacto potencial e é por isso que o novo contratado do clube londrino chega ao Estádio Stamford Bridge cercado de expectativa, a qual não pode se transformar em pressão.
Como bem dito pelo Vinícius Paráboa (leia aqui), embora a transferência de Michy Batshuayi carregue semelhanças com a de Didier Drogba, estas devem ser entendidas como meras coincidências, afinal estamos tratando de jogadores diferentes. Enquanto o site Transfermarkt, especializado no assunto, avalia o valor de mercado do belga em €15 milhões, o Chelsea pagou €39 milhões por seus serviços. A pressão é intrínseca à própria transferência e, por isso, o torcedor precisa ter calma com seu novo atacante.
Calma, aliás, é algo difícil de pedir a um torcedor exigente que se acostumou a estar sempre nas cabeças e viveu temporada ridícula em 15/16, mas com Batshuayi é necessária. Embora venha do clube que carrega as maiores massas da França, o Olympique de Marselha, único campeão da UEFA Champions League proveniente de seu país, o belga jogou em uma equipe que não é, há tempos, sombra de seu passado. Nos últimos 20 anos, o time conquistou apenas um título da Ligue 1 e na temporada recém-finda não passou de uma decepcionante 13ª colocação.
É claro que o jogador foi o grande destaque do time, anotando respeitáveis 17 tentos, nas 36 partidas que disputou com Les Phocéens, mas o foi diante de uma realidade em que apenas se esperou que o clube não fosse rebaixado (vale dizer, o OM conquistou apenas oito pontos a mais que o Stade de Reims, primeiro relegado a Ligue 2). É também justo mencionar que estamos falando de um atleta de 22 anos que só foi titular de seu ex-clube em uma temporada – em 14/15 tal posto cabia ao francês André-Pierre Gignac.

Portanto, é cruel exigir um encaixe imediato e resultados expressivos já no início de sua trajetória vestindo a camisa dos azuis de Londres. Não é que isso não possa acontecer, evidentemente, mas o atleta ainda não viveu a pressão intensa por sucessos que viverá no Chelsea, por mais que já tenha experiências e êxitos. Além disso, nunca esteve em um ambiente em que tivesse tantos adversários de respeito e um estilo de jogo tão intenso, rápido e duro.
Drogba veio do Olympique de Marselha e logo se adaptou, mas durante toda sua estadia em Londres o marfinense se mostrou um ponto fora da curva e para ser bom jogador não é preciso sê-lo. Batshuayi é sem dúvidas uma ótima aposta, por seu futebol e diante das necessidades dos Blues. Por isso, não se pode cogitar o desperdício de seu talento em razão da pressa.
Lembremos, ainda, que o jovem já protagonizou histórias das quais não deve se orgulhar, como a de sua saída do Anderlecht, marcada por mau comportamento. A despeito disso, quanto teve como foco único seu rendimento no campo, foi muito bem, mostrando força e oportunismo. Poucos jogadores podem, aos 22 anos, olhar para trás e encarar um histórico de 198 jogos disputados e 77 gols marcados.
Acredito que Michy terá sucesso em Londres. Sua entrevista foi animadora e uma fala em especial me chamou a atenção: “uso muito a cabeça para desenvolver mais meu jogo”. Com tempo e verdadeiramente a cabeça no lugar, creio que Batshuayi dará muitas e longevas alegrias aos Blues.
As palavras neste texto condizem com a opinião do autor, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil.