O Chelsea se classificou para as semifinais da FA Cup onde enfrentará talvez o adversário mais perigoso dentre os três times que se classificaram, o Tottenham. Não se trata apenas do momento do time, que é muito bom, mas também da rivalidade, afinal é clássico. Mas muitos se perguntariam: o Tottenham é um rival do Chelsea?
Para responder a essa questão é importante olhar para o futebol inglês de uma maneira diferente da que olhamos para a nossa realidade local, no Brasil..
Em termos de futebol, a organização do futebol inglês é muito diferente do brasileiro. Há sete ligas profissionais de âmbito nacional, bem organizadas e estruturadas, e tantas outras semi profissionais abaixo dessas, que inclusive possuem o sistema de promoção e rebaixamento para as ligas profissionais.
Apenas em Londres, cidade onde o Chelsea foi fundado, há catorze times profissionais distribuídos nas sete ligas profissionais e tantos outros semi profissionais e amadores. Muitos se referem ao Brasil como o país do futebol, talvez por conta das conquistas da seleção e da qualidade dos jogadores brasileiros ao longo da história do esporte no cenário mundial, mas a Inglaterra é o berço do futebol. Nenhum outro país possui tantos times profissionais, organizados em ligas profissionais, como a terra da rainha.
Apesar da presença massiva de times londrinos nas duas divisões principais do país (cinco na Premier League e 3 na Championship), a capital inglesa não se configurou como polo futebolístico até a segunda metade do século passado. O norte da Inglaterra, centro econômico do país desde a revolução industrial, era a região dos times mais tradicionais e historicamente campeões, como Liverpool, Manchester United e Everton.
Com o passar dos anos os times da capital inglesa passaram a ganhar força e Arsenal, Tottenham e Chelsea se colocaram na conversa entre os times de destaque no país. Assim, jogar contra os times de Liverpool e Manchester é sempre jogo grande.
Então, além desses confrontos especiais com os times do norte, temos também os clássicos da mesma cidade, famosos derbies, que têm grande apelo, pois é quando os torcedores encontram seus amigos que torcem por outros times no trabalho, escola e família que a rivalidade cresce. Não vou falar dos hooligans e dos momentos tristes que as torcidas trouxeram para o povo inglês, pois futebol é sempre melhor descrito quando o tema central é o que acontece dentro de campo.
E é assim que a rivalidade muda ao longo dos anos. Como os times do norte do país eram os mais vitoriosos, quando algumas equipes da capital ascenderam, começaram novas rivalidades. Por isso United e Arsenal, Liverpool e Chelsea são considerados rivais. Os times de Londres passaram a fazer frente e ganhar títulos e com isso a rivalidade rompeu fronteiras, mas isso jamais foi capaz de apagar o peso dos derbies.
Na minha opinião – e aqui não tenho a pretensão de que esse texto seja algo além disso – qualquer time londrino contra o qual o Chelsea joga regularmente, se apresenta como grande e maior rival. Por isso minha antipatia por Arsenal e Tottenham – que são os maiores times de Londres, depois do Chelsea. Se morasse em Londres, eram colegas de trabalho, vizinhos, amigos que torcem para esses times que iriam ouvir minhas gozações após as frequentes vitórias do Chelsea.
Mas não há como ignorar Liverpool e Manchester United, ou até mesmo o Manchester City, que tem um histórico em ligas nacionais da primeira divisão melhor que o Chelsea. Mas essa conversa de história, número de títulos é um papinho que não me atrai quando o assunto é esporte porque acredito que museu e historiador vivem de história, não time de futebol. Esses jogos continuam grandes por conta do grande investimento, jogadores de qualidade e torcidas sempre vêm inflamadas ao enfrentar os Blues, não por causa da sala de troféus de Old Trafford e Anfield.
Jogaremos contra um desses times pela semifinal da Copa da Inglaterra e alguns torcedores já estão tensos, mas não é apenas por causa do bom momento do time de Mauricio Pochettino. Jogo contra os Spurs é derby e derby é um dos jogos mais esperados do ano. E um dos mais ‘temíveis’ também.
Tenho confiança na vitória dos Blues, apesar de ter um friozinho na barriga, mas não há nada como enfrentar um grande rival, numa final ou semifinal de um torneio tão tradicional como a FA Cup. São esses os jogos que nós queremos ver, sofrer, vibrar, comemorar e, se possível, tirar um sarro dos colegas após a vitória. Isso é clássico e clássico, pra mim, é a melhor parte dessa que é a melhor invenção do homem, como diria Mauro Cezar Pereira.
As palavras neste texto condizem com a opinião da autora, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil.