Mesmo sem ter qualquer ambição na Premier League, o Chelsea visitou o Bournemouth e goleou os donos da casa. O ótimo desempenho ofensivo, com todos os jogadores de frente se destacando em algum momento da partida, trouxe a temporada 2014-2015 à memória e até mesmo ofuscou algumas trapalhadas da dupla de zaga formada por John Obi Mikel e Branislav Ivanovic, e do goleiro Asmir Begovic. Apesar disso, brilhante mesmo foi apenas um jogador: Cesc Fàbregas.
Se Eden Hazard foi individualmente o melhor jogador do Chelsea na vitoriosa temporada passada, ao menos dos primeiros 2/3 daquela campanha, grande parte do brilho coletivo do Chelsea só foi possível em função da efetividade da participação de Fàbregas. Sua capacidade para, de trás, enxergar espaços, organizar a equipe, ditar o ritmo do jogo e colocar seus companheiros à vontade para fazer boas jogadas foi um dos grandes diferenciais daquele time – assim como a habilidade de Hazard e a letalidade de Diego Costa.
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Sempre que teve um Fàbregas inspirado, o Chelsea foi bem – e isso aconteceu muitas vezes em 2014-2015. Veio a temporada atual e com ela a queda de rendimento coletivo da equipe. Hazard esteve sempre longe daquela forma confiante que o levou a ser eleito o melhor jogador da Premier League passada; Diego Costa – apesar de ter crescido no decorrer da temporada – foi personagem mais assíduo nas páginas de polêmicas do que de gols; referências como John Terry e Branislav Ivanovic tiveram importante queda de forma; outrora um muro, Nemanja Matic transformou-se em uma porta aberta. Em suma, só Willian salvou-se. E isso não é novidade para ninguém.
Todavia, bastou uma engrenagem funcionar para o time funcionar: Fàbregas. Voltando a mostrar todo o nível que construiu sua fama e identidade, o espanhol elevou a forma de Matic, que participou mais ativamente e com mais segurança, e deixou o quarteto formado por Diego Costa, Hazard, Pedro e Willian completamente à vontade para circular, trocar passes e organizar tramas bem elaboradas. Até o criticadíssimo Baba Rahman mostrou qualidade em seus avanços. Fàbregas entregou a bola para três gols e deu o passe preliminar para o quarto.
Contra o Bournemouth, Fàbregas foi Fàbregas e o Chelsea foi Chelsea, mesmo com suas deficiências defensivas.
No referido encontro, o espanhol acertou 85% de seus passes, mas o mais impressionante não são os números secos, mas a estatística aplicada. O mapa que mostra o destino de seus toques é revelador, pois mostra a suprema maioria deles em direção ao gol adversário e denota a confiança do atleta em si mesmo, em razão do grande número de passes longos, ainda que muitos tenham sido falhos.
É isso que se espera de Fàbregas. Não se deseja um jogador com 90, 95% de acurácia pelo mero acerto, mas alguém que crie o diferente, enxergue o que ninguém mais vê e, assim, conduza a equipe à vitória.
Na Premier League 2014-2015, o jogador que tem o DNA do Barcelona criou nada menos do que 18 assistências; nesta são apenas sete – três delas no último jogo. Na atual campanha, Fàbregas deu passe para gols em cinco partidas, contra Arsenal, Norwich, Everton, Newcastle e Bournemouth – quatro vitórias e um empate.
Fazer Fàbregas retomar a constância de seu jogo talvez seja a principal missão de Antonio Conte – muito mais do que recuperar outras peças. Tudo isso porque uma boa performance do espanhol em geral significa uma boa performance do coletivo. Quando os passes entram com acerto, a confiança dos indivíduos aumenta e o jogo coletivo flui. Fàbregas é a principal engrenagem do time.
As palavras neste texto condizem com a opinião do autor, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil.