Há pouco mais de um ano no clube, Thomas Tuchel vai se mostrando um profissional capaz de executar um trabalho a longo prazo no Chelsea. Com três títulos no currículo, o alemão vai demonstrando seu enorme conhecimento nas quatro linhas – vide a atuação no Santiago Bernabéu.
Além disso, ele tem conseguido lidar com o ambiente caótico do clube. Esse, talvez, seja o aspecto que mais me chama a atenção no seu trabalho. Afinal, o clube sempre teve bons treinadores no aspecto tático e uma forte equipe. Diante disso, existem alguns motivos que, ao meu ver, tornam o alemão o melhor treinador dos Blues desde a primeira passagem de Mourinho pelo oeste de Londres.
A difícil relação entre o corpo técnico e a direção
De antemão, é preciso dizer que o Chelsea da Era Abramovich ficou marcado pelas conquistas. Mas também pelas frequentes trocas de treinador. Os profissionais que passaram por Stamford Bridge não tiveram estabilidade por diversos fatores. Entre os motivos mais frequentes estão a falta de apoio da direção em momentos de turbulência, a gestão do vestiário e a relação entre direção e staff no mercado de transferências.
Portanto, vale relembrar declarações de alguns ex-treinadores dos Blues.
No último dia da janela de transferências da temporada 2015/2016, o Chelsea anunciou a chegada de Papy Djilobodji após negociações frustradas com John Stones. José Mourinho, treinador na época, reforçou que o zagueiro não era um nome desejado por ele para reforçar o elenco naquele momento:
“Não foi um pedido meu. Não conheço todos os jogadores. O meu trabalho não permite ter tempo suficiente para analisar jogadores. Em determinadas situações precisamos confiar nas pessoas com quem trabalhamos’’.
Seu sucessor, Antônio Conte, pouco depois de deixar o comando dos Blues, revelou que o clube esteve próximo de fechar com dois grandes jogadores que ele desejava para o elenco:
“Pedi dois atletas e ficamos muito, muito próximos depois de ter vencido a Premier League. Um jogador foi Romelu Lukaku e o segundo atleta foi Virgil Van Dijk, e esses dois estavam muito muito próximos. Estivemos em contato todos os dias e sempre disse que com esses dois atletas [o plantel do Chelsea] iria melhorar em 30%”.
“Acho que perdemos o tempo de trazê-los para o Chelsea no começo e a possibilidade deles ficarem por muitos anos”, concluiu o treinador italiano.
A gestão do vestiário dos Blues nunca foi fácil
Já na reta final de sua segunda passagem, José Mourinho lamentou sua relação com o elenco:
“Sinto que meu trabalho foi traído. Trabalhei quatro dias nesse jogo (contra o Leicester) e preparei tudo sobre o adversário. Identifiquei quatro jogadas em que eles marcam quase todos seus gols. Meus jogadores receberam todas informações e, ainda assim, levaram dois gols nessas jogadas“.
Antonio Conte em sua passagem também teve os mesmos problemas. De modo que, até mesmo, pensou-se que ele não resistiria e seria derrubado por conta das situações extra-campo.
Não apenas com Mourinho ou Conte, os confrontos entre técnicos e jogadores são muito presentes no Chelsea – e não é muito difícil de serem percebidos.
Chegada em meio à turbulências
Thomas Tuchel chegou ao Chelsea no final de janeiro de 2021. Naquele período, o clube estava fora do G4 e os reforços contratados a pedido de Frank Lampard não conseguiam corresponder às expectativas dentro de campo.
Logo, com pouco tempo de casa, o alemão encontrou o esquema certo e conseguiu extrair um bom futebol de nomes como Jorginho, Kai Havertz, Timo Werner e Ben Chillwel. De modo que a mudança tática e no ambiente resultou em um título inesperado da Champions League. Principamente pelo fato de que a equipe foi pensada para conquistas no futuro.
Bom desempenho em meio ao caos
Na atual temporada esperávamos ver o time londrino ainda mais forte com Romelu Lukaku. Contudo, o belga mais uma vez tem decepcionado com a camisa Blue. Não apenas por conta das performances abaixo do esperado. Como também por não ter se encontrado no esquema vencedor da equipe londrina.
Nesse ínterim, o Chelsea também conviveu com lesões em larga escala o que comprometeu o rendimento da equipe em dezembro – inclusive, o camisa 9 ficou um tempo fora dos gramados por conta de lesão.
Sem dúvidas, os tropeços em meio aos desfalques impediram que o clube seguisse na briga pela Premier League, desafiando Liverpool e Manchester City. Ainda assim, a equipe está em boa posição para seguir no G4 e garantir a vaga na próxima Champions.
Ao mesmo tempo, o Chelsea conquistou o Mundial e a Supercopa da Europa. Bem como chegou à final da Carabao Cup, e, neste domingo (17), terá a chance de jogar mais uma final da FA Cup.
Extra-campo, mais turbulências
Mais ainda, os Blues vêm convivendo com incertezas desde as sanções que o governo impôs à Roman Abramovich. E Tuchel conseguiu, desde o princípio, manter o foco no trabalho dentro de campo e blindando o elenco.
Por vezes, os resultados acima não impressionam, tendo em vista a qualidade do elenco e o poder financeiro do clube. Contudo, quem acompanha o Chelsea de perto sabe da dificuldade que os treinadores possuem nos seus relacionamentos dentro do clube, seja com os atletas ou com a direção.
Thomas Tuchel é o melhor treinador pós primeira passagem de Mourinho?
Desde a vitória no final de semana passado quando o Chelsea goleou o Southampton estive pensando se o alemão é o melhor treinador pós primeira passagem de José Mourinho. Mais ainda, a exibição de terça-feira, na Espanha, reforçou a minha sensação sobre o tema.
Vale destacar que de 2007 pra cá passaram pelo clube, nomes tais como Avam Grant, Guus Hiddink, Carlo Ancelotti, André Villas-Boas, Roberto Di Matto, Rafa Benitez, o próprio Mourinho, Antônio Conte, Maurizio Sarri e Frank Lampard. Com alguns desses nomes fazendo bons trabalhos e conquistando títulos importantes.
O que dizem os números…
Curiosamente, Tuchel é quem detém os melhores números entre todos técnicos incluindo o Mourinho.
Nesse ínterim, gostei muito dos trabalhos realizados pelos italianos Ancelotti e Conte. Na temporada 2009-2010, sob o comando de King Carlo, o Chelsea obteve o recorde de gols na época com 103 tentos em 38 partidas. Além disso, faturamos a FA Cup e a eliminação na Champions League ocorreu de forma polêmica, embora não tenha a mesma repercussão do Iniestazo.
Por outro lado, Antônio Conte, na minha opinião, é quem mais se aproxima do alemão, no que tange a parte tática. Inclusive, é possível que parte dos nossos leitores o considerem superior. Contudo, ele tem um temperamento muito forte e que prejudica em partes os seus trabalhos.
Por exemplo, tente imaginar como Conte iria lidar com as adversidades que surgiram ao longo da temporada 2021/2022. Enfim, me parece improvável que a sua postura não fosse interferir de forma negativa no desempenho da equipe.
Por isso, acredito que faz sentido pensar que o alemão é o melhor desde Mourinho no início da década de 2000. Mas, digam aí, Thomas Tuchel é o melhor treinador pós 1ª passagem de Mourinho? Aguardo a opinião de vocês nos comentários.