Diante de um mercado de transferências de pouca atividade, em que o Chelsea ao invés de se reforçar permaneceu estagnado, fazendo aquisições que meramente suprem carências decorrentes de saídas, não há como não contestar os rumos que vão se desenhando para a temporada dos Blues.
Não se trata de fatalismo, mas de pura lógica. A conquista do inglês de 2016/17 foi fantástica. Contudo, só foi possível com o elenco de que dispunha o treinador Antonio Conte, porque não havia outras competições em foco. De volta à UEFA Champions League, é clara a necessidade de se dar profundidade ao grupo. Porém, o que se viu foram as saídas, dentre outros, de John Terry, Kurt Zouma, Nathan Aké, Nathaniel Chalobah e Nemanja Matic, valendo dizer que Diego Costa está fora dos planos. Com relevância, chegaram apenas Álvaro Morata, Antonio Rüdiger e Tiemoué Bakayoko.
Talvez por isso, diante da emergência, o clube londrino tenha finalmente aberto seus olhos para algo fundamental: seus próprios jovens, que estiveram em outras praças amadurecendo, ganhando minutos de jogo e tendo boas aparições. Finalmente. Como tem sido debatido há tempos. É claro, a princípio são apenas três, mas é um início promissor. Também é evidente que, a despeito do potencial de cada um deles, inexiste garantia de sucesso. Porém são apostas de baixo custo, cujo eventual fracasso não pesará nos cofres do clube.
Andreas Christensen
O beque dinamarquês é, provavelmente, o jogador que mais foi pedido dentre os profissionais nos últimos tempos. Consolidado no Borussia Mönchengladbach nos dois anos mais recentes, provou categoricamente ter totais condições de vestir a camisa dos Blues. Suas capacidades para a antecipação de jogadas, que lhe renderam médias elevadas de interceptações por partida (foram 2,3 em média na Bundesliga 2016/17, mais do que qualquer outro zagueiro do Chelsea na mesma temporada) e taxa elevadíssima de acerto de passes, confirmaram que o jovem se trata de um defensor com muita categoria, para muitos anos, e que está pronto para atuar no mais alto nível.
Pelas vias erradas, foi forçado a reestrear pelo clube já na primeira rodada, após a expulsão precoce de Gary Cahill e os rearranjos de Conte na retaguarda londrina. Individualmente, não foi mal, a despeito da partida coletiva ruim da equipe. Recebendo novas oportunidades e se encaixando ao esquema da preferência do treinador italiano (que tem três zagueiros, o que não lhe é estranho, tendo atuado muitas vezes dessa forma na Alemanha), deve crescer. As saídas de Terry, Zouma e Aké dão a impressão de que a zaga do Chelsea perdeu força, mas, além da chegada de Rüdiger, a reincorporação de Christensen testemunha contrariamente.
Confortável com a bola nos pés, adaptável a fazer as coberturas dos alas e também para ir à frente e iniciar a construção de jogo do time, tem muitas qualidades e, ao que tudo indica, finalmente terá as oportunidades que fez por merecer, após dois ótimos anos no Gladbach.
Jeremie Boga
Outro jogador que retorna após dois anos de empréstimo, o primeiro ao Rennes e o segundo ao Granada, Boga não se apresenta tão “pronto” quanto Christensen, mas sua margem para evolução é grande e suas características permitem o imaginar sendo utilizado em alguns cenários. O jovem tem muita explosão física. Além de ser hábil na condução de bola, tem arrancadas muito fortes e intensas. Parece ainda bruto, mas, lapidado, pode se tornar opção como winger, executando funções semelhantes às de Pedro e William. Também não é absurdo o ver como alternativa a Victor Moses, como ala.
Como todo o time do Granada, Boga não fez grande temporada em 2016/17, mas certamente aprendeu com as dificuldades vividas em um ano que terminou com a lanterna e o consequente rebaixamento do clube andaluz à segunda divisão espanhola. O francês chegou a falar sobre sua evolução recentemente:
“Sinto meu jogo mais maduro e estou melhor como o time […] Estou mais forte fisicamente e melhor taticamente também, penso que evolui bastante”, disse ainda na pré-temporada, em reportagem veiculada pelo Metro.
Mais preparado para as fortes exigências da Premier League, Boga precisa de minutos na competição, já tendo vivido em dois cenários distintos e nada fáceis. Titular na primeira partida do Chelsea na presente Premier League, deu azar. A mesma questão que deu espaço a Christensen lhe tomou, tendo o atleta sido o sacrificado para que o clube pudesse tentar se remontar defensivamente.
Charly Musonda
Um dos jogadores mais talentosos já formados no Chelsea, o igualmente jovem Charly Musonda, que também tem 20 anos, recebe oportunidades após um ano no Real Betis e seis meses no próprio Chelsea, mas sem chances. Seus primeiros seis meses em Sevilla foram formidáveis, na segunda metade da temporada 2015/16. Se os Verdiblancos não iam bem, o belga foi capaz de propor o jogo e criar “fatos novos”, ajudando o time a terminar o ano na confortável 10ª posição. No entanto, pouco utilizado na temporada 2016/17, foi chamado de volta aos Blues na janela do inverno europeu, mas não vinha sendo aproveitado e também sofreu com problemas físicos.
Capaz de atuar pelas pontas ou mais centralizado, Musonda é um driblador nato, um atleta imaginativo e que agrega características pouco exploradas pelo clube. É, como Boga, “verde” ainda, todavia está em evolução e pode ser útil. Hoje não é solução, mas boa alternativa para rodar o elenco e, eventualmente, preservar alguns titulares. Começa a temporada recebendo oportunidades em poucos minutos.
O garoto sabe que seu momento chegou:
“Comecei minha carreira tardiamente. Por exemplo, Eden Hazard já estava no time principal aos 16 anos e não estive nem perto disso. Sinto que aprendi muito no Chelsea e estou pronto para qualquer competição do mundo. Nunca me arrependi de assinar pelo Chelsea”, disse ao The Sun.
Provas de fogo para outros
Com fome de bola, buscando evolução, os três garotos que vêm conquistando seu espaço têm também a necessidade de se entregar ao máximo. O Chelsea só tem a ganhar com isso. Além deles, no entanto, há outros jogadores em momento importante nas carreiras. Após polemizar na China, Kenedy tem mais uma oportunidade de se firmar no time e é outro privilegiado pela versatilidade. Além dele, enquanto Morata não se ambienta, Michy Batshuayi também vai recebendo chances e precisa mostrar bom desempenho.
Outros jovens também têm provas importantes na temporada: Tammy Abraham, Ruben Loftus-Cheek jogam a Premier League e, diante dos exemplos de Christensen, Boga e Musonda, sabem que as chances de retorno e utilização existem em caso de sucesso em Swansea City e Crystal Palace, respectivamente. Embora tenha perdido Dominic Solanke para o Liverpool, finalmente o Chelsea parece ter entendido que é possível e útil dar espaço aos jogadores que produz.
As palavras neste texto condizem com a opinião do autor, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil.