Kanté é muito mais que “apenas” o melhor volante do mundo

Pela terceira vez premiado pela UEFA como o melhor jogador da partida, N’Golo Kanté foi fundamental para a classificação do Chelsea para a final da Champions League.

O camisa 7 ocupa o meio campo ao lado de Jorginho ou Kovacic no esquema tático de Thomas Tuchel, mas não se limita a ser um meia de marcação. O francês também é peça chave na construção das jogadas ofensivas do Chelsea.

VARIAÇÃO TÁTICA

A posição natural de Kanté é volante. Mas desde que despontou no futebol europeu, raramente desempenhou o papel de primeiro homem de marcação. No Leicester campeão da Premier League em 2016, jogava ao lado de Danny Drinkwater, que era mais fixo.

Já no Chelsea de 2017, quando foi campeão e o melhor jogador da Premier League, fazia uma dupla com Nemanja Matic, que funcionava mais como o “primeiro volante” no esquema tático de Antonio Conte.

Kanté foi o melhor jogador da Premier League na temporada 2016/17 (Foto: Barry Coombs/PA)

Com a chegada de Maurizio Sarri no Chelsea, Kanté teve uma mudança considerável em sua forma de jogar. O treinador italiano montava o time em um 4-3-3 com Jorginho na base do meio campo. O camisa 7 atuava pelo lado direito, com mais responsabilidades ofensivas, uma vez que aquela equipe normalmente controlava a posse de bola até encontrar os espaços.

Já Frank Lampard, variava bastante a equipe taticamente, e isso afetava diretamente no posicionamento de Kanté, que alternava entre a posição de primeiro volante, meia pela direita ou formava uma dupla com Jorginho, Kovacic ou Gilmour.

Na seleção francesa, foi campeão da Copa do Mundo em 2018 atuando ao lado de Pogba e Matuidi, neste caso, era o jogador mais fixo e marcador.

O SONHO DE THOMAS TUCHEL

O treinador alemão já era um fã assumido de N’Golo Kanté desde antes de assumir o Chelsea. Uma das primeiras declarações que deu ao chegar em Londres foi:

“Ele [Kanté] é o cara que você precisa para ganhar troféus, é por isso que estou tão, tão feliz por ele estar aqui. (…) Sonhei com este jogador, lutando por ele em qualquer clube onde eu estivesse treinando e agora ele é meu jogador”.

E isso é verdade, o próprio Kanté assumiu que esse interesse existiu enquanto Tuchel estava no comando do PSG:

“Existiram alguns contatos no passado por parte do PSG, quando Thomas Tuchel era o treinador, mas não era algo que eu queria. Não aconteceu porque era feliz no Chelsea e quis ficar aqui.”

O sonho do treinador virou realidade, em março, Tuchel disse em coletiva que:

“Jogar com Kanté é como ter meio homem a mais em campo, isso é único” 

E o casamento deu certo, Thomas Tuchel soube potencializar os talentos de N’Golo, que subiu de produção desde a chegada do alemão, ainda que já estivesse fazendo uma ótima temporada sob o comando de Frank Lampard.

HABILIDADES COMPLEMENTARES

Explicar o que Kanté consegue entregar dentro de campo é difícil. Suas principais qualidades são várias: pressão no adversário, leitura de jogo, velocidade com e sem a bola, passe curto, físico, fôlego, frieza, inteligência tática.

A famosa frase “o Kanté está em todos os lugares do campo” é justificada pelo fato de Kanté ter uma leitura de jogo diferenciada. Na verdade, ele costuma estar no lugar certo e na hora certa.

O francês consegue, em fração de segundos, entender onde a bola vai sobrar e como ele deve atacá-la. Por isso rouba e intercepta tantas bolas – na atual edição da Premier League são 135 em 28 jogos.

Quando se pensa em um jogador com fôlego e inteligência para pressionar o adversário, aliada a um drible curto com mudança de direção e velocidade para puxar ataques rápidos, acontece o fenômeno Kanté. Um jogador que pode recuperar a bola e iniciar uma jogada ofensiva em qualquer lugar do campo e em questão de segundos.

TODOCAMPISTA

N’Golo Kanté consegue ocupar e se faz presente em todo o meio de campo. O mapa de calor de Kanté na atual Premier League fala por si só:

Kanté tem 1855 toques e acertou 86,6% dos passes no campeonato inglês (Mapa: SofaScore)

Portanto, Kanté não se limita a ser o melhor volante do mundo. Ele é um dos melhores meio campistas do mundo. E um dos mais completos. Se lhe falta capacidade de finalização, sobra inteligência para destruir a jogada dos adversários e construir o ataque para que seus companheiros finalizem.

As palavras neste texto condizem com a opinião do autor, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil

Category: Opinião

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Article by: Victor Rosa

Jornalista e viúvo de Eden Michael Hazard.