Por Rodolfo Costa
O início de temporada do Chelsea não é bom. O futebol do atual campeão inglês oscila entre boas e más partidas. A derrota por 3×0 para a Roma, ontem, no Olímpico, deixou claro que o time de Antonio Conte ainda precisa de alguns ajustes para convencer a torcida de que pode galgar posições mais altas na tabela da Premier League, e sonhar alto na Champions League. Mas nem tudo está perdido. Há tempo para corrigir os deslizes e recolocar o elenco no rumo das vitórias.
A derrota na quarta rodada da fase de grupos da Champions League foi doída para muitos torcedores. Mas mostrou que Conte atravessa uma linha tênue entre erros e acertos. Após a lesão de Eden Hazard no início da temporada, o treinador italiano dá sinais cada vez mais claros de que utilizará o craque belga no ataque, flutuando próximo do centroavante espanhol Álvaro Morata. Um indício de que planeja exigir menos do camisa 10 na temporada em termos defensivos. Uma virtude.
Com Hazard poupado de fazer as transições defensivas quando o time está sem a bola, sobra mais vigor ao craque belga para continuar jogando até o fim das partidas. Mas isso tem um preço. Custo esse que o técnico da Roma, Eusebio Di Francesco, certamente decifrou. Na última temporada, o 3-4-3 mutável para o 5-4-1 na defesa impressionou a torcida, os adversários, e os críticos. No entanto, manter o camisa 10 no ataque deixa enfraquecido o flanco esquerdo da equipe e sobrecarrega o ala Marcos Alonso. (veja imagem 1 abaixo).
O posicionamento médio do time contra a Roma mostra claramente que Hazard joga mais próximo de Morata. A flutuação do belga no ataque, retirando suas obrigações defensivas, escancarou a fraqueza demonstrada pelo Chelsea na derrota de ontem. Dos três gols sofridos, dois foram marcados pelo ponta Stephan El Shaarawy, que soube aproveitar bem os espaços entre o meio e a faixa direita de ataque da equipe italiana.
Não foi só El Shaarawy que soube aproveitar os espaços pelo lado esquerdo do Chelsea. O centro-campista Radja Nainggolan, compatriota de Hazard, também atuou muito por aquele lado. Quase sempre muito próximo do ponta italiano. Um erro da equipe do Chelsea (veja imagem 2 abaixo).
A assunção de mais responsabilidades a Alonso na ala esquerda obrigou o zagueiro Antonio Rudiger e o centro-campista Tiemoué Bakayoko a ajudarem no combate. O resultado disso provocou em algumas situações um desajuste no meio-campo. Como consequência, gerou uma sobrecarga sobre o espanhol Cesc Fàbregas, que não consegue entrosamento com o companheiro francês. Como consequência da falta de organização, a má execução do box-to-box entre os dois comprometeu espaços no meio-campo (veja imagem 3 abaixo).
Entre equívocos e correções, Conte ainda tenta encontrar o melhor ajuste para a equipe. Mas seja qual for a decisão dele, não é preciso pensar demais. A alternativa para suprir os espaços deixados na esquerda está em um esquema já utilizado pelo próprio treinador em outras partidas neste ano: o 3-5-2. Para Manter Hazard mais próximo do ataque, sem desguarnecer o meio-campo, uma alternativa é preencher o meio-campo com um terceiro meio-campista.
A estratégia foi adotada contra Atlético de Madrid e Tottenham, no que talvez tenham sido as melhores partidas do clube no ano. Contra o adversário espanhol, o Chelsea impôs a única derrota ao clube no novo estádio até o momento. Diante do eterno rival inglês, os Blues aplicaram a única derrota da equipe em casa na atual temporada da Premier League. Contra a Roma, na partida em Stamford Bridge, a tática também foi usada, mas a saída precoce de David Luiz no início do segundo tempo, para a entrada de Pedro, enfraqueceu a equipe, que vencia por 2×1.
O 3-5-2 é uma opção para evitar uma sobrecarga ao meio-campo e firmar Hazard de vez como atacante, deixando-o mais próximo da área, para finalizar, e flutuante, para articular as jogadas. Diferentemente das escalações informadas por emissoras e na internet, o belga não se dispõe taticamente mais na ponta. É um fato que virou um atacante.
Contra Roma, ele ocupou muito mais a área próxima da defesa adversária, do que a ponta esquerda. Os espaços ocupados na metade de defesa do meio-campo foram mínimas. Ele não desempenha mais as funções de ponta da última temporada (veja imagem 4 abaixo).
Na última partida, contra o Bournemouth, Hazard também atuou muito próximo do ataque. Foi dele, aliás, o gol da vitória. Os espaços ocupados pelo belga naquele jogo são ainda mais presentes no ataque (veja imagem 5 abaixo). Como atacante, Hazard anotou os únicos três gols feitos até o momento na temporada em partidas oficiais com a camisa do Chelsea.
A verdade é que recuperação do time na temporada passa necessariamente por ajustes cirúrgicos na postura tática da equipe. Caso Hazard continue jogando mais próximo de Morata, serão necessárias alternativas para preencher o meio-campo quando o time estiver sem a bola. Seja uma mudança estruturalmente tática, com a entrada de um meio-campista fixo, que permita a equipe se defender em um 5-3-2, sem abrir mão de agredir o adversário quando estiver com a bola.
Ou fazendo transições defensivas e uma compactação no 4-4-2 sem a bola. Corrigir a ocupação de espaços no meio-campo e a falta de entrosamento entre Bakayoko e Fàbregas também será essencial para recuperar a eficácia da compactação observada na temporada passada. Tempo, competência e capacidade para fazer as correções o italiano Conte tem. Mas é preciso colocar logo a mão na massa.
As palavras neste texto condizem com a opinião do autor, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil.
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