Na última semana, neste espaço, falei sobre uma questão importante: o Chelsea não precisaria ir com tanta sede à procura de zagueiros caso concedesse oportunidades a alguns de seus jovens talentos. Naquele momento, a especulação mais forte dava conta do interesse dos Blues pelo italiano Alessio Romagnoli, negócio que, apesar de caro, fazia sentido, pois se tratava de atleta conhecido de Antonio Conte e com muita margem para evolução. No apagar das luzes, contudo, o Chelsea selou o retorno de David Luiz, movimento, do ponto de vista negocial, contestável.
Era óbvio que o Chelsea precisava contratar algum reforço para a retaguarda. Ir à temporada apenas com John Terry, Gary Cahill e Kurt Zouma (que ainda se recupera de lesão) seria uma temeridade. Todavia, não dá para simplesmente esquecer que o clube londrino teve mais de dois meses para trabalhar no mercado na busca por soluções melhores do que o retorno do brasileiro.
David Luiz está longe de ser um defensor fraco, quando falamos de seus quesitos técnicos, mas sua falta de consistência e descontrole emocional já se mostraram fatais em vários pontos de sua carreira. Pensemos positivamente, todavia: é claro que foi melhor trazê-lo do que não contratar ninguém. A questão é que o Chelsea poderia ter feito melhor.
Outro fator que é preciso considerar é o tamanho do investimento feito em sua contratação. Os Blues pagaram aproximadamente 10 milhões de euros a menos do que as cifras envolvidas na sua venda para o Paris Saint-Germain. Na história do futebol, quantos zagueiros de 29 anos (ou mais velhos) custaram €38,5 milhões (ou mais)? Apenas Lilian Thuram, que, na temporada 2001-2002, aos 29 anos, deixou o Parma e seguiu para a Juventus. Convenhamos, o recordista de aparições com a camisa francesa era muito melhor do que nosso carismático brasileiro.
Voltemos ao mercado de 2016-2017. Mats Hummels, que entrava em seu último ano de contrato com o Borussia Dortmund, custou €35 milhões aos cofres do Bayern de Munique. Aquele que é considerado por muitos o melhor do mundo em sua posição custou menos que David Luiz. Contudo, vejamos quando foi anunciada sua contratação: 10 de maio. Sim, maio, mês em que o mercado ainda está calmo, longe do desespero dos dias próximos ao famigerado deadline day.
Já sabendo quem seria o treinador para a presente temporada, o Chelsea poderia muito bem ter atuado nos bastidores rapidamente e acertado negócios durante a calmaria e sem alarde. Entretanto, ocorreu o contrário.
O mundo inteiro, sabendo do desespero e do largo orçamento que o Chelsea possui, inflacionou o valor de seus beques nos dias finais da janela de transferências. Conclusão: David Luiz voltou. Reitero, não questiono o valor que o brasileiro terá no elenco blue, mas, ainda que se quisesse convictamente o retorno do zagueiro, isso poderia ter sido feito no início da janela, por um valor mais razoável.
Durante a semana, aqui mesmo no Chelsea Brasil, muito se debateu sobre o que David Luiz pode trazer ao Chelsea em seu retorno, tática e tecnicamente. É óbvio que o brasileiro não é nenhuma piada de gosto duvidoso como foi a vinda de Papy Djilobodji na última temporada. Na mesma esteira do que muitos disseram, não discordo de que tecnicamente e diante das demais opções que o clube possui a volta do versátil beque agrega mais do que prejudica, mas não há como não questionar o modo como procedeu a direção dos Blues.
As palavras neste texto condizem com a opinião do autor, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil.