No início da atual temporada, antes de a avalanche de empréstimos do Chelsea irromper de Stamford Bridge, a permanência de algumas figuras anteriormente emprestadas e a ascensão de jovens das categorias de base aos profissionais foi tema exaustivamente abordado. Com a saída de Didier Drogba, um dos tópicos que mais ganharam manchetes foi a possiblidade de José Mourinho contar com Patrick Bamford, que conseguira forma fulgurante no empréstimo ao Middlesbrough, e/ou Dominic Solanke, garoto que despontou brilhantemente na base azul. A janela fechou-se e ambos foram emprestados.
Bamford foi cedido ao Crystal Palace para ganhar minutos no primeiro escalão do futebol inglês, enquanto Solanke foi cedido ao parceiro (?) Vitesse. Enquanto o primeiro vem sofrendo com um número reduzido de oportunidades na equipe londrina de Alan Pardew, o segundo vem aproveitando muito bem seu estágio em Arnhem. Titular na maior parte das partidas, já tem doze disputadas na temporada e quatro tentos marcados, obtendo média superior a de qualquer atacante do Chelsea na temporada.
Tudo bem, ele não atua em uma liga tão disputada quanto Diego Costa, Loïc Rémy e Falcao García, mas tampouco representa uma equipe de grande qualidade. Por mais que tenha evoluído, o Vitesse segue vários patamares abaixo do trio dominante na Holanda – Ajax, Feyenoord e PSV.
Enquanto o trio do Chelsea recebe bolas trabalhadas por jogadores como Eden Hazard, Oscar, Cesc Fàbregas e Willian (por mais que a fase de alguns destes seja péssima), Solanke tem como melhores parceiros figuras ainda muito jovens e de pouco destaque, como Milot Rashica e Valeri Qazaishvili.
Além disso, revelando que não é tão fácil assim jogar na Eredivisie, além de Solanke, dentre os emprestados do Chelsea apenas Lewis Baker vem tendo um desempenho positivamente regular, sendo titular. Usualmente reserva, o brasileiro Nathan é quem mais ingressou no campo durante as partidas e tem dois gols marcados, obtendo algum destaque. Já Danilo Pantic e Izzy Brown vêm jogando um futebol que pouca atenção chama.
Assim como Ruben Loftus-Cheek mostra quando está em campo – embora José Mourinho siga reiterando que ele ainda não faz jus a um lugar regular em seu time – Solanke tem tido destaque e poderia ter permanecido no elenco, a despeito de estar aproveitando muito bem o seu período fora de Londres.
Extremamente vitorioso na base, com dois títulos da FA Youth Cup, um da UEFA Youth League e um Europeu Sub-17 com a Seleção Inglesa, e dono de um faro de gol impressionante, em 77 partidas pelos escalões Sub-18, 19 e 21 anotou 63 gols, Solanke é uma das maiores esperanças para o futuro do Chelsea e considerando a fala que José Mourinho dirigiu a Loftus-Cheek, o jogador poderia estar vivendo um período de crescimento mais importante permanecendo com os profissionais ao invés de em empréstimo.
“(…) não são muitos jogadores com a sua idade que conseguem ser titulares em partidas da Premier League, Champions League e nas copas, estar constantemente no banco, vivendo e aprendendo com grandes jogadores. Ele (Loftus-Cheek) está tendo de tudo.”
Não deveria Solanke estar “tendo de tudo” também? É claro que ninguém aqui está sugerindo que a suposta permanência do jogador no elenco o tornaria um “salvador da pátria” ou que o garoto se transformaria em uma máquina mortífera que ameaçaria Diego Costa, mas sua permanência poderia ser mais valiosa que seu empréstimo, principalmente quando se faz a análise de quantos jogadores dos Blues foram emprestados e quantos foram reintegrados posteriormente.
Aos 18 anos, Solanke é um dos jogadores de quem os torcedores mais esperam bom futebol. Uma eventual presença em algo como 15 partidas na temporada com o Chelsea, mesmo com a sua grande maioria sendo como reserva, não é algo absurdo e poderia trazer mais benefício que um empréstimo ao Vitesse, até mesmo porque Mourinho poderia moldar o atleta, como aparenta estar fazendo com o meio-campista supracitado.
Repito, seu empréstimo vem sendo muito positivo, com uma titularidade frequente e gols, o que só confirma seu valor. A questão que gera questionamento é o porquê de este potencial e valor não estar sendo aproveitado em Stamford Bridge e acompanhado de perto por um torcedor que se orgulha dos feitos da base e que, no entanto, não tem podido vangloriar-se do bom trabalho nas categorias inferiores, uma vez que, entre os profissionais, apenas John Terry é opção regular formada no clube.
As palavras contidas nessa reportagem condizem à opinião do autor, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil