Colunas: André Schürrle, reserva de luxo?

Coluna com novo dia da semana – agora todas as quinta-feiras -, e  nesta semana finalmente consegui falar de um jogador que tenho observado de perto há muito tempo: André Schürrle.

O Chelsea tem no seu elenco um campeão mundial, algo que aconteceu apenas duas vezes na história do clube. Não apenas André Schürrle venceu a Copa do Mundo pela Alemanha, mas foi do ala o passe para o gol de Mario Gotze. O camisa #14 dos Blues também marcou dois gols na acachapante vitória de 7×1 sobre o Brasil e foi importante no time de Joachim Löw todas as vezes que saiu do banco. A história no Chelsea é parecida e Schürrle teve momentos excelentes pelo clube na temporada passada e já brilhou nessa temporada, marcando dois gols, um deles contra o Manchester City no empate fora de casa por 1×1.

Na temporada passada, o alemão teve problemas de condicionamento físico. Tanto jogador como treinador esclareceram em entrevistas que o atleta passou um período entre novembro e janeiro fazendo trabalho para ganhar força junto com o departamento de preparação física do time. Quando voltou a ser usado com mais frequência por Mourinho, Schürrle alternou altos e baixos – assim com o resto do time, mas mesmo assim marcou o seu primeiro hat-trick com o Chelsea, contra o Fulham em março desse ano.

Veio a Copa do Mundo, o passe decisivo para a vitória da Alemanha na final contra a Argentina por 1×0 e a confiança do alemão ganhou dimensões estratosféricas. Muitos esperavam que ele fosse se reapresentar ao Chelsea voando baixo, mas o que se percebeu até aqui foi um espelho da temporada passada. O gol contra o Manchester City foi fundamental e quase garantiu a vitória dos Blues no Etihad Stadium. Porém, três dias depois o meia foi mal nas finalizações contra o Bolton, onde teve 12 tiros e apenas três no alvo. Nova oportunidade, a terceira em oito dias, dessa vez contra o Sporting pela Champions League, e mais uma vez a decepção. Além de duas chances desperdiçadas na cara do gol, Schürrle se mostrou fominha em outras ocasiões.

Em entrevista coletiva na véspera do jogo contra o Arsenal, Mourinho disse que em forma, Schürrle é um jogador excepcional, mas que se não estiver nos seus melhores dias, é um jogador mediano. Melhor descrição não poderia ter sido feita. Como é comum em seu país, o alemão não se destaca pela habilidade técnica. O brasileiro Willian tem repertório de passes e dribles muito mais amplo que Schürrle, entretanto, o campeão mundial é muito mais objetivo e inteligente no seu posicionamento e corridas. O seu primeiro gol pelo Chelsea em partidas oficiais – marcado também contra o Manchester City – em outubro do ano passado ilustra bem a capacidade que Schürrle tem de ocupar bem os espaços e estar no lugar certo, aguardando o passe fatal.

Observe que no gol, ele começa a correr para a direita, para se aproximar de Torres, mas quando vê os zagueiros, logo se reposiciona à esquerda e recebe a bola completamente livre de marcação. Velocidade, boa movimentação, posicionamento impecável e boa leitura do jogo, faz com que Schürrle se destaque, mesmo sem um jogador talentoso como Hazard e até mesmo Willian. O alemão, assim como Oscar, faz o mais simples, mas quando está em forma, executa o básico de maneira incrível e consegue marcar gols com facilidade, como no já mencionado hat-trick contra o Fulham.

Mas ainda falta aquele algo mais. Às vésperas de completar 24 anos, Schürrle ainda é novo e ainda vai crescer muito como jogador. As finalizações podem e devem ser melhoradas e talvez quando passar a ansiedade para que a bola entre, assim como o individualismo exagerado, ele se firme na posição. Mas justamente por não apresentar o volume de jogo necessário para ser titular, Schürrle possa se transformar em uma espécie de reserva de luxo do time de Mourinho nessa temporada.

O #14 dos Blues pode ser aquele cara que entra faltando 30 minutos para o fim das partidas e resolve. Defesas cansadas e pernas pesadas maximizam ainda mais as qualidades de velocidade e movimentação do campeão mundial. O Chelsea é um time ofensivo, que ataca muito por todos os lados e que marca muito a saída de bola do adversário. Os times maiores, que jogam de igual para igual se expõem e os times menores que se fecham se cansam. Dentro dos dois contextos, sangue novo no time não apenas dá um gás, mas no caso de Schürrle pode ser ainda mais fatal pelas suas qualidades que deixam o jogo mais corrido.

E se na temporada passada às vezes seu talento era desperdiçado, pois não recebia os passes, esse ano com a presença de Fàbregas, gols como o seu primeiro nessa edição da Premier League, contra o Burnley (acima e abaixo), poderão ser vistos com muito mais frequência. Nem a falta de visão dos companheiros que não lhe passavam a bola quando estava bem posicionado foi capaz de frustrar o alemão que está sempre positivo.

Aliás, sua atitude e comportamento são exemplares. Sem nunca ter reclamado de ficar no banco, Schürrle constantemente repete em entrevistas que precisa lutar pelo seu lugar no time. As palavras do jogador podem ser vistas em campo. Sempre entrando com muita disposição, os torcedores jamais viram cara feia de André ao ser substituído ou ao permanecer no banco sem ser utilizado. Nem Juan Mata conseguiu aguentar o tratamento de reserva de luxo na temporada passada, mostrando toda sua insatisfação ao ser substituído contra o Southampton em janeiro desse ano, mas mesmo sendo campeão mundial, Schürrle tem mostrado que ainda tem muito trabalho a fazer para conquistar de vez a posição.

Enquanto isso, ao torcedor, resta cruzar os dedos para que o alemão acerte a pontaria de vez. Afinal, se um jogador consegue chutar 12 vezes em gol numa única partida é porque se movimentou, chamou a bola, se apresentou e se colocou em condição de concluir e isso não pode ser ignorado. Apesar da inconsistência nas finalizações, o Chelsea não tem hoje no seu elenco um jogador com características de Schürrle. Naquilo que faz bem, poucos jogadores, mesmo na Europa, estão acima do campeão mundial. Para o esquema de Mourinho, as qualidades de Schürrle são um diferencial para alcançar o sucesso. No futebol moderno nem sempre o mais talentoso é quem resolve. Objetividade, velocidade e inteligência para se posicionar nunca foram tão importantes e decisivos como agora.

*gifs tirados do tumblr indicado

As palavras contidas nessa reportagem condizem à opinião do autor, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil.