Luis Felipe Scolari jogou na conta da emoção. Mudanças táticas, jogadores mal individualmente, um time que não consegue trocar cinco passes em sequência. Nada disso importa. É como se ele pensasse: “Não dá pra vencer agora. Vamos esperar os pênaltis, rezar, e ver o que acontece”. Dessa vez deu certo, mas as prorrogações e os pênaltis costumam ser imprevisíveis. Não vamos vencer a Copa do Mundo se jogarmos tudo na conta do cara lá de cima.
Em post que lancei ao ar há exatamente uma semana, listei alguns dos problemas que a seleção enfrentou na fase de grupos. Alguns deles se repetiram contra o Chile, mas não vale a pena ficar batendo na mesma tecla. Dessa vez, irei falar sobre o Brasil por setor, listando seu desempenho tanto no jogo do último domingo quanto na Copa, como num geral. Vamos lá:
– O setor defensivo e a ligação direta
O Brasil tem ótimos zagueiros, que fazem uma boa proteção a um goleiro de alto nível. Até aí não precisamos nos preocupar, porque nem Júlio, nem Thiago e nem David comprometem. Mas a ordem do chefe vem interferindo muito no jogo desses atletas.
Contra o Chile, Thiago Silva e David Luiz deram, juntos, 29 “chutões” em direção ao ataque. Vinte e nove. Porém, ambos são zagueiros técnicos e que teriam sim a capacidade de sair jogando pelo chão, buscando seus laterais e seus volantes. O que Felipão exige está bem óbvio: não sair jogando para evitar o erro. Mas aí está o seu grande erro, professor.
– Marcelo necessita de reposição
Quatro jogos se passaram, e ainda não vimos o Marcelo dos velhos tempos. Não comprometeu tanto defensivamente quanto em outros jogos, mas foi em uma falha sua (conjunta com Hulk) o Brasil levou o gol de empate chileno. O ótimo lateral ofensivo que tínhamos, aparentemente não existe mais. Maxwell poderia ganhar chances, mas é o Maxwell. Se tivéssemos Filipe Luis, era titularidade obrigatória.
Já sobre Dani Alves, pode-se notar uma melhora. Quando fez lançamentos, deixou Neymar e Hulk na cara do gol. No primeiro lance, o camisa 10 “enfeitou” demais e acabou perdendo. No segundo, Hulk fez o gol, que foi anulado (duvidosamente) pela arbitragem. Apesar de suas limitações defensivas, Dani não sai do time agora.
– Volantes queimados por um sistema de jogo falho
Paulinho saiu do time e Fernandinho entrou como uma unanimidade. Mas Fernandinho fez um jogo fraco, assim como os que Paulinho vinha fazendo. Seria mesmo culpa deles?
A ligação direta, já citada acima, prejudica demais o segundo volante. É por ele que a bola tem que passar para chegar a frente, e, visto que na seleção o que predominam são os lançamentos (a.k.a. chutões), o trabalho fica bem prejudicado. Paulinho foi massacrado por todos (inclusive por mim) quando Fernandinho entrou contra Camarões e acabou com o jogo. Mas agora, com a atuação “nível Paulinho” de Fernandinho contra o Chile, vimos que ele não era tão culpado assim.
– Pela primeira vez, Hulk “chama o jogo” e se destaca; Porém, segue mal escalado
Hulk falhou no lance do gol chileno. Mas se redimiu muito bem. Mesmo sendo o mais prejudicado na rotação dos meias, ele foi o melhor jogador (ofensivamente falando) do Brasil em campo. Fez ao menos duas boas jogadas individuais, e quando foi as redes, lhe tiraram o gol. Seu posicionamento precisa ser corrigido, mas já vimos um avanço. Já Oscar, que atuou bem nos dois primeiros jogos, segue “sumido”, muito por conta da tão temida ligação direta. Neymar fez seu primeiro jogo abaixo da média, mas tem crédito pela boa campanha.
– “Tira o Fred!!!” “Volta Fred!!!”
Fred não é um centroavante de ponta, mas não há outra opção. Aliás, essa opção existe, mas se chama Jô. E esse é provavelmente o pior jogador do elenco, um dos piores da Copa do Mundo. Na última partida, sua ruindade ficou bem óbvia. Quando recebeu a bola, mostrou incapacidade até de realizar um simples domínio. Quando teve a chance de marcar, lembrou Afonso Alves. A opção de jogar sem centroavante é válida, e já foi cogitada por Luis Felipe Scolari.
– Previsões
O Brasil enfrentará a Colômbia, seleção de melhor futebol nessa Copa do Mundo. E, caso repita as últimas atuações, será eliminado. Luiz Gustavo, jogador mais regular do Brasil, está suspenso. Paulinho deve voltar, mas Henrique é cogitado. Em alguns momentos do último treinamento, os dois foram escalados juntos, em um losango completado por Oscar e Fernandinho, com Hulk e Neymar mais a frente. Essa seria a melhor opção, pois a seleção colombiana costuma adotar táticas ofensivas, assim sofrendo com contra-ataques velozes.
Sem Fred, o Brasil teria mais essa possibilidade, e assim o caminho estaria feito. Willian, que provavelmente é o único jogador dessa seleção que não joga em prol do gol, parando a bola e buscando passes curtos, precisa de mais tempo. Mas é uma pena que ele só entre no segundo tempo da prorrogação, não é Felipão?
As palavras contidas nessa reportagem condizem à opinião do autor, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil.