A especulação envolvendo a ida do espanhol Fernando Torres ao Milan, enfim, foi encerrada: o atacante foi emprestado por dois anos ao clube italiano, que desembolsou cerca de 12.5 milhões de euros.
Com as chegadas de Diego Costa e Didier Drogba, El Niño passou a ser a terceira opção para o ataque. No confronto contra o Leicester City, no último sábado, o jogador sequer foi relacionado. Portanto, não faria sentido manter um jogador descontente no elenco, que custou 50 milhões de libras, no banco de reservas.
Não tinha outra opção: o primeiro clube que demonstrasse interesse no atacante por um valor razoável, uma vez que já era óbvio que o Chelsea nunca recuperaria parte do valor investido no atleta – em três anos, Torres desvalorizou cerca de £37,5 milhões no mercado. Eis que surge o Milan, clube que necessitava de um centroavante, já que Balotelli havia deixado o clube para assinar com o Liverpool. Final feliz: era tudo que Chelsea, Milan e Fernando Torres desejavam.
Nos tópicos abaixo, explico o porquê da transferência ter sido positiva para Torres, Milan e Chelsea:
1) Fernando Torres tem 30 anos e, caso ele queira retomar seu bom futebol que um dia lhe fez ser o terceiro melhor jogador do mundo, quando brilhava em Anfield Road, este é o momento certo. Pessoalmente, acredito que nenhum jogador desaprende a jogar futebol de um dia para o outro. Pelo Liverpool, marcou 81 gols em 142 partidas. No Chelsea, evidentemente, não deu certo – mas não significa que ele não pode render em outro clube.
Um novo ambiente, com novos jogadores e treinador com metodologia de trabalho diferente podem ser fatores benéficos a Torres.
Acima, alguns números do atacante pelo Chelsea. Claro, não são estatísticas que irá animar o torcedor italiano, mas também não é nada desastroso. Quem acompanhou a trajetória do centroavante nos Blues sabe que ele é um jogador que joga pelo time, isto é, preza pelo coletivo. Não à toa, tem um total de 35 assistências. Conclui-se que Torres, analisando esses números, está longe de ser um camisa 9 matador, mas tem condições de ajudar sua nova equipe, seja com gols decisivos – porque ele provou isso no Chelsea em alguns momentos -, seja com assistências.
2) No Milan, a concorrência no setor de ataque não será tão intensa como é no Chelsea. Torres terá de brigar por sua titularidade com Giampaolo Pazzini, Jérémy Menéz, M’Baye Niang, Stephan El Shaarawy e Davide Di Molfetta. Sem desmerecer os atuais atacantes, mas, naturalmente, é provável que Torres vá conquistando seu espaço sem muitas dificuldades – a depender de suas atuações, claro, mas pelo valor investido (12.5 milhões de euros), dificilmente ele será uma opção no banco, caso contrário a transferência não teria sentido.
Logo, Torres será a referência no ataque, provavelmente ao lado de El Shaarawy, numa espécie de 4-4-2 (ou 4-2-2-2, como preferir). O fato é o seguinte: no Liverpool, quando Torres estava no auge da carreira, Rafa Benítez apostava muito no 4-2-3-1, mas que logo se transformava num 4-4-2, com Torres e Kuyt como dupla de ataque. É simples: com a presença de mais um companheiro de ataque, as chances de gol tendem a aumentar; o setor de meio-campo jogará em função dos dois atacantes – o que raramente acontecia no Chelsea, acostumado nas últimas temporadas a jogar com três meias muito ofensivos, o que, diferente do que muitos pensam, “atrapalha” o atacante.
Os torcedores do Chelsea irão se recordar de muitos, muitos momentos em que Torres praticamente deixava de ser um centroavante para jogar mais fora da área. O resultado disso era que Torres não marcava os gols, mas criava excelentes oportunidades de gol para seus companheiros: assistência para o gol de Schurrle na vitória por 2 a 1 em Stamford Bridge; assistência para o gol de Oscar na goleada por 6 a 0 em cima do Arsenal; assistência para Schurrle marcar seu hat-trick no triunfo por 3 a o sobre o Fulham. E assim foi durante seu tempo no Chelsea.
Dessa forma, como disse acima, no clube italiano deverá ser diferente. A equipe irá jogar em função dos atacantes em vez dos homens de frente trabalharem a bola para a chegada dos jogadores de meio-campo. A conferir.
3) Por fim, o Chelsea se deu muito bem com esta negociação. Conseguiu lucrar uma quantia razoável sobre um terceiro reserva que, desde quando chegou, em 2011, nunca correspondeu às expectativas. É claro que houve um grande prejuízo, mas no andar da carruagem, até que o negócio foi bom para os dois lados.
Com o valor da transferência, o Chelsea já apresentou oficialmente o atacante Loic Rémy. Mesmo sendo o segundo ou terceiro reserva, os números do francês são bons: na Premier League, Remy acumula 20 gols em 42 jogos, além de seis assistências.
A pergunta que fica: como Torres será lembrado pelo torcedor do Chelsea?
Não acredito que o torcedor sinta ódio pela carreira de Torres no Chelsea. A expectativa, claro, foi muito grande devido a seu desempenho nos Reds e também pelo valor investido. Eu acho que o sentimento que fica é de pena. A cada jogo que em que Torres esteve em campo, a torcida sempre o apoiou, mesmo a cada gol perdido. Muitos já sabiam que ele não voltaria a ser àquele Fernando Torres, então só restava apoiá-lo. E foi exatamente isso que aconteceu: quando marcava, gritos de “Torres! Torres! Torres!” além da clássica “He scores when he wants, Fernando Torres, he scores when he wants” ecoavam em Stamford Bridge. A torcida gostava dele, apesar de tudo.
Gostava porque ele sempre foi um jogador muito dedicado em campo – e nunca desistiu. Torres sabia que seu futebol estava muito ruim, mas nunca deixou de trabalhar e sempre foi até o fim na busca de dar alegrias ao torcedor blue. De certa forma, ele até que conseguiu: três títulos conquistados. Num eventual reencontro do jogador com seu ex-clube, tenho certeza de que a torcida irá homenageá-lo.
O primeiro gol:
O último gol (minuto 3:20):
O melhor momento:
O pior momento:
As palavras contidas nessa reportagem condizem à opinião do autor, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil.