Timo Werner chegou ao Chelsea no verão europeu de 2020. O alemão era um dos nomes que interessava Frank Lampard para compor a equipe dos Blues que, finalmente, podia contratar após duas janelas de transferência. Nesse sentido, a equipe londrina pagou cerca 53 milhões de euros pelo atacante alemão que, na época, vinha de ótimas temporadas com o Leipzig.
Werner passou quatro temporadas no RBL, estando presente em 159 partidas, nas quais marcou 90 gols e distribuiu 40 assistências. Dessa forma, o desempenho chamava bastante atenção. Assim como a pouca idade, uma vez que quando chegou a Londres o alemão tinha apenas 24 anos. Em outras palavras, o atacante combina qualidade de finalização e de posicionamento, assim como de visão de jogo e teto para evoluir ainda mais por conta da pouca idade.
No entanto, a mudança da Bundesliga para a Premier League não foi, ou melhor, não está sendo fácil. Mesmo não apresentando números ruins, principalmente se comparar a outros atacantes das principais ligas europeias, o alemão não atendeu às expectativas. Com isso, não apenas críticas são feitas ao jogador por parte dos torcedores e da mídia, em especial, mas também levou à perda de espaço por parte do camisa 11. Em suma, como resultado da soma desses fatores, existe a possibilidade de Werner deixar o Chelsea ao final desta temporada. O que talvez pudesse ser bom para ambas as partes.
Os desafios do futebol inglês
Pelo valor pago ao Leipzig e por tudo que vinha demonstrando tanto na Bundesliga como nas aparições com a Seleção alemã, Werner chegou com grandes expectativas sobre si. Em um momento em que o time estava passando por um processo de renovação, o alemão parecia ser uma boa adição ataque que, no geral, era jovem e possuía bastante qualidade. Ainda mais, porque podia atuar como um atacante centralizado ou como ponta – demonstrando tanto versatilidade como mobilidade.
Em sua temporada de estreia pelo Chelsea, na Premier League 2020/21, o camisa 11 fez 35 aparições, sendo titular em 29 oportunidades. Nesse ínterim, marcou seis gols e distribuiu oito assistências em 2603 minutos jogados na competição. No entanto, há algum tempo olhar apenas para os números é algo um pouco limitado. É importante, também, analisar a qualidade das chances, nesse caso, criadas pelo atacante. Em suma, isso significa observar o que é esperado pelos números que ele apresentou e se o que ele realizou se concretizou.
Nesse sentido, Werner teve 2.76 finalizações e 1.24 passes que levaram à finalizações por 90 minutos. Em outras palavras, ele finalizou quase que três vezes por partida e dava pelo menos um passe que gerava uma finalização de seus companheiros. Dessa forma, com essas médias, segundo o understat.com, era esperado que o alemão fizesse 13.43 gols. e desse 6.67 passes que levassem à finalizações – de forma mais concreta: 13 gols e 6 assistências.
Com isso, é possível perceber que a quantidade de gols que o camisa 11 marcou no campeonato inglês foi menor do que o esperado. Porém, ao mesmo tempo, ele contribuiu mais com passes que poderiam gerar ou que geraram gols do que o esperado.
A temporada mais azarada da carreira
Apesar do desempenho aquém do esperado no quesito de balançar as redes, a criação de chances para os companheiros foi uma boa surpresa para a equipe. Em suma, Werner foi o jogador que mais contribuiu diretamente para gols no Chelsea durante a temporada 2020/21 da Premier League. Somando os gols e as assistências, então, foram 14 participações diretas em gols.
Ainda assim, o baixo número de gols do camisa 11 chamou bastante atenção. Principalmente, levando em conta que, durante o campeonato, ele marcou muitos gols que foram anulados por conta de impedimentos. Sendo assim, já no fim da campanha Werner comentou, após o jogo da última rodada contra o Aston Villa, sobre ser a temporada mais azarada de sua carreira.
Só que vai muito além de falta de sorte. Por mais que o posicionamento seja um fator de destaque dentre as qualidades de jogo do atacante dos Blues, isso não se mostrou durante a temporada de estreia em Londres. Por mais que muitas vezes fossem decisões para o VAR, algumas vezes era nitidamente um caso de mau posicionamento em campo.
No total, então, foram 41 bandeiras de impedimento levantadas para o jogador – a maior marca de toda a liga. Mais ainda, por vezes, o alemão perdeu chances claras de gol – muito por afobação e até mesmo mau posicionamento, no sentido de que estava mal colocado para finalizar. Com isso, das 59 finalizações totais do atacante na Premier League na temporada passada, apenas 32 foram no alvo e oito foram convertidas, o que dá cerca de 10% de conversão das finalizações.
E mesmo assim, ele foi o jogador que mais contribuiu diretamente para gols na equipe.
Desempenho nas Copas Nacionais
Por conta da configuração das copas nacionais e da pouca utilização dos titulares, em especial na fase inicial, Werner não teve tantas participações em jogos da Copa da Inglaterra ou da Copa da Liga Inglesa. Ainda assim vale a pena destacar seus números.
Na FA Cup, foram quatro aparições e todas como titular. Sendo assim, o camisa 11 finalizou oito vezes, sendo três delas no alvo. Além disso, marcou um gol e deu uma assistência na competição. Portanto, sua taxa de conversão de finalizações foi de 13%. Por outro lado, na Copa da Liga ele participou de apenas uma partida, na qual jogou os 90 minutos, finalizou duas vezes e marcou um gol – com isso tendo uma taxa de conversão de 50%.
Apesar de serem apenas cinco jogos, é possível perceber que, no geral, os números são muito parecidos com os da performance no campeonato inglês no sentido de conversão de chances, principalmente. Combinando as performances das duas competições, a taxa de conversão seria de ,aproximadamente, 20%. Por mais que a combinação desses dados seja uma situação hipotética, ainda demonstraria uma insuficiência.
20% de chances convertidas para um atacante é um número um tanto baixo. Mais ainda, para um atacante que era o jogador com mais participações em situações de gol na temporada. Dessa forma, a tendência do desempenho abaixo do esperado se manteve, também, nas copas nacionais. Mais uma vez, hipoteticamente, é possível que se o número de jogos disputados pelo Chelsea em copas fosse maior, a porcentagem de chances convertidas de Werner poderia ter sido menor – levando em conta a performance geral do jogador, à princípio, no campeonato inglês de 2020/21.
Outro panorama na Liga dos Campeões?
É inegável que a intensidade e o nível que a Premier League demanda são bastante diferente daqueles de outras Ligas na Europa. Nesse sentido, até faz um pouco de sentido ver, na temporada de adaptação, números abaixo daqueles esperados para Timo Werner no Chelsea.
Contudo, na Champions League o formato é outro, os adversários são outros e, consequentemente, o nível da competição é outro. Isso, claro, não significa que o nível é mais baixo. Até porque na competição europeia entram os melhores times das principais ligas. A grande questão é que, em grande parte das partidas na UCL, os Blues enfrentam times de outras ligas, que tem estilos de jogos diferentes daquele que sobressai na Inglaterra – um jogo mais intenso e disputado.
Além disso, o alemão já tinha participado da competição com o RBL. Ou seja, fora à adaptação aos Blues (equipe), não seria algo inédito para o atacante estar jogando na Liga dos Campeões.
Os números em azul
Enfim, o camisa 11 participou de 12 dos 13 jogos que o Chelsea disputou na campanha que levou ao bicampeonato europeu. Sendo titular em 10 oportunidades. Em suma, ele acumulou 814 minutos jogados na competição, marcando quatro gols e dando duas assistências. No total, foram 21 finalizações (14 delas no alvo). Com os quatro gols marcados, então, a taxa de conversão de finalizações foi de 19%.
Ainda é complicado comparar com o campeonato inglês em termos de desempenho, não apenas pelas diferenças das competições, mas também pela quantidade de jogos. Porém, é válido destacar um aspecto nas performances do jogador na competição europeia: foram 66% das finalizações no alvo. Enquanto na liga inglesa foram 54% durante a temporada.
Sendo assim, vale destacar a movimentação de Werner no gol de Kai Havertz que deu o título para o Chelsea. O camisa 11 se desloca para a ala esquerda, chamando a atenção da marcação de Rubén Dias enquanto Mount, que conduziu a bola, atraiu a marcação de Gundogan, John Stones e Kyle Walker. Com isso, Havertz sobra sozinho no buraco deixado pela defesa do Manchester City.
Zinchencko até tenta chegar para marcar o camisa 29, mas, como sabemos, não deu muito certo. Enfim, sem a movimentação de Werner, provavelmente, Dias estaria em linha e impediria a conclusão da jogada do gol. Nesse lance, enfim, é nítida a qualidade de posicionamento que o atacante falhou em demonstrar tantas vezes durante a temporada.
A temporada atual
Para 2021/22 uma grande mudança aconteceu na equipe comandada por Thomas Tuchel: Romelu Lukaku. Muito se falou durante a última temporada sobre a necessidade de um centroavante para o Chelsea – apesar de Tammy Abraham, que, com a chegada do belga, deixou Londres rumo à Roma.
Com a chegada do atual camisa 9 dos Blues, Werner perdeu espaço no time titular. Dessa forma, o alemão tem atuado menos minutos. Até o momento, a equipe disputou 28 partidas no campeonato inglês e o camisa 11 só esteve presente em 14 delas, sendo titular em apenas oito oportunidades. Nesse sentido, são 737 minutos jogados e apenas com apenas um gol e uma assistência.
De forma mais específica, são 2.82 finalizações por 90 minutos e 0.24 passes que levaram à finalização nesse mesmo tempo. Com esses números, esperava-se 2.97 gols marcados e 0.09 passes que terminaram com chute ao gol de acordo com o understat.com. Mais uma vez a tendência se repete: número de gols abaixo do esperado e chances criadas acima do esperado. Com apenas um gol marcado na Premier League até aqui, portanto, a taxa de conversão do alemão é de apenas 9%.
Nas copas nacionais as tendências também se mantém. Na FA Cup, são quatro finalizações e dois gols marcados (50% de conversão), enquanto na Copa da Liga são cinco finalizações e apenas um gol marcado (20% de conversão). Além de duas assistências na Copa da Inglaterra. Mais uma vez, em uma situação hipotética de combinação dos dados das duas copas, seriam nove finalizações e três gols, dando uma taxa combinada de 33% de conversão.
Destaque nas noites europeias
Na Liga dos Campeões, por outro lado, o desempenho do camisa 11 chama atenção. São quatro aparições (duas como titular) e 162 minutos jogados. Soma-se a isso, quatro finalizações, todas no alvo, e três gols marcados. Dessa maneira, a taxa de conversão de Werner nesta temporada da UCL é de 75%. Mais ainda, indica que ele marcou um gol a cada 54 minutos que jogou na competição até aqui.
Por conta do formato que a Champions segue e o estágio que o Chelsea está no momento (quartas de final), é importante manter essa forma. É possível que o minutos em campo sigam reduzidos, mas o atacante alemão, quando estiver em campo, deve buscar seguir fazendo a diferença. Porque, agora, isso é o que pode significar uma classificação ou uma eliminação.
Logo, Turbo Timo, apesar de tudo, pode vir a ser uma peça importante para os Blues, mais uma vez, na competição europeia. Faz-se necessário que ele consiga se aproveitar de seus atributos e ajudar a promover a mobilidade do ataque quando estiver em campo. Exatamente o que levou a equipe à conquista da orelhuda na última temporada.
E tudo isso é motivo para saída?
Por vezes jogadores ainda entregam boas performances e assumem papel de liderança em equipes, mas seu vínculo com o clube está desgastado e a transferência aparece como boa opção. Esse não é o caso de Timo Werner, no entanto. Só que, ao mesmo tempo, não é possível dizer que ele é nulo na equipe. Sim, seu desempenho geral é bem abaixo do que o esperado e o papel que ele exerceu foi muito diferente do que se imaginava quando foi contratado. Mas isso, por si só, ainda não seria motivo para que o alemão deixasse o clube.
O contrato do camisa 11 vence apenas em 2025. Ou seja, ao término da temporada atual, seriam mais três temporadas de vínculo com o time londrino. E a longa duração do contrato, por sua vez, se deve às expectativas criadas e ao impacto que esperava-se que o atacante iria criar no time. Porém, não aconteceu da forma como o esperado. A adaptação ao futebol inglês não aconteceu e, ao que parece, não acontecerá. Isso acontece, existem jogadores que não se adaptam a certos estilos de jogo predominantes em algumas ligas e acabam não dando certo. A qualidade, sem dúvidas, existe. Mas o estilo não encaixa com o que a liga demanda.
Com as dificuldades de adaptação e com os baixos desempenhos em campo, o jogador perdeu espaço na equipe e, para um jogador ainda jovem, isso faz a diferença. Ainda mais em ano de Copa do Mundo, quando todos querem performar em mais alto nível para ter a chance de ser convocado. Mesmo que Werner continue no Chelsea, é quase certeza que ele irá para o Catar com a Seleção alemã. Contudo, talvez tenha menos chances de titularidade ou de atuação durante a competição justamente por causa da pouca minutagem no clube.
O peso da seleção
Na última data FIFA, Timo Werner esteve junto a sua seleção para disputar amistosos contra Israel e Holanda. No primeiro deles, contra Israel, ele foi titular e marcou um dos gols da vitória por 2-0. Além disso, o camisa 9 da Alemanha marcou um outro golaço, porém, estava impedido – mais uma vez demonstrando que o problema de posicionamento está indo muito além da questão da adaptação.
Ao final da partida, o atacante deu uma entrevista onde se abriu e disse que se sente mais confortável jogando com sua Seleção do que com seu clube:
“Eu realmente amo jogar futebol, não importa onde eu esteja jogando. Mas existem diferenças entre o estilo de jogo entre o Chelsea e aqui [Seleção]. Talvez o da Seleção seja melhor para mim. Aqui, tenho chances de marcar gols, eu posso marcar gols. Me sinto confortável aqui“.
O futebol alemão, assim como os de outros países, tem um estilo muito específico. Nesse sentido, baseado na organização tática e na imposição física sobre os adversários. Por outro lado, o estilo de jogo ao qual ele está exposto na Premier League demanda a intensidade, como já dito, mas também muita atenção. O jogo inglês, no geral, tende a ser muito objetivo, no sentido de chegar ao gol o mais rápido possível.
As performances de Werner tanto no Sttutgart como no Leipizig demonstram a familiaridade dele com estilo de jogo alemão, óbvio, já que é o estilo no qual ele foi formado. O próprio treinador do Die Mannschaft, Hansi Flick, já exaltou o atacante do Chelsea e demonstrou ter fé nele. Tanto é que, desde que assumiu o comando, tem convocado Werner constantemente, além de ter marcado seis gols em oito jogos.
No fim das contas, ambos os lados podem ter ganhos
Exatamente o contrário do que acontece no Die Mannschaft acontece no Chelsea: Werner não se adaptou à Liga e tem muitas dificuldades de encaixar no estilo de jogo proposto pelo campeonato inglês. Mais ainda, não tem mais tanto espaço na equipe de Tuchel. Ou seja, para o atacante alemão a transferência parece uma ótima oportunidade para jogar mais em uma grande liga onde ele, com certeza, será um dos destaques.
Mas, do ponto de vista do clube londrino, a saída do camisa 11 também pode ser favorável. Em primeiro lugar, por conta do dinheiro da transferência. No momento os Blues não podem realizar compras ou vendas de jogadores, porém, com a conclusão do processo de venda, na abertura da janela de transferências de verão europeu já poderá o fazer. E, de acordo com o Sport1, o clube estaria disposto a ouvir uma proposta pelo atacante, com o preço girando no entorno de 40 milhões de euros.
Além disso, Werner é o quarto jogador mais bem pago do elenco, recebendo cerca de 16 milhões de euros por ano. Com a transferência, esse espaço de salário se abriria para, por exemplo, renovar contrato de outros jogadores como Antonio Rüdiger que, atualmente, é um dos jogadores mais importantes no sistema da equipe. Assim como pode servir para pagar salários de novas contratações, caso ocorram.
Por isso, o Chelsea não vê com maus olhos uma transferência do atacante.
Nesse sentido, um dos interessados é o Borussia Dortmund. O BVB pode ver sua grande estrela, Erling Haaland, deixar o clube no verão e Werner pode ser um dos nomes para substituí-lo. Porém, ainda são rumores, uma vez que os auri-negros também estão de olho em Karim Adeyemi, do Red Bull Salzburg. Custa aguardar para ver o que Turbo Timo decidirá sobre seu futuro na intertemporada.