O Chelsea dessa temporada mescla momentos de puro orgulho e esperança, com momentos de frustração e sensação de que falta alguma coisa. É normal. Uma temporada de transição, dando chance para jovens até mesmo na comissão técnica. Lampard é o treinador mais novo da Premier League e vem fazendo um bom trabalho, porém, em Londres a cobrança é alta, e a torcida começa a exigir vitórias contra equipes mais fortes também.
Apesar das derrotas, o time costuma cair de pé. Jogando bem e mantendo suas convicções de jogo. É necessário acreditar no processo, dar tempo para a implementação dessa nova filosofia de trabalho e dar tempo para o desenvolvimento dos novos jogadores e do treinador, que parece estar muito focado em transformar o Chelsea em uma das grandes potências europeias novamente.
Primeiro Tempo: Qual é o objetivo da temporada?
Essa pergunta não é tão simples de ser respondida. Um clube como o Chelsea costumeiramente entra na Premier League com o objetivo de ser campeão. Porem, essa temporada, aconteceram baixas significativas e de difícil reposição, uma vez que o time não podia fazer contratações.
Perder Hazard e Maurizio Sarri foram duros golpes em um processo que vinha se desenvolvendo no Chelsea desde a temporada passada. O Sarribol estava sendo lentamente implementado, e ganhou uma forma melhor somente nas últimas partidas do treinador, coroados com um título e uma terceira colocação na liga. Vaga para a Champions garantida e nosso craque voando. Hazard fez sua melhor temporada em números com a camisa Blue, sob o comando do italiano.
Porém, surgiram propostas da Juventus e do Real Madrd. Sem poder contratar e sem o apoio completo da diretoria, Sarri achou mais sensato voltar para a Itália. Já Hazard, foi viver o sonho de vestir a camisa que sempre quis. Fim da história para os dois no Chelsea.
A partir daí, a diretoria se viu em uma posição complicada. Sem poder trazer reforços, sem treinador e sem o craque do time, a solução foi quase que 100% caseira. Apostou na base do clube, jogadores que estavam emprestados e colocou um ídolo do time para comandar. Frank Lampard chegou de um trabalho bom no Derby County, mas chegou principalmente pelo nome e a história que tem no Chelsea. Seria um exemplo para os jovens jogadores, e teria a missão de prepará-los para uma temporada difícil na elite do futebol mundial.
Então, dificilmente, a diretoria exigiria de Lampard um desempenho sensacional logo nessa primeira temporada. Montar um time digno e competitivo, desenvolvendo os jovens talentos e buscando uma vaga para a próxima Champions League, além de criar um sistema de jogo bom, com espaços para encaixar jogadores mais preparados no futuro, parece ter sido o objetivo do time no ano.
E Lampard vem desempenhando isso muito bem. O time está cheio de jovens, que ganham mais valor de mercado a cada mês. Jogadores ingleses como Mount e Tomori, vem sendo convocados para a seleção principal, e ganhando cada vez mais espaço no time titular do Chelsea. Abraham é um dos artilheiros da Premier League e já marcou com a camisa da Inglaterra. Reece James é outro que apareceu essa temporada e vai ganhando espaço.
A equipe também faz um campeonato inglês muito digno. Um futebol bem jogado que encanta os fãs, e evolui com o passar do tempo. Houveram tropeços no início, que não vem acontecendo mais. O Chelsea venceu 8 partidas perdeu 3, e está seguro na 4ª colocação, brigando até com o segundo colocado Leicester. Se seguir assim, deve garantir um lugar na próxima Champions League sem muitos sustos.
Na competição europeia também demonstrou evolução. Após perder a primeira partida, conseguiu duas vitórias e um empate. Depende só de si para chegar à próxima fase.
Na Copa da Liga caiu para o United, e é ai que vem a segunda parte dessa análise…
Segundo Tempo: Jogos contra os grandes
A temporada começou com duas derrotas. Um sonoro 4×0 aplicado pelo Manchester United logo na estréia da Premier League e uma derrota nos pênaltis para o Liverpool na Super Copa da UEFA, após um empate por 2×2.
Depois disso, dois empates e duas vitórias contra times de menor expressão, pela Premier League.
Em seguida, novos desafios maiores. Valencia pela Champions League e Liverpool, pela Premier. Duas derrotas em casa, 0x1 e 1×2.
Um péssimo cenário só não parecia ser instaurado, pois o time jogava bem. Havia a esperança de um sistema de jogo ofensivo, e a confiança de Lampard nos jovens cativava não só a torcida, como os próprios atletas, que mostraram serviço.
Logo após as duas derrotas, o Chelsea cresceu de produção, e emplacou 7 vitórias seguidas, jogando muito bem e superando dois adversários na Champions League, o Ajax na Holanda parecia indicar que o time aprendeu a vencer jogos maiores.
Porém, novos jogos maiores apareceram, e novas derrotas. Aquele 2×1 para o United na Copa da Liga e o recente 2×1 para o City na Premier League, além de um 4×4 em casa com o Ajax, em um jogo maluco que chegou a ficar 4×1 para os holandeses.
Enfim, o Chelsea está demonstrando enorme dificuldade em vencer os jogos maiores, contra equipes de maior expressão. Isso acontece por alguns fatores básicos como a superioridade técnica desses times com relação ao demais, o que faz com que seja mais difícil fazer gols e segurar na defesa, o estilo de jogo ofensivo de Lampard que deixa a defesa mais vulnerável, a pouca idade dos jogadores, que às vezes não tem a maldade de matar alguns lances, ou ficam nervosos em momentos de decisão.
O treinador também precisa aprender a lidar melhor com jogos grandes. É um jogo de estratégia, e é preciso anular as principais táticas do adversário e aprender a moldar o seu próprio cheque-mate.
Lampard sabe disso e com certeza está se dedicando para encontrar uma resolução para esses problemas. Ele é trabalhador e tem muita vontade de fazer o melhor pelo time que ama. Já demonstrou que não está preso às suas próprias ideias e quer modificar o time quantas vezes sejam necessárias para encontrar o melhor time e as melhores táticas para cada situação. Mais uma vez, acreditem no processo. Acreditem em Lampard.
Prorrogação: Antonio Conte, Kovacic e Kanté
Kovacic está jogando muita bola. Durante a ausência de Kanté, formou uma dupla muito entrosada com Jorginho. Os dois foram a origem das jogadas do Chelsea em muitos jogos. A evolução da dupla fez com que torcedores chegassem a questionar o espaço de Kanté na equipe, quando voltasse. Voltou.
Voltou mostrando por que não pode ficar de fora. O Kanté é um dos melhores meio campistas do mundo. Seja jogando preso como volante, à frente dos zagueiros, seja jogando um pouco mais a frente, participando da pressão na saída dos adversários, na saída de jogo em velocidade e na participação ofensiva. Mostrou isso nos gols contra Liverpool e Manchester City pela Premier League, jogos maiores em que chamou a responsabilidade da sua maneira.
É aquele “problema” grande que Lampard tem para resolver. Compondo um meio campo com os três, Mount sobra. E o inglês é um dos ícones do futebol ofensivo que o Chelsea vem jogando. Se movimenta, liga o meio e o ataque, dá profundidade ao time, opção nos lados, chutes de longe, enfim, é outra peça importante do time.
O que fazer para definir o meio campo ideal? A resposta, baseada no trabalho de Antonio Conte, é não definir um meio campo ideal.
Resgatando a temporada do último título do Chelsea, 2016/17, o time base era composto por:
- Courtois; Moses, Azpilicueta, David Luiz, Cahill, Alonso; Kanté, Matic (Fàbregas); Pedro, Hazard e Diego Costa.
Conte tinha Matic e Kanté funcionando muito bem como dupla, mas também tinha Fàbregas como o principal armador do campeonato. A solução foi alternar os dois. O espanhol foi considerado um décimo segundo jogador do time e o treinador sabia qual peça seria mais útil de acordo com o adversário que enfrentava.
Foram 29 jogos e 1328 minutos de Cesc Fàbregas, com 5 gols e 12 assistências. Matic fez 35 jogos, 2696 minutos com 1 gol e 7 assistências. Kanté também fez 35 jogos e atuou por 3139 minutos, com 1 gol e 1 assistência. Lembrando que apenas 2 desses 3 atuavam juntos normalmente. Ou seja, havia muito espaço para todos.
Além disso, esse time de Conte não disputava a Champions League. Tinha um calendário menos cheio e precisava rodar ainda menos o elenco. Lampard terá essa necessidade em mais oportunidades.
Esse pensamento pode ser determinante para que Lampard tenha sucesso com o elenco que tem em mãos. Saber em qual jogo usar Kovacic, Mount, Kanté, Jorginho e Loftus-Cheek, quando retornar. A temporada é longa e o elenco gira por si só, com lesões, suspensões ou na necessidade de poupar um jogador ou outro, mas saber encaixar o melhor meio campo par determinados jogos, pode ser a chave para a temporada, tendo um time com tantas boas peças.