Especial: quando o Chelsea veio ao Rio de Janeiro

Poucos sabem, mas o Chelsea realizou uma incrível viagem a América do Sul no final da década de 20 (Foto: Chelsea FC)
Poucos sabem, mas o Chelsea realizou uma incrível viagem à América do Sul no final da década de 20 (Foto: Chelsea FC)

Antes da final da Copa do Mundo que acontece amanhã, o Chelsea Brasil traz um especial feito pelo site oficial do Chelsea que conta a história de um tour pós-temporada feito pelos Blues na América do Sul, incluindo o Brasil, 85 anos atrás.

A temporada 1928-29 passou longe de ser memorável para o Chelsea, com um nono lugar na antiga segunda divisão inglesa, a pior colocação em cinco anos consecutivos. Entretanto, se a campanha não foi nada além de mediana, o tour realizado no fim desta temporada foi algo completamente diferente.

Foi decidido, provavelmente pelo presidente William Claude Kirby, ou o proeminente diretor Coronel C.D. Crisp, que o time se aventuraria pela América do Sul para enfrentar grandes times de Argentina, Uruguai e Brasil. O tour durou, no total, três meses, dos quais dois foram gastos em viagens.

O alto escalão de Stamford Brigde queria divulgar o time numa terra em que o futebol britânico já havia chamado atenção positiva: alguns clubes ingleses e escoceses já haviam embarcado em empreitadas similares naquela parte do mundo. A oportunidade era boa: as bonificações para jogar  eram generosas, e a viagem longa seria boa para manter os jogadores em forma, além de unidos.

O treinador David Calderhead não viajou, fazendo com que Jack Whitley e Harrow dividissem o cargo, embora fosse provável que Kirby e Crisp também estivessem envolvidos nas decisões de escalação. O navio que levou a equipe do Chelsea, RMS Asturias, chegou no Rio em 16 de maio de 1929: no topo do Corcovado, o Cristo Redentor estava acabando de ser construído.

A viagem para o continente americano foi longa, porém vista como positiva (Foto: Chelsea FC)
A viagem para o continente americano foi longa, porém vista como positiva (Foto: Chelsea FC)

Na chegada, a equipe se dirigiu à Argentina, onde jogou um total de dez jogos, antes irem rumo a Montevideu, Uruguai, que havia conquistado a  medalha de ouro nas Olimpíadas de 1928. A capital, no ano seguinte sediaria a primeira Copa do Mundo.

A parte final da jornada seria no Brasil. A nossa primeira partida foi contra um “Carioca All-Stars”, ocorrida no estádio da Rua Guanabara, casa do Fluminense na época. A partida, começando às 22:00, implicou no primeiro jogo do Chelsea sob holofotes. Os Pensioners de Londres tomaram a dianteira no começo da partida com William Jackson, mas apesar de dominar boa parte do jogo, tomaram o empate faltando dez minutos para o fim da partida. Dois dias depois enfrentaram o mesmo time, dessa vez perdendo por 2-1.

A próxima parada era São Paulo, passando a noite no trem. Jogando no estádio do Palmeiras contra o time mais famoso da cidade, o Corinthians,  fomos o primeiro clube inglês a jogar naquele local. E que jogo! O Chelsea abriu uma vantagem de três gols, seguido de uma virada incrível para 4-3. Sid Elliot, então, fazendo uma partida espetacular terminar empatada, com quatro gols para cada lado.

Houve mais um jogo no Brasil – uma derrota de 3-1 para o All-Star de São Paulo -, antes do Chelsea retornar ao velho continente. Foram 16 partidas em 44 dias na América do Sul – cinco vitórias, três empates e oito derrotas. Foi nesta saga que o Chelsea ganhou, talvez, a mais exótica dentre as suas alcunhas, “Los Numerados”, uma alusão às camisas numeradas, com as quais os atletas jogavam: só após dez anos este hábito foi incorporado na Inglaterra.

A viagem teve reações diversas entre a alta hierarquia do clube. O presidente Kirby descreveu os sul-americanos como “mestres do jogo tático”. Ele também elogiou o estilo e o controle de bola vistos, talvez uma consequência das incríveis instalações esportivas que muitos times amadores possuíam.

O diretor Kirby, entretanto, não fez tantos elogios. Ele se queixou à FA sobre “arbitragem muito ruim”, “multidões descontroladas” e “temperamento latino”. Isso se aplicou especialmente aos jogos ocorridos em Buenos Aires, onde jogadores do Chelsea foram atacados por torcedores adversários, jogadores, e, em uma ocasião, pelo próprio juiz.

Alguns meses depois, todas as associações britânicas formalmente recusaram a oferta de competir na Copa do Mundo de 1930 no Uruguai. Ainda haveriam 20 anos antes da Inglaterra participar de competições globais.

Para o Chelsea, a história sugere que a viagem foi um triunfo: após seis anos sucessivos na segunda divisão, os Pensioners foram promovidos à primeira divisão no fim da temporada 1929-30. Parece que os três meses de viagem ajudaram a formar um espírito de equipe, além de ajudar a ampliar a percepção futebolística dos viajantes, que testemunharam um lado mais técnico e menos físico do jogo.

O futebol é hoje um esporte global – provavelmente mais de um bilhão de pessoas irá assistir à final da Copa do Mundo -, mas no fim da década de 20, a experiência de viajar para locais distantes era algo relativamente novo. E assim, o Chelsea retornou com a sua sabedoria aumentada dentro e fora de campo, com um sentimento de novo começo, que serviria bem ao clube nos anos anteriores à guerra.

Category: Conteúdos Especiais

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Article by: Chelsea Brasil

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