Esqueça a eliminação na Champions League. Neste final de semana, Chelsea e Southampton estarão frente a frente mais uma vez. No primeiro turno, o time de José Mourinho foi até o St. Mary’s Stadium e conseguiu apenas um ponto. Os Saints abriram o placar no início da partida e seguraram bem os Blues, mas sofreram o empate nos últimos minutos da primeira etapa. O Chelsea voltou melhor após o intervalo e dominou a maior parte das ações do jogo, porém, não marcou.
Na véspera daquele jogo, o Chelsea Brasil preparou um especial apontando virtudes e fraquezas do time de Ronald Koeman. Agora, é hora de analisar friamente a partida a fim de observar aquilo que deu certo e tentar corrigir os erros.
Para começar, é bom relembrar quem esteve em campo com a camisa azul naquele dia. O 4-2-3-1 é o mesmo, mas as peças foram diferentes. Courtois foi o goleiro; a linha de defesa teve Ivanovic, Cahill, Terry e Filipe Luís; Mikel e Matic foram os volantes, Fàbregas era o meia centralizado, Hazard jogou aberto pela esquerda e Schurrle pela direita; Diego Costa comandou o ataque.
O Southampton abriu o placar aos 16 minutos do primeiro tempo em uma jogada que alertamos no especial. Como dito antes, é importante saber pressionar os Saints, porque nem sempre eles fazem a saída de bola com passes curtos. Frequentemente, eles se utilizam da ligação direta para Pellè disputar no alto. Foi o que aconteceu no lance do gol. Observe a imagem abaixo.

Note como o Chelsea não está organizado defensivamente. Mikel e Filipe estão longe da jogada, Mané está livre e Terry parece perdido. Do outro lado, o ótimo posicionamento de Pellè – entre o zagueiro (Cahill) e o volante (Matic) – causa uma instabilidade na defesa e abre espaço. Pronto, está desenhado o gol do Southampton. Forte fisicamente, o atacante ganhou de Matic e Cahill e escorou para Tadic, que lança Mané nas costas de Cahill para apostar corrida com Terry. Mais veloz, o senegalês ganhou a bola e mandou pra rede.
Depois do gol, os donos da casa se fecharam e complicaram o jogo do Chelsea. Com onze jogadores atrás da bola, o Southampton utilizava os atacantes (Pellè e Mané) para dificultar a saída de bola dos volantes blues (Matic e Mikel).

Como o sérvio e o nigeriano não são grandes passadores, a saída de bola não era frutífera. Os passes dos volantes buscam as laterais e o Chelsea tinha imensa dificuldade para iniciar suas jogadas pelo centro do gramado. Faltava alguém com visão de jogo e qualidade técnica para tal. Fàbregas, fonte de técnica e principal articulador do time, jogava avançado.

Percebendo o problema, o espanhol recuava até os volantes para receber a bola e iniciar as ações ofensivas. Porém, quando ele fazia isso, faltava alvo no campo de ataque para recebê-la, principalmente na zona central. É o famoso “cobertor curto”: quando cobre uma parte, descobre a outra.

Uma boa alternativa seria ter os jogadores de lado procurando o centro do campo, o que não aconteceu. Na direita, Schürrle fez uma partida apagadíssima, ficou muito restrito ao lado do campo e pouco tocou na bola. No outro lado, Hazard até se movimentou, mas faltavam opções para trabalhar com ele. A imagem abaixo mostra os toques na bola de dos dois jogadores no primeiro tempo e comprova que faltou movimentação no ataque.

Sendo assim, a única opção para o Chelsea era os lados do campo. Como o direto contava com Ivanovic, um lateral prioritariamente defensivo, e o apagado Schurrle, o time de Mourinho forçou muito o jogo pela esquerda. Por ali, além de Hazard e Filipe Luís, chegavam também Fàbregas e Matic. Com esses quatro jogadores os Blues tentaram criar oportunidades de gol, esbarrando no ótimo bloqueio defensivo armado por Koeman – que não a toa tem a defesa menos vazada da Premier League.
Quando os Blues apostavam tudo no setor esquerdo, surge o gol de empate em uma ligação direta. E ele foi muito parecido com o tento do Southampton. Diego Costa recebeu a ligação direta, puxou a marcação e escorou para Fàbregas, o espanhol lançou Hazard no espaço vazio e o belga concluiu em gol. Vale destacar o posicionamento de Cesc, de frente para o gol, diferente do que acontece na maioria das jogadas quando ele é o meia centralizado.

No intervalo, o Special One fez a substituição que mudou completamente a cara do Chelsea: trocou Schürrle por Willian. Teoricamente, o brasileiro foi jogar aberto pela direita, mas não tinha posição fixa. Sua principal contribuição foi ajudar na saída de bola. Diferentemente do alemão, Willian encostava nos volantes e iniciava os ataques do time, liberando Fàbregas para ficar à frente e trocar passes com Hazard, Diego Costa e com o próprio Willian, claro.
Dessa forma, o Chelsea cresceu muito. Mourinho melhorou a saída e o desempenho ofensivo com apenas uma substituição. Se o lado esquerdo já era perigoso com quatro homens, ficava ainda mais com a aproximação de Willian – tanto que Koeman trocou seu lateral direito por um zagueiro para combater aquele lado do ataque azul.
O time cresceu, dominou o segundo tempo, encurralou o Southampton no campo de defesa, mas vitória não veio. Mesmo assim é possível tirar ensinamentos positivos da partida e destaco três delas.
Primeiro: Fàbregas é o tipo de jogador que pensa o jogo, por isso rende mais quando joga logo à frente da defesa. Ali ele ajuda na saída de bola, tem mais espaço e tempo para jogar e enxerga melhor a partida. Mais adiantado, muitas vezes ele recebe a bola de costas para o gol, dificultando a criação de jogadas.
Segundo: quando o Chelsea jogar com Matic e Mikel na volância, é quase certeza que terá dificuldades na saída de bola. Ambos não são jogadores criativos – como Fàbregas – e muito menos jogadores velozes, de condução de bola – como Ramires. Se quiser escalar a dupla, é bom Mourinho pensar em alternativas, como essa utilizada contra os Saints. Por outro lado, são ótimas opções para quando o português quiser fechar o time.
Terceiro: a movimentação do trio de meias – e até do atacante – é fundamental e indispensável. Isso já se aplica a qualquer equipe de alto nível, mas, no Chelsea, merece ainda mais atenção por conta dos laterais. Os titulares (Ivanovic e Azpilicueta) são jogadores de características mais defensivas, que não ocupam tanto o campo de ataque. Mesmo que ainda não tenha se firmado, Filipe Luís merece mais oportunidades por oferecer algo diferente.