Historicamente, o Arsenal ainda leva alguma vantagem no confronto direto com o Chelsea, são 71 vitórias dos Gunners contra 59 dos Blues, além de 54 empates. Mas, de 2004 para cá, o jogo mudou e o cenário é de ampla dominância azul em Londres. Desde então, são 16 vitórias do Chelsea, oito empates e apenas seis derrotas. Nessa toada, em breve passaremos o rival, e, mesmo assim, não dá para negar que hoje retomamos o posto de maior e mais amado clube de Londres, que já havia sido nosso no passado.
Porém, por mais que os números mostrem uma supremacia do Chelsea nos últimos anos, a rivalidade não diminuiu, pelo contrário, cresceu na mesma proporção do sucesso dos Blues, principalmente desde a chegada de José Mourinho à Inglaterra. Isto porque ele e Arsène Wenger não se entendem e, mais do que isso, parecem se detestar.
Com isso, a rivalidade passou a esquentar em campo, na beirada dele e também fora, com torcedores trocando farpas pelas redes sociais, entoando cantos de ódio e incitando os adversários.
Alguns episódios surgem mais facilmente na lembrança, como a épica briga entre Frank Lampard e Cesc Fàbregas, que, à época, vestia vermelho ainda. Era final da Copa da Liga e o jogo era quente, com disputa ríspidas e até mesmo violentas, motivadas ou não pelas trocas de farpas de Mourinho e Wenger durante a semana.
Em uma forte dividida entre Kolo Touré e John Obi Mikel, Fàbregas e Lampard resolveram tomar as dores de seus colegas e se estranharam no meio de campo, com o espanhol chegando a agarrar o inglês pelo pescoço, que devolveu com um tapa na nuca, e tudo mais. Briga feia. Curiosamente ambos continuaram em campo, já que o juiz expulsou Touré e Mikel pelo lance inicial.
O Chelsea acabou levantando a taça, mas a briga marcou ambos os jogadores, que todas as vezes que se encontraram depois disso, trocaram provocações e sutilezas em campo, inclusive no famoso duelo pela Champions League de 2011/2012 contra o Barcelona de Fàbregas.
Veja fotos e um vídeo da rixa entre os dois:
Outro duelo que nos vem a memória é entre Mourinho e Wenger, que como dito, nunca se gostaram. Para aumentar a rivalidade entre ambos, o francês nunca conseguiu vencer o Special One, mesmo tendo se enfrentando várias vezes. Tudo começou lá em 2004 com Wenger criticando o estilo de jogo de José Mourinho repetidamente, chegando a afirmar que as táticas do português eram “um perigo para o futebol”, o que acabou por levar a esta declaração de Mourinho:
“Wenger tem um problema sério com a gente, ele é o que se pode chamar de ‘voyeur’. Ele gosta de vigiar a vida dos outros. Algumas pessoas, quando chegam em casa, têm um grande telescópio para poder bisbilhotar a casa do vizinho e ver o que está acontecendo. Wenger deve ser um deles, isso é uma doença”.
Depois disso, as coisas ficaram sérias entre eles, com Wenger afirmando que Mourinho não fazia bem ao futebol inglês, criticando duramente a conquista da Premier League do Chelsea em 2004/2005, chegando a sugerir que o time azul não merecia a taça. Nesta época ambos trocavam ofensas pessoais, como esta de Mourinho:
“Wenger é um descontrolado, desconectado com a realidade e desrespeitoso. Quando você dá o sucesso a pessoas estúpidas, muitas vezes elas se tornam ainda mais estúpidas, ao invés de mais inteligentes”.
Todavia, nós sabemos que as coisas ficaram realmente descontroladas com a volta de Mourinho em 2013 à Stamford Bridge. A velha briga entre os dois reacendeu e eles voltaram a trocar farpas. Wenger disse que Mourinho se preocupava de mais com as vitórias, dizendo que ele era um obcecado e que fazia o Chelsea passar vergonha por seu “medo de falhar”. Mourinho respondeu:
“Ele (Wenger) é um especialista em fracassos. Eu não. Se supostamente ele estiver certo e eu tiver medo de falhar, é porque eu não falho com frequência. Mas a verdade é que ele é um especialista. Oito anos sem ganhar uma taça: isto é um fracasso. Se eu faço com o Chelsea o que ele fez com o Arsenal, ficar oito anos sem vencer um título, eu vou embora e nunca mais volto aqui”.
No jogo seguinte a estas declarações a situação chegou a seu ápice. Não vou nem explicar, deixo a tarefa para as imagens, que falam por si:
Dentro de campo
Com bola rolando, já vimos que o Chelsea tem um amplo domínio sobre o Arsenal na última década, mas três jogos se destacam mais do que os outros. Duas goleadas memoráveis, sendo que a última delas pode ser descrita com uma das maiores partidas das história do Chelsea. E uma semifinal de FA Cup, que posteriormente seria vencida pelo Chelsea.
Em abril de 2009 Chelsea e Arsenal se enfrentaram pelas semifinais da FA Cup envoltos em toda a rivalidade crescida nos anos anteriores. A partida disputada em Wembley reuniu mais de 88 mil torcedores, que viram o Arsenal abrir o placar logo aos 18 minutos, com Theo Walcott.
O jogo era difícil, mas o Chelsea conseguiu empatar aos 33 com Florent Malouda, que entre 2009 e 2010 jogou um grande futebol com a camisa 15 dos Blues. A partida foi truncada até que, aos 83 minutos, a parceria de maior sucesso da história dos Blues se fez mais uma vez presente. De Lampard para Didier Drogba. Um lançamento longo do inglês encontrou Drogba no ataque em velocidade, o marfinense ainda driblou o goleiro antes de marcar. Foi um dos mais famosos gols do africano com a camisa do Chelsea, que colocou os Blues na final contra o Everton. Mais tarde o time treinado por Guus Hiddink venceria a grande final e ficaria com a taça.
Veja abaixo o famoso gol de Drogba:
Um mês depois a as equipes voltariam a se enfrentar, desta vez pela Premier League. E o resultado foi uma goleada histórica: 4 a 1 para os Blues, com direito a gol brasileiro, do zagueiro Alex, de cabeça. A partida contou ainda com grandes atuações de Lampard e Nicolas Anelka. Veja os gols da partida abaixo:
Arsenal 1-4 Chelsea por ScotMunroe
Para finalizar o especial deste confronto, não podemos deixar de falar da, talvez, maior partida da história de Chelsea e Arsenal, do ponto de vista azul é claro. A partida aconteceu exatamente num dia 22 de março de 2014, em Stamford Bridge, lotado com exatos 41,614 presentes, dentre eles parte da equipe do Chelsea Brasil, que teve a honra de estar em Londres exatamente para este confronto.
Sim, meus caros, vocês se lembram bem de qual jogo eu estou falando. E se por acaso você é torcedor ou simpatizante do Arsenal e chegou até aqui, sugiro que não termine este texto, pode te trazer depressão profunda. Aquele domingo ensolarado na Inglaterra viu um acachapante 6×0 para os Blues, com direito a três gols nos primeiros 17 minutos, jogador de linha do Arsenal fazendo ponte para defender uma bola com as mãos, jogador errado expulso e dois gols brasileiros.
Não foi só um placar elástico, foi um baile em todos os sentidos, jogando por terra todas as críticas de Wenger ao futebol defensivo dos Blues. Samuel Eto’o abriu o placar aos cinco minutos e André Schürrle ampliou aos sete: o Arsenal nem conseguiu anotar a placa. Aos 17 Eden Hazad recebeu de Fernando Torres após boa roubada de bola de Oscar e finalizou, mas Oxlade-Chamberlain defendeu com a mão o chute, em cima da linha. O juiz marcou o pênalti, mas expulsou o jogador errado. Kieran Gibbs, parecido fisicamente com Chamberlain, foi expulso injustamente.
Hazard converteu a cobrança e tínhamos um 3×0 antes dos 20 minutos de jogo. Oscar ainda marcou dois gols, aos 42 e 66 minutos, coroando sua grande atuação na partida. Mohamed Salah fechou o placar com um gol aos 71, quando o Chelsea diminuiu o ritmo e praticamente descansou em campo.
Uma vitória para viver acesa na memória de todo torcedor azul por muitos e muitos anos por vir. Veja os gols da partida abaixo:
Fator Cech
Um dos maiores ídolos da história dos Blues, Petr Cech disputou 22 partidas contra o Arsenal, ganhando 15, perdendo três e empatando quatro, um recorde impressionante contra um rival, sendo que em muitas destas partidas o goleiro foi decisivo.
Contudo, ele está agora do outro lado, defendendo o lado vermelho de Londres e pode fazer sua estreia oficial exatamente contra o clube que ele defendeu e onde se consagrou aos longo dos últimos anos.
Certamente é um reforço e tanto para os Gunners na partida e na temporada, pois Cech, apesar de ter perdido a titularidade para Thibaut Courtois, ainda é um dos maiores goleiros do mundo. Se ele decidirá o confronto ou não, nós não sabemos, mas certamente será um dos principais atrativos do confronto.
