Análise Tática: Chelsea 3×1 Southampton – boas respostas de um time repleto de novidades

Foi com sofrimento, mas o Chelsea derrotou o Southampton por 3 a 1, em Stamford Bridge, e voltou ao caminho das vitórias após os tropeços recentes. Os três pontos conquistados recolocam os Blues na liderança da Premier League, após tropeços dos rivais na rodada.

A vitória, apesar de ter sido assegurada somente nos minutos finais, veio com boa atuação e vários destaques positivos em uma equipe com inúmeras figuras que não vinham jogando regularmente. Agora, para entender os caminhos que levaram a mais um resultado positivo da equipe, é hora da análise tática.

(Reprodução: Sky Sports)

Chelsea com muitas mudanças

Thomas Tuchel decidiu dar rodagem ao elenco e apresentou uma escalação bem diferente daquela que vinha sendo utilizada regularmente. A começar pela defesa, com Trevoh Chalobah recebendo mais uma oportunidade de começar entre os titulares, no lugar de Andreas Christensen.

No meio-campo, ainda com o desfalque de N’Golo Kanté, diagnosticado com Covid-19, Tuchel apostou em Ruben Loftus-Cheek – que já vinha entrando ao longo das últimas partidas – na vaga de Jorginho. Outro que também iniciou como titular pela primeira vez na temporada foi Ben Chilwell na ala-esquerda.

Já no setor de ataque, Mason Mount se recuperou de lesão e voltou a ser relacionado após desfalcar a equipe nos últimos compromissos, mas Tuchel optou por iniciar a partida com o inglês no banco. Assim, Callum Hudson-Odoi e Timo Werner ganharam as vagas ao lado de Romelu Lukaku, compondo um trio de ataque inédito na temporada.

(Reprodução: BBC)

No Southampton, por outro lado, a escalação foi praticamente a mesma do último jogo da equipe na Premier League. Theo Walcott e Adam Armstrong, que eram dúvidas para o jogo, iniciaram entre os titulares.

A surpresa ficou por conta da presença do jovem Nathan Tella, que fez apenas seu segundo jogo na atual edição da Premier League – o primeiro como titular –, entrando no lugar do camisa 10 Che Adams, o que indicava uma tentativa de explorar a velocidade pelo setor esquerdo do ataque no clássico 4-4-2 de Ralph Hasenhüttl.

(Reprodução: BBC)

Gol logo no início e bom controle do meio-campo

O jogo começou em alta intensidade, com ambas as equipes tentando subir a marcação para pressionar. Porém, logo aos 8 minutos, as novidades do Chelsea já fizeram a diferença: Chilwell cobrou escanteio, Loftus-Cheek escorou e Chalobah completou para o gol.

Chalobah completou de cabeça, na segunda trave, e abriu o placar para o Chelsea (Reprodução: Sky Sports)

Mesmo com o placar aberto, os donos da casa mantiveram a postura de pressionar, o que gerou dificuldades para os Saints. Kovacic, como já se tornou rotina na atual temporada, tomava conta do meio-campo na parte ofensiva e, na parte defensiva, perseguia Ward-Prowse, principal construtor dos visitantes.

Similarmente, Loftus-Cheek também participava ativamente do meio-campo. Sem a bola, dando combate e ganhando disputas físicas; com ela, tendo liberdade para se movimentar pelo campo todo e verticalizando o jogo.

Mapa de toques na bola de Loftus-Cheek mostra participação por todo o campo (Reprodução: Chelsea FC)

Werner participativo e lado esquerdo forte

Característica da equipe de Ralph Hasenhüttl, os visitantes tentavam encarar o Chelsea de igual para igual. Para isso, subiam a marcação e tentavam roubar na saída. No entanto, os Blues conseguiam sair da pressão e encontravam espaços.

Dessa forma, a bola chegava rapidamente ao ataque e Werner começava a se destacar pela participação ofensiva. Gerando muito jogo pelo lado direito, o alemão passou a levar perigo com a movimentação constante, que por vezes bagunçava o sistema de marcação dos visitantes.

O camisa 11 até chegou a balançar as redes no primeiro tempo, concluindo, de cabeça, bom cruzamento de Odoi, mas o gol foi anulado por falta de Azpilicueta no início da jogada. Pouco antes, Lukaku também havia feito um gol anulado pelo VAR, nesse caso, por impedimento do camisa 9, que recebeu belo passe de Rüdiger após grande jogada individual do defensor.

O zagueiro alemão, aliás, foi parte importante na construção do jogo ofensivo. Explorando os espaços gerados pela movimentação de Odoi e Chilwell, Rüdiger por vezes recebia com espaço e conduzia bem a bola ao campo de ataque.

Mapa de passes mostra circulação ativa da bola pelo lado esquerdo e Werner circulando e dando profundidade (Reprodução: 11tegen11)

Segundo tempo com mudança que surtiu efeito nos Saints

Observando os espaços que o Chelsea encontrava no meio-campo, Hasenhüttl decidiu reorganizar o seu setor  e lançou mão do volante Ibrahima Diallo na vaga de Walcott. Dessa forma, o 4-4-2 deu lugar ao 4-1-4-1, com Oriol Romeu sendo o homem entre as duas linhas de quatro e Redmond passando a jogar aberto pela direita.

Diallo entre as linhas cobria os espaços e dificultava a circulação do Chelsea (Share My Tatics)

A nova formação deu mais consistência ao meio-campo dos visitantes, uma vez que o espaço entre as linhas deixou de existir. Com isso, o Chelsea não conseguia mais criar com facilidade e o Southampton começou a se sentir mais confortável para sair em busca do empate.

Assim, no minuto 58, Diallo teve espaço no meio-campo, acionou Tino Livramento pela direita que entrou na área e foi derrubado por Chilwell. Falha do ala dos Blues, que se precipitou no bote e só acertou o ex-jogador do Chelsea. Pênalti para o Southampton, convertido por Ward-Prowse. Tudo igual no placar.

A sequência de eventos que transformou o jogo

Logo após o gol, Tuchel enfim colocou Mount, que entrou no lugar de Hudson-Odoi. A mexida teve impacto imediato no Chelsea, que passou a ser muito mais agressivo, sobretudo porque recuperou a superioridade numérica, perdida desde a entrada de Diallo nos Saints.

Isso porque Mount entrou para atuar pelo meio, ao lado de Kovacic e com Loftus-Cheek sendo recuado para fazer a saída de bola. Dessa forma, Werner e Lukaku passaram a ser uma dupla de ataque em um 3-1-4-2.

Com Mount, Chelsea recuperou o meio-campo (Reprodução: Share My Tatics)

Pouco depois, Tuchel colocou Jorginho no lugar de Kovacic. A formação permaneceu a mesma, mas agora quem fazia o papel na saída era o ítalo-brasileiro e Loftus-Cheek foi adiantado para jogar ao lado de Mount. Quando o Chelsea se aproximava cada vez mais do gol, Ward-Prowse deu entrada dura em Jorginho e foi expulso. Com isso, os mandantes passaram a encontrar ainda mais espaços.

Tuchel, então, fez sua terceira troca: saiu Loftus-Cheek, entrou Ross Barkley. Logo na sequência, com menos de um minuto em campo, Barkley encontrou passe espetacular para Azpilicueta que, de primeira, cruzou para Timo Werner completar para o gol. Um prêmio merecido para uma excelente atuação do alemão. Ainda teve tempo para que Chilwell se redimisse do erro no gol de empate dos Saints e matasse o jogo. Três a um.

Estatísticas finais mostram domínio total do Chelsea (Reprodução: BBC)

Destaques individuais

No Chelsea, não faltaram figuras que se destacaram. Chalobah mais uma vez teve atuação segura e participação decisiva na frente, com o gol que abriu o placar e a qualidade na iniciação das jogadas. Loftus-Cheek, que tem ganhado cada vez mais espaço, é outro que merece ser mencionado. Mount e Barkley foram providenciais.

Mas o homem do jogo foi mesmo Timo Werner. Com uma ótima atuação, atacando os espaços, gerando jogo por todos os lados e sendo decisivo no momento em que a equipe mais precisou, o jogo contra o Southampton pode simbolizar o início de uma retomada do alemão em Stamford Bridge.

Em suma, o Chelsea entrou em campo com questionamentos em torno de seu desempenho ofensivo depois dos últimos jogos. A movimentação, marca registrada da equipe sob o comando de Tuchel na temporada passada e que vinha deixando a desejar recentemente, foi o grande ponto positivo.

A dupla Werner e Lukaku, que atraía curiosidade por parte de todos e que ainda não tinha tido muitos minutos juntos, agora teve uma partida inteira e mostrou que pode dar liga. Enfim, um jogo que ofereceu soluções interessantes e que certamente serão cruciais para Tuchel no decorrer da temporada.

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Article by: Marcelo Vilela