Todd Boehly será o novo proprietário do Chelsea. Há cerca de três semanas, o consórcio liderado pelo americano foi declarado vencedor da disputa, ainda que algumas etapas da negociação não estejam finalizadas.
Até lá, será necessário receber as aprovações do governo britânico e da Premier League. Nesse ínterim, dificuldades impostas pelo governo entraram em discussão, principalmente sobre um empréstimo realizado por Roman Abramovich diretamente ao clube.
No entanto, as especulações mais recentes indicam que a Premier League já está confortável em dar o sinal verde para a venda. Se os próximos meses certamente renderão desafios ao novo gestor dos Blues – desde contratações até acordos com patrocinadores -, é possível encontrarmos pistas de como será essa nova etapa. Para tal, basta observar o Los Angeles Dodgers.
A equipe americana de beisebol é uma das mais famosas do esporte, sobretudo por estar situada no segundo maior mercado dos Estados Unidos. Mesmo sendo dono de ações em outras equipes americanas, Boehly possui uma fatia representativa de 20% dos Dodgers. Ainda assim, a propriedade da equipe é oficialmente de um consórcio nomeado Guggenheim Baseball Management.
O processo de venda dos Dodgers
Até 2011 o proprietário dos Dodgers era Frank McCourt, empreendedor americano, que é atualmente o dono do Olympique de Marseille. Até dois anos antes, as ações da equipe eram divididas entre ele e sua esposa, Jamie McCourt. Depois do divórcio do casal, um encadeamento de escândalos cercou a equipe até a situação se tornar insustentável.
Entre os problemas haviam uma dívida milionária com a Fox, emissora de televisão que era a proprietária anterior do time, o espancamento de um torcedor adversário no estádio em Los Angeles, acusações de desvio de receitas para benefício próprio e sonegação de impostos. Em meio a essa tempestade, a falência da equipe foi declarada e começou a busca por um novo proprietário.
Mudanças no elenco
Ao longo de cinco meses de negociação, 12 interessados se manifestaram até a escolha do Guggenheim Baseball Management. Entre as lideranças do consórcio, estão os investidores Mark Walter e Todd Boehly, além do ex-jogador de basquete Earvin “Magic” Johnson e mais três parceiros. A conclusão da venda se deu em um período conturbado, com a temporada da MLB – Major League Baseball, principal liga da modalidade – de 2012 já em andamento.
Ao contrário do esperado, o grupo assumiu a equipe promovendo mudanças quase imediatas no elenco. Ao todo, foram cinco trocas de jogadores – prática comum de transferência nos esportes americanos – que aconteceram ainda no primeiro ano de gestão. A principal delas ocorreu já próximo da reta final da temporada, envolvendo a aquisição de quatro jogadores do Boston Red Sox, enviando cinco atletas na troca.
Como transações desse tamanho são menos frequentes na reta final de temporada, a troca ficou conhecida como a maior da história da MLB em agosto. Entretanto, a nova direção não promoveu alterações imediatas no comando técnico da equipe, o que só ocorreria após a temporada seguinte. Com esse cenário movimentado, os Dodgers encerraram a campanha em segundo lugar na sua divisão, insuficiente para alcançar os playoffs da liga.
Excelência nos resultados
Em resumo, antes da chegada do grupo Guggenheim, os Dodgers haviam ganhado três vezes a divisão Oeste da MLB nos últimos dez anos.
Ainda assim, não ganhavam a Conferência Nacional nem a World Series – final da liga – desde 1988. Desde 2013, no entanto, acumulam oito títulos consecutivos na divisão – perdida somente em 2021 – e nove aparições consecutivas nos playoffs.
Mais ainda, a sequência de nove presenças na pós-temporada do beisebol é a maior vigente e a terceira maior da história da MLB. Em meio à sequência, foram três títulos da Conferência Nacional garantindo três aparições em World Series. Após duas derrotas na finalíssima, a conquista em 2020 atestou a mudança de patamar da franquia dentro do esporte americano.
Ademais, outro bom indício da gestão é o trabalho com jovens jogadores. Dois calouros selecionados pela franquia no draft da liga conquistaram os prêmios de melhor calouro no ano de estreia – Corey Seager e Cody Bellinger. Além disso, Bellinger venceria o prêmio de MVP – melhor jogador – da liga em 2019 e Seager o prêmio de MVP da World Series em 2020.
Aplicações no Chelsea
Há algumas ressalvas importantes para essa comparação. Em suma, a realidade das ligas americanas e do futebol europeu é muito diferente em todos os aspectos financeiros e administrativos.
Além disso, beisebol e futebol são esportes com regras e formações de elenco bem distintas. Da mesma forma, vale ressaltar que em Los Angeles Todd Boehly é um membro da gestão, enquanto em Londres ele buscará está mais perto do dia-a-dia do clube.
Entretanto, os Dodgers são a maior referência de gestão esportiva que temos para análise do trabalho do americano. Dessa forma, os bons indícios citados são animadores. Trabalho com jovens, confiança na comissão técnica, resultados esportivos expressivos e cuidado com a imagem da franquia são pontos fortíssimos e que devem ser replicados aqui.
Por fim, vale destacar ainda que Boehly possui ações minoritárias no Los Angeles Sparks, equipe feminina de basquete. Assim como ao ter feito questão de se encontrar com Emma Hayes, é um bom indicador que os investimentos virão também para a equipe feminina dos Blues. Nas palavras da treinadora, “Todd Boehly é um encaixe perfeito para o Chelsea“. Logo, se conseguir repetir a qualidade do trabalho no beisebol, a torcida irá em breve compartilhar dessa opinião.