Torcida dos Blues cria campanha contrária a família Ricketts

Na última sexta-feira (18), o grupo liderado por Thomas Ricketts formalizou uma proposta para aquisição do Chelsea. Em resposta à proposta do consórcio americano liderado por Ricketts, é preciso dizer que parte da torcida blue se mobilizou por meio das redes sociais contra a venda do clube ao consórcio. Além de demonstrar grande insatisfação com a família Ricketts – não apenas Thomas. Isso porque, descobriu-se que Joe Ricketts – pai de Thomas – fez uma série de comentários islamofóbicos em e-mails ao longo da última década.

O que, obviamente, é algo bastante preocupante. Em primeiro lugar, porque põe em questionamento e em uma posição inferior a religião e o modo de vida de um grupo de pessoas. Além de ser uma questão que se faz presente na realidade do Chelsea, visto que o clube tem atletas e funcionários muçulmanos.

Campanhas nas redes sociais

Nesta quarta-feira (23), a Sky Sports noticiou que os Ricketts estariam indo para Londres com o intuito de acompanhar as negociações mais de parto. Além disso, o consórcio comandado pela família americana têm a intenção de se reunir com dois dos principais grupos de representação formal da torcida dos Blues: a Chelsea Pitch Owners e a Chelsea Supporter’s Trust.

Mais de 104 mil tweets foram postados com a #NoToRicketts entre os dias 22 e 23 de março (Reprodução: @CFC_Daily/Twitter)

Do mesmo modo, os torcedores que frequentam o The Shed End, um dos setores da arquibancada do Stamford Bridge se posicionaram na rede social Twitter:

Em suma, o tweet diz que muitos torcedores estão pensando em formas de demonstrar que não querem a família Ricketts no clube. Mais ainda, caso o consórcio liderado por eles seja um dos escolhidos para seguir no processo de venda, eles (junto com outros torcedores) irão se mobilizar rapidamente para demonstrar sua não concordância com uma possível compra do Chelsea por parte dos americanos.

Contudo, Matt Law que é um dos principais setoristas do clube afirmou na terça-feira (22), que nenhum dos interessados receberam qualquer sinalização do grupo Raine, banco norte-americano, responsável por conduzir as negociações. Apesar da expectativa de que a lista dos consórcios que fizeram as melhores ofertas saíssem entre terça e quarta desta semana, os requerentes ainda não tiveram resposta. Enfim vale lembrar que os interessados tinham até a última sexta-feira (18) para enviar suas propostas ao banco.

Ofensas ao Islã e comentários de cunho racista

Em dezembro de 2019, o portal Splinter News obteve e-mails da caixa de entrada do patriarca da família, Joe Ricketts, e de um dos seus filhos, Todd Ricketts. Dessa forma, dentre as várias conversas divulgadas haviam comentários islamofóbicos. Ou seja, de preconceito em relação à religião muçulmana. Além de haver ataques a Barack Obama por questões políticas e outros assuntos nesses e-mails.

Por exemplo, em 15 de maio de 2015, Joe Ricketts escreveu a um indivíduo não revelado (cuja sigla é SV) sobre “Islã Radical”:

Cristãos e judeus podem ter um respeito mútuo um pelo outro para criar uma sociedade civil. Como você sabe, o Islã não pode fazer isso. Portanto, não podemos permitir que o Islã se torne uma grande parte de nossa sociedade. Os muçulmanos são naturalmente meus (nossos) inimigos devido ao seu profundo antagonismo e preconceito contra os não-muçulmanos”.

O trecho acima foi retirado da matéria do Splinter News. Caso você tenha interesse em ver mais dos e-mails mandados por alguns dos membros e pessoas próximas da família interessada em comprar o Chelsea basta clicar aqui. Houve muitos outros e-mails de teor preconceituoso contra os praticantes do islamismo. Porém, o trecho destacado exemplifica a visão nitidamente desrespeitosa e ofensiva do patriarca da família em relação aos muçulmanos.

Say no to hate

Nos 19 anos da “Era Roman Abramovich” o clube enquanto instituição sempre buscou uma valorização não apenas de sua marca. Mas também de seu papel diante da comunidade – tanto nos arredores de Fulham Road como no mundo. Não por acaso o Chelsea fez diversas ações e campanhas contra o preconceito.

Um dos grandes exemplos de campanha conduzidas pelo clube é em denúncia do antissemitismo, que busca amplamente não apenas tocar no preconceito contra judeus. Assim como os preconceitos em relação à outras religiões. Além disso, o clube também promoveu ações de forma a combater o racismo, como ocorreu por exemplo, em 2015, quando jogadores do Chelsea declamaram um discurso de Nelson Mandela. Em outras palavras, o Chelsea busca reforçar que não há espaço para quaisquer tipo de discriminação dentro e fora do clube.

Fatos e respostas de dentro

Em primeiro lugar, em relação ao anti-islamismo, vale ressaltar que além de ser um pensamento intolerante e desrespeitoso que não deve ser reproduzido ou fortalecido, no elenco do time masculino temos, pelo menos, quatro atletas que são reconhecidamente muçulmanos: Antonio Rüdiger, N’golo Kanté, Malang Sarr e Hakim Ziyech.

Antes do mundial de clubes, os quatro jogadores muçulmanos do Chelsea foram a uma mesquita em Abu Dhabi (Reprodução: Antonio Rüdiger/Instagram)

Dessa forma, permitir que alguém que se mostra incomodado com a socialização com pessoas muçulmanas é bastante problemático dado que no clube existem pessoas que vivem sob os ensinamentos do Alcorão.

Por outro lado, quem também usou as redes sociais foi Paul Canoville, o primeiro jogador negro da história do clube. O ex-jogador demonstrou apoio ao Chelsea Supporter’s Trust contra a família Ricketts. Nesse sentido, indo além do preconceito religioso, ressaltando também as falas racistas de membros da família nos e-mails.

Em suma, todo o trabalho que os Blues vêm fazendo ao longo dos anos se mostrou importante para gerar a consciência nas pessoas em relação aos preconceitos. Além disso, demonstram nitidamente que a discriminação, de qualquer ordem, não é bem-vinda no clube. E essas são concepções compartilhadas com a torcida que, sem dúvidas, não desejam pessoas que não respeitam a existência dos demais no comando do Chelsea.

Mas afinal quem é a família Ricketts?

A família Ricketts adquiriu grande parte do Chicago Cubs, equipe de beisebol dos Estados Unidos, em 2009, pelo valor de $845 milhões de dólares. Desse modo, alcançaram visibilidade no meio esportivo. Não apenas pelos investimentos na franquia da Major League Baseball, mas também por levarem os Cubs à conquista do título nacional depois de mais de 100 anos – o último título nacional dos Cubs antes de 2016 havia sido em 1908. Ou seja, ainda no século passado.

Além disso, a família Ricketts tem forte influência na política norte-americana. Estima-se que os pais, Marlene e Jorge Ricketts tenham doado pelo menos 1 milhão de dólares em apoio a candidatura de Donald Trump, em 2016. Mais ainda, após ser eleito Trump indicou Todd Ricketts ao Departamento de Comércio. Por outro lado, sabe-se também que Laura Ricketts apoiou Hilary Clinton durante a campanha de 2016. A democrata foi a  principal opositora do candidato republicano que viria a ser eleito. Enfim, Laura é a única filha de Joe e Marlene e tem três irmãos homens Todd, Pete e Thomas.

Falando especificamente do Chelsea. No último dia 16, os Ricketts divulgaram um comunicado dizendo que: “A família Ricketts confirma que irá liderar um grupo de investidores que fará uma proposta pelo Chelsea. Como operadores experientes em um time esportivo profissional icônico, a família e seus parceiros entendem a importância do investimento para o sucesso em campo, respeitando as tradições do clube, dos torcedores e da comunidade.  Estamos ansiosos por compartilhar nossos planos no momento oportuno”, concluiu.

A imagem do clube poderá ser afetada pelos Ricketts?

Depois de duas décadas acumulando troféus, o patamar de exigência se tornou muito alto, sendo assim, o próximo dono do clube vai sofrer com a desconfiança da torcida. No caso dos Ricketts haveria uma resistência ainda maior por conta das ações de discriminação religiosa e racial.

Do mesmo modo, faz necessário pensar nos possíveis efeitos colaterais caso os donos do Chicago Cubs assumissem o clube. Por exemplo, não é absurdo pensar que a marca Chelsea poderia perder prestígio junto a população árabe. E não é sobre prestígio de consumir os jogos e produtos do clube. Mas também sobre o respeito à instituição e o clube, que, cada dia mais, buscam lutar pela comunidade.

Contudo, as reações não se restringem as questões extra campo. Como dito anteriormente, o elenco conta com quatro atletas praticantes do islamismo. Como será que esses jogadores reagiriam? O mesmo se pode dizer quando surgir alguma negociação com algum jogador ligado ao Islã. É possível que os Blues sejam preteridos? Acredito que sim, qualquer indivíduo pensaria duas vezes antes de assinar com o clube londrino.

Por fim, tem a questão de qual imagem o Chelsea pretende passar para o mundo. Nas últimas semanas, Roman Abramovich, assim como quase todos os russos foram massacrados pela imprensa mundial.  , Ou seja, ter um novo dono com um histórico de ações questionáveis poderia afetar ainda mais a posição dos Blues no mercado.

Interessados aguardam respostas

Na última quinta-feira (24), surgiram relatos nas redes sociais de que o banco Raine fez contato com os grupos que já tiveram suas ofertas rejeitadas. Ainda assim, a lista final com as propostas que terão a chance de avançar nas negociações não foi divulgada oficialmente. Enfim, a expectativa é que até o final da semana que vem tudo esteja mais ou menos encaminhado em relação a quem será o novo proprietário do Chelsea.

Category: Chelsea Football Club

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Article by: Rodolfo Simões