Com a demissão de José Mourinho do Chelsea, em dezembro do ano passado, muito se falou sobre um “ciclo de três temporadas” do treinador português. Jornalistas e especialistas argumentaram que os métodos do Mou são tão desgastantes que nenhum de seus trabalhos conseguem ter longevidade. Para basear esta teoria, é citado o fato de que o treinador não passou mais que três temporadas em nenhum clube em sua carreira, sendo que em seus últimos dois trabalhos, Real Madrid e Chelsea, o clube viveu maus momentos na terceira temporada supostamente por desgastes de Mourinho com o elenco, devido a seus métodos e cobranças excessivas.
Sobre isso, o ídolo blue, Ricardo Carvalho, que defendeu o Chelsea por seis anos e serviu sob o comando de Mourinho por oito, falou sobre o assunto, afirmando que tal teoria seria um mito:
“Essa teoria é só que dizem. Eu joguei sob o comando de Mourinho por oito anos e nunca fiquei entediado. Ele primeiro olha para o time e para o que é melhor para o clube, depois para se você merece jogar. Fala-se muito sobre este ciclo de três anos, mas a verdade é que a cobrança é a mesma do início ao fim. A pressão, as demandas, estão sempre lá.
Além dos títulos, Mourinho é alguém que sempre te diz as coisas na sua cara. Para o bem ou para o mal, ele diz na sua cara, e isso para mim é muito importante. E ele diz as coisas para te fazer querer melhorar, não para te fazer se sentir mal na frente dos outros. Ele é muito exigente, e isso foi muito importante na minha carreira.”
As palavras de Carvalho são para defender o treinador dos que criticam seus métodos, mas deixam certos pontos bem claros. Por exemplo: que ele faz cobrança a seus comandados na frente do restante do elenco; algo que pode gerar, facilmente, desconfortos no grupo e entre o treinador e certos jogadores, que não encaram isso de uma maneira tão tranquila quanto o zagueiro português.
Outro ponto é que o ex-camisa 6 azul reafirma que a forte pressão que José Mourinho coloca sobre seus jogadores está lá desde o primeiro dia. O zagueiro tentou argumentar isto no sentido de que não é algo que surge na terceira temporada ou surge depois, mas acaba por confirmar o caráter cansativo do trabalho sobre o comando do treinador, já que os desgastes vão surgindo ao longo das temporadas, uma vez que os métodos de cobrança e de exigência excessivas vão acontecendo no dia a dia desde o início.
Por mais que Ricardo Carvalho veja os métodos de Mou como positivos para sua carreira, o que de fato deve proceder, sua entrevista demonstra que eles podem ser realmente cansativos. Até porque não é todo jogador que lida bem com cobranças escancaradas e com trabalho sob pressão constante; e, pelo visto, Mou não parece se adaptar a este tipo de jogador, vide a dispensa de vários jogadores em sua última passagem nos Blues, como Juan Mata, Kevin de Bruyne, André Schürrle, Romelu Lukaku, dentre outros.
Sendo assim, esta entrevista, por mais que pareça despretensiosa, pode nos ajudar ainda mais a entender o contexto do início da temporada do Chelsea e todos os fatores que levaram a demissão de Mourinho, até porque várias foram as entrevistas no sentido de que o ambiente no clube melhorou após a saída do português.
A temporada foi desastrosa por vários fatores e as culpas devem ser colocadas em todos os envolvidos, dentre eles jogadores e diretoria, mas também devemos olhar para a situação dos vestiários sob o comando de Mourinho, e neste sentido, somado a tantos outros relatos, esta entrevista de Carvalho ajuda a entender este contexto e porque os jogadores pareciam (e deveriam mesmo estar) insatisfeitos com o trabalho de Mou.