Em entrevista ao jornal inglês The Guardian, José Mourinho reafirmou a importância dos veteranos John Terry e Frank Lampard e sinalizou a renovação deles ao fim da temporada quando seus contratos expiram. Além deles, Ashley Cole também tem vínculo com clube apenas até junho do ano que vem e o português crê que manter uma base de jogadores ingleses seja primordial, além da coisa certa a ser feita.
Desde sua chegada a Stamford Bridge em junho desse ano, Mourinho vem reafirmando a importância de ter uma base forte no clube que preze por talentos de todo o mundo, mas que também tenha um núcleo de ingleses que sejam capazes de transmitir a cultura e o estilo do futebol inglês para todos os estrangeiros que se juntarem ao time.
Falando sobre o capitão do time, Mourinho está feliz em saber que Terry foi capaz de deixar tudo o que estava atrapalhando para trás.
“Ele está recuperando a sua autoestima. Nos últimos anos ele não estava jogando muito, com problemas dentro e fora de campo. Ele foi suspenso por diferentes motivos, sofreu lesões, teve treinadores que não confiavam nele o suficiente. Em determinado momento parecia que a carreira dele estava tomando a direção errada. Até mesmo eu comecei a imaginar o que poderia estar acontecendo com ele. Mesmo de longe eu via problemas físicos, emocionais e me perguntava o que era tudo aquilo. Eu estou feliz que ele está provando agora que ainda é um jogador de alto nível. Ele joga em uma posição que a idade não influencia tanto. Para um zagueiro o mais importante é se posicionar bem, ter uma boa leitura da partida e estar no lugar certo na hora certa e nisso ter mais experiência ajuda. Veja quantos times de ponta têm zagueiros experientes: Barcelona tem Carles Puyol, Manchester United tem Rio Ferdinand, até a temporada passada o Liverpool tinha Jaime Carregher e esses jogadores são importantes para eles. Em vários clubes importantes há zagueiros com idade entre 30 e 34 anos. John está provando a sua qualidade e por tudo que ele fez no Chelsea na última década ele merece estar de volta no seu lugar,” Mourinho explicou.
Já sobre o vice-capitão Lampard, o treinador considera que ele [Mourinho] era o que o meio-campista precisava.
“Claro que Frank pode se tornar um jogador como Pirlo [Andrea Pirlo, da Juventus]. Ele tem de se adaptar e aprender a cada dia como jogar com o novo corpo dele [aos 35 anos]. Um jogador ainda pode aprender coisas novas na idade dele. Eu tenho 50 anos e sou treinador desde 2000 e todos os dias eu aprendo coisas com cada partida e cada nova experiência. Você pode sempre aprender novas técnicas, principalmente se for um jogador com a mente aberta como ele. Ele é um jogador que traz equilíbrio ao time, que pensa bem o jogo e ajuda os garotos que estão no time. Para ele foi muito bom eu ter voltado porque há uma grande confiança entre nós. Ele sabe que toda decisão que eu tomo é para o bem do time – porque isso é o mais importante – mas eu também penso nele. Então se algum dia eu o substituir aos 70 minutos, ou deixá-lo no banco ou dar descanso para ele e não convocá-lo para algum jogo, ele sabe que é para o seu próprio bem. Ele sabe que eu estou contando com ele para partidas mais adiante, então eu não preciso ficar explicando isso para ele todos dias – não que eu faça isso com outros jogadores, pois eu não faço com ninguém. Há uma grande confiança e amizade entre nós dois e ele está feliz, calmo e tranquilo. Nessa altura de sua carreira era muito importante para ele ter alguém como eu por perto,” Mourinho falou sobre o recordista de gols do clube
O português dá muito valor ao núcleo de jogadores ingleses no time porque ele entende que além de táticas e estilos, é preciso que os estrangeiros entendam a cultura do futebol inglês e da Inglaterra. Mourinho sempre afirmou ser importante manter a identidade cultural dos países por onde passou e para isso ele conta com a ajuda de jogadores locais.
“Eu gosto do alicerce local, não apenas na Inglaterra, mas também quando trabalhei em Portugal, Itália e Espanha. Você deve respeito às seleções nacionais e ao país onde está e por isso dar opções aos times nacionais é importante. É muito importante manter a cultura futebolística do país no estilo que você escolher empregar sem deixar perder as características locais. Às vezes as pessoas pensam ‘queremos jogar como esse ou aquele time, como o Barça ou o Bayern’, mas, antes de qualquer coisa, você precisa jogar de acordo com a cultura do país onde você está. Eu gosto dessa lealdade. Eu também gosto que quando jogadores estrangeiros chegam ao elenco encontrem uma espinha dorsal de jogadores locais porque os que vêm de fora precisam entender o lugar que eles agora fazem parte. Por exemplo, jogadores ingleses sabem o que significa jogar oito partidas em três semanas na época do natal. Para um estrangeiro isso pode ser um choque e por isso você precisa de jogadores do país para explicar porque as coisas são assim, porque você não deveria reclamar, mas sim comprar a ideia. Além disso também queremos ter jogadores formados no Chelsea. Se em três ou quatro anos não houver nenhum jogador formado no clube para substituir Lamps aos 39 anos e John aos 36, eu ficarei muito triste, pois todo clube precisa disso. Por isso nós estamos trabalhando na nova geração. Nós temos jogadores formados aqui que estão emprestados em outros times, como [Nathaniel] Chalobah, e nós temos outros trabalhando e crescendo no sub-21 e o padrão só está melhorando. Antigamente os times de base não tinham competições de nível para a idade deles, mas agora há um campeonato nacional, uma Champions League sub-19. As condições para a nossa base não poderiam ser melhores – com as instalações e os treinadores – mas você também precisa de competições e adversários à altura para que os garotos cresçam,” concluiu Mourinho.
