O técnico José Mourinho participou de um evento do patrocinador principal da Premier League para agradecer aos torcedores, heróis das comunidades locais, treinadores e jogadores. Durante o evento o técnico dos Blues foi perguntado sobre a seleção inglesa, além de refletir sobre o futebol inglês e o relacionamento com torcedores adversários.
“Eu espero que quando eu me aposentar do futebol, eu tenha tempo de dividir experiências e ajudar a próxima geração [de técnicos]. Eu sempre fico feliz em falar com outros treinadores e a porta do meu escritório está sempre aberta para eles. Eu gosto de fazer isso, principalmente com garotos que queiram trabalhar com isso, ou com pessoas que trabalham com outras coisas, mas simplesmente amam o esporte. Eu entendo a curiosidade dessas pessoas e como elas querem saber dos detalhes e tentar aprender algo com a sua experiência,” disse Mourinho às dezenas de pessoas que estiveram no centro de treinamentos Cobham para ouvir o treinador.
“Eu não creio que a Premier League tenha sentido a minha falta [durante sua ausência]. O país é muito ligado ao futebol e a Premier League é muito grande e forte para sentir falta de alguém. Então não é uma questão de sentir falta, mas o fato de eu gostar daqui e as pessoas saberem disso. Eu realmente gosto de jogar em casa [em Stamford Bridge], sentir a paixão dos torcedores do Chelsea e saber que eles estão felizes comigo ao seu lado. Mas eu também gosto de jogar fora e sentir o apoio dos torcedores adversários ao time deles, enquanto eles são ‘hostis’ comigo. É simplesmente hostilidade, mas sem agressividade. Se os torcedores do Chelsea estão cantando ‘José Mourinho’ nas arquibancadas, os torcedores do Norwich respondem com ‘Vai se ferrar, Mourinho’. Eu não creio que essa hostilidade seja agressiva e creio que seja melhor do que me ignorar. Se algum dia eu me tornasse técnico no Norwich eles iriam cantar o meu nome [amistosamente] também, então eu vejo pureza nessa reação. Você vai para outros países, como na Espanha, por exemplo, onde eles gritam, ‘Hijo de puta Portugues [Português filho da puta]’ e você sabe que isso é baseado em um sentimento profundo de ódio [devido à rivalidade entre os países da península ibérica Portugal e Espanha] e algo que eles falam de coração. A hostilidade [ao adversário] aqui é mais gozação. Se eu não estou vencendo partidas eu não sou o ‘The Special One [O Especial]’ e eu entendo e gosto disso,” falou o treinador sobre a atmosfera da Premier League.
“É bom estar de volta e eu sinto que esse é o meu lugar. Por exemplo, terça-feira passada, eu fui à Wembley. Eu não comemorei [a classificação da Inglaterra ao mundial] pulando e bebendo porque isso não faz parte da minha natureza, mas por dentro eu estava celebrando a classificação e estava feliz. Uma Copa do Mundo sem a Inglaterra não é Copa do Mundo. Eles são um dos gigantes do futebol e mesmo quando não estão vivendo um bom momento tecnicamente, devem estar no mundial. Claro que eu também estava feliz por saber que os meus jogadores não estarão estressados por ter de disputar a repescagem e decidir se vão ou não à copa, e ao invés disso estarão jogando amistosos em novembro. Eles merecem estar no Brasil ano que vem e o torneio será melhor com a presença deles,” completou ‘The Happy One [O Feliz]’.
A FA [Football Association] expressou recentemente a preocupação com o decrescente número de jogadores inglês nos times de ponta da Inglaterra e o grande número de estrangeiros em times da Premier League. O presidente da associação inglesa, Greg Dyke, decidiu formar uma comissão para trabalhar pela melhora da qualidade do futebol de base inglês, a fim de que a seleção da Inglaterra possa recuperar a força e o talento que eles entendem que foram perdidos em anos recentes. Mourinho juntamente com Arsène Wenger do Arsenal são os únicos técnicos trabalhando no país atualmente e que venceram o campeonato inglês e a FA disse que ouvirá os dois a respeito do problema ainda nesse mês. O técnico português demonstrou o seu interesse e prazer em ajudar a instituição: “Se eles quiserem falar comigo, eu estarei aberto. Eu darei a eles minha opinião, mas creio que se olharmos apenas para o presente – ignorando o futuro próximo – o time que Roy Hodgson [técnico da Inglaterra] tem à sua disposição para disputar a próxima copa tem jogadores mais do que suficientes para formar um bom time. Eles mereceram se classificar nas eliminatórias e apesar de não haver nenhum outro grande nome no grupo deles, havia equilíbrio porque três ou quatro times poderiam tirar pontos deles. Eu creio que eles lidaram bem com a pressão de ter de vencer as duas últimas partidas – mesmo que fossem em casa – para se classificarem. Eles mostraram que não há tanto drama como as pessoas [aqui] vinham fazendo quanto a esse elenco. Quando você olha para os jogadores que começaram como titulares e para as opções no banco, e vê os clubes que eles jogam e as competições das quais fazem parte, você enxerga alguns dos melhores jogadores do mundo,” concluiu Mourinho.
Mas nem só da Inglaterra e do futebol inglês o técnico dos Blues falou aos presentes. O português também comentou sobre o que ele ficou fazendo durante a parada para jogos FIFA enquanto a grande a maioria dos seus atletas estavam servindo os seus países. Segundo Mourinho, ele e sua comissão técnica estudaram profundamente as estatísticas do time e fizeram novas análises, que foram [e estão sendo] passadas para os jogadores. Foi uma malha fina sobre o desempenho dos jogadores que foram colocados no microscópio pela comissão técnica: “Nessa semana eu e minha equipe terminamos a análise do trabalho de como temos nos defendido quando certos jogadores estão em campo e quando eles não estão. Eu tentei analisar os fatos de maneira bem científica. Eu queria provas de que o que os meus olhos estavam vendo eram exatamente o que os números mostravam. E sim, eu tive essas provas.”
