Na História: Com gol de Ivanovic, Chelsea passa por Napoli em partida histórica

Falta de liderança é o principal problema do Chelsea

No último sábado (24) o Chelsea sofreu uma das suas derrotas mais sofridas dos últimos tempos. Em pleno Emirates Stadium, onde não perdia a seis anos em partidas válidas pela Premier League, os Blues amargaram três gols do rival Arsenal antes do final do primeiro tempo e não tiveram forças para reverter o placar, que acabou sendo definitivo.

Desempenho dos Blues contra o rival inglês foi fraco e rendeu o terceiro jogo sem vitória (Foto: Getty)
Desempenho dos Blues contra o rival inglês foi fraco e rendeu o terceiro jogo sem vitória (Foto: Getty)

Muitos podem ser os fatores para o baixo rendimento dos azuis de Londres, seja na última temporada ou no início desta, mas uma coisa é certa: em campo o Chelsea, sem Terry machucado, careceu de líderes, capitães e lendas, forças que em outras temporadas possuía de sobra.

Não muito tempo atrás, o Chelsea possuía em seu elenco jogadores que, quando o jogo estava difícil, faziam as vezes do técnico em campo e puxavam para si a responsabilidade. Eram os chamados “senadores” dos Blues: Drogba, Lampard e Terry.

Prata da casa e eterno capitão

John Terry começou sua trajetória no Chelsea em 1995 com 15 anos vindo do West Ham, uma das categorias de base mais prolíficas da Inglaterra. Não demorou muito para estrear pelo time principal em 98 e ganhar o seu lugar no coração da torcida, fato evidenciado pelo prêmio de revelação do campeonato em 2001 com apenas 21 anos. Herdando a braçadeira de Marcel Desailly com a chegada de José Mourinho e aposentadoria do francês campeão do mundo, Terry começou a escrever em 2004 o capítulo mais vitorioso da sua trajetória pelos Blues: o de Eterno Capitão.

Terry é o capitão mais vitorioso da história dos Blues
Terry é o capitão mais vitorioso da história dos Blues

Ao longo dos mais de 700 jogos com a camisa azul, Terry foi sem dúvidas o capitão mais vitorioso da história do Chelsea ajudando o time a vencer quatro Premier Leagues, uma Champions League e uma Europa League. É atualmente o defensor com mais gols na história do Chelsea e considerado por muitos o melhor zagueiro da história do clube. Mas o mais importante em John Terry, mesmo com os vários casos extra-campo que marcaram a sua carreira, é a liderança que exerce sobre o elenco blue, liderança essa que o transforma em peça insubstituível no atual momento de instabilidade do clube.

Nos últimos anos, com a chegada da sua aposentadoria, Terry foi vinculado a interesses da MLS e da Liga Chinesa. Além disso, o clube possui uma política interna de assinar contratos de um ano de duração quando jogadores passam dos 30. Por isso, o capitão dos Blues, por alguns anos consecutivos, vem tendo dificuldades em renovar o seu contrato.

“Super Frankie” Lampard e a camisa 8

Nos primórdios do futebol, a camisa que mais era aclamada por torcedores era a camisa 8. Antes de Pelé e da “mística da camisa 10”, o esporte bretão foi marcado pelos craques dos seus clubes utilizarem a camisa de número 8. O craque do time, o batedor de faltas, o criativo, o capitão, o organizador de jogo, o chute de fora da área, o líder. Todas essas funções desempenhadas pelos melhores da história foram desempenhadas por Lampard. Com mais de 600 jogos pelo clube e tornando-se o maior artilheiro da história dos Blues, com 211 gols, ultrapassando Bobby Tambling, Lampard era o “segundo em comando” dentro de campo. Sua liderança foi marcada pelo título da Champions League, ocasião em que levantou a taça por suspensão de Terry que não jogou a final contra o Bayern.

Lampard capitaneou o Chelsea na final em Munique
Lampard capitaneou o Chelsea na final em Munique

Infelizmente, também devido a políticas do clube, Lampard acabou sendo incluído na lista de dispensas do clube. O jogador, que ainda possuía mercado, foi imediatamente contatado pela MLS, mais precisamente pelo New York City que, por ironia do destino, o emprestou ao rival Manchester City. Seu primeiro gol pelos Citizens foi justamente em cima do ex clube londrino decretando o empate por 1-1 no fim da partida e acabando com uma série vitoriosa do Chelsea na temporada. Esse foi só o primeiro dos quatro gols que Lampard fez só naquela semana, provando mais uma vez o equívoco da diretoria em dispensá-lo.

O herói da Champions

Didier Drogba teve uma carreira diferente dos outros “senadores” do clube. Após cinco anos no futebol francês, o maior goleador da história da Costa do Marfim e quarto maior goleador do Chelsea veio a peso de ouro em 2004 a pedido de José Mourinho. Do começo com a camisa 15 do clube londrino, passando por quatro títulos ingleses e uma Champions League, a trajetória do marfinense em Londres foi uma das mais vitoriosas, principalmente com a parceria entre ele e Mourinho. O atacante sentiu muito a saída do técnico português e declarou em 2007 com a sua saída que “algo estava quebrado” no vestiário do clube inglês.

O herói da Champions é o quarto maior goleador da história do Chelsea
O herói da Champions é o quarto maior goleador da história do Chelsea

Após oito anos de títulos nos Blues, Drogba assinava um contrato com o Shanghai Shenhua da Super Liga Chinesa para se juntar ao antigo companheiro de equipe Nicolas Anelka. Passando também por Galatasaray depois de um ano na China, onde ganhou três títulos pelo clube turco, o africano com mais gols na Premier League retornava para Londres para trabalhar mais uma vez com José Mourinho.

Seu estilo de jogo aguerrido e a sua personalidade que inspirava confiança eram um terror para os adversários. Com muita força física e altura, Drogba é ainda até hoje o jogador não inglês que mais marcou pela Premier League, em 350 jogos com a camisa dos Blues.

As más escolhas e erros de administração

O momento que o Chelsea está passando vem se intensificando ao longo das temporadas. Desde a primeira saída de Drogba o time inglês vem caindo de produção, exceto pelo título na temporada 14-15. Com a dispensa de jogadores icônicos para o time, vide caso de Petr Cech, Ashley Cole e Frank Lampard, o clube perdeu a sua identidade e os jogadores contratados para suprir a saída das lendas não estiveram à altura dos antigos jogadores. Seja pelas crises de Courtois ou pela falta de um lateral esquerdo, os únicos lampejos do time de outrora são o aguerrido Diego Costa, que ainda passa longe de representar o que Drogba representou, Fàbregas que é lampejo de qualidade no meio campo, e o remanescente John Terry que ainda não vê “herdeiro” para a sua aposentadoria cada vez mais próxima.

O Chelsea se precipitou vendendo Cech (esq.) e liberando Cole (dir.)
O Chelsea se precipitou vendendo Cech (esq.) e liberando Cole (dir.)

A chegada de Antonio Conte serviu para dar uma injeção de ânimo no torcedor blue, mas as contratações desesperadas de David Luiz e Marcos Alonso no último dia da janela de transferências, evidenciam uma falta de planejamento e uma tentativa de renovação que não deu frutos. Para um time que antes contava com os pilares da estirpe de Terry, Cole, Lampard, Cech e Drogba, ter hoje à disposição jogadores que não influenciam diretamente no resultado das partidas é desanimador e preocupante.

Cabe agora repensar toda a política de contratações e de empréstimo de jovens valores. O processo de reestruturação passa pela ótima categoria de base que o Chelsea tem hoje, ganhando inclusive títulos europeus nas últimas temporadas. Porém, essa solução traz não somente esperança mas impaciência, visto que os jovens jogadores, para se tornarem “lendas” do clube inglês, ainda precisam de pelo menos uns bons cinco anos de vida futebolística. Será que o Chelsea pode esperar esse tempo?

Category: Chelsea Football Club

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Article by: Lucas Jensen

Jornalista que ainda acredita que o futebol pode ser apreciado sem torcer (mas não se segura e torce mesmo assim). Fã de tática e do jogo reativo, se deleita nos contra-ataques e toques 'de primeira'. Amante racional da Premier League e nostálgico do Calcio, seus hobbies incluem teorias mirabolantes e soluções inusitadas.