O diretor de futebol do Chelsea Michael Emenalo falou ao site oficial do clube a respeito da atuação do clube no mercado de transferências. Na primeira parte da entrevista, Emenalo falou sobre José Mourinho, a filosofia de investir em novos talentos e nas categorias de base, além de avaliar a pré-temporada. Na parte final da entrevista, o executivo do clube fala sobre a política de empréstimos e o FFP (Fair Play Financeiro).
Os torcedores que acompanham os Blues há mais de dois anos com certeza perceberam a diferença na maneira como o time tem lidado com transferências. Além da idade dos jogadores contratados ter sido reduzida drasticamente, com exceções pontuais para situações peculiares, o Chelsea tornou-se um clube que empresta muitos jogadores. Até então, a prática de empréstimos no clube era rara e somente envolvia jogadores da base.
Agora com a contratação de jogadores bem jovens, mas que já se destacavam em seus clubes e, em sua maioria, que já tinham sido convocados para defender os seus países, o empréstimo surgiu como alternativa para aqueles que apesar de terem muito potencial, ainda não estão prontos para jogar no time de cima ou que ainda não têm espaço no restrito elenco principal. A fim de não interromper o desenvolvimento desses jogadores, o clube passou a emprestá-los para times da Premier League, mas também de outros campeonatos pela Europa como o Espanhol, o Alemão e o Holandês.
Casos como o de Kevin de Bruyne – apesar de já estar pronto para jogar – que aprimorou ainda mais a sua técnica passando a última temporada emprestado ao Werder Bremen, na competitiva Bundesliga. Agora, de volta ao clube, de Bruyne está ainda melhor preparado para ajudar a defender os Blues e Emenalo crê que esse seja o caminho a seguir.
“Há um padrão. Essa temporada vai ser boa para medir os resultados das ações que tomamos para que pudéssemos estar de acordo com as regras da FFP, mas independente do fair play financeiro, nós acreditamos que essa é a melhor maneira de trabalhar os jovens talentos. Quando eu cheguei no clube há seis anos atrás [como olheiro, como diretor de futebol ele está há dois anos], nós tínhamos grandes jogadores, mas abaixo deles os próximos atletas disponíveis era muito jovens e era difícil integrá-los, pois estavam muito atrás [em termos de amadurecimento]. Agora nós temos grandes jogadores e esse gap não existe mais. Nós temos um jogador como Frank Lampard, que está com 35 anos, e além dele temos qualidade em jogadores como Ramires, John Mikel Obi, Michael Essien e Marco van Ginkel. Além deles nós também temos jogadores da base como Nathaniel Chalobah e Josh McEachran. Nós estamos tentando fazer o mesmo com Ashley Cole e Ryan Bertrand, já também temos Patrick van Aanholt. Temos Romelu Lukaku, que logo voltará ao clube. Juan Mata hoje tem 25 anos, e além dele temos Oscar e Hazard que têm 22 e mais abaixo [em termos de idade] temos os meninos da base Lewis Baker, Ruben Loftus-Cheek e Jeremie Boga,” explicou Emenalo.
De fato a diferença de idade e de ‘rodagem’ entre os jogadores titulares, os reservas e a base diminuiu significativamente e em todas as posições do campo o Chelsea hoje conta com jogadores já veteranos, jogadores no auge ou quase no ápice de suas carreiras, jovens que estão começando a brilhar e garotos que são promessas. Emenalo acha que essa diversificação é importante, não apenas para o futuro, mas para que os mais jovens possam aprender com a experiência dos mais velhos.
“Quando alguns desses jogadores tiverem 27 anos, os mais jovens já terão cerca de 22 e estarão prontos. A distância [de idade] não é muito grande e faz a transição para os jogadores jovens mais fácil. Nós estamos tentando achar alternativas para cumprir as regras da FFP [que controla o quanto os clubes podem gastar baseado nas suas receitas – para que sejam autossustentáveis] e para isso nós estamos recrutando jogadores o quanto antes para que tenhamos uma reserva de talentos para nós aprimorarmos. Nós percebemos que jogadores entre 18 e 21 anos têm maior dificuldade de adaptação, pois estão incertos se já são bons o suficiente para o Chelsea e quanto ao futuro deles. Jogando apenas as partidas do sub-21 não dá a eles a bagagem necessária para disputarem espaço de fato no time principal.”
“Nós sentimos que nessa idade o melhor para eles é sair em empréstimo a outros clubes, onde eles podem se desenvolver e ter visibilidade e fazer jogos competitivos. Por motivos físicos, mas também psicológicos, nós decidimos trabalhar assim essa faixa etária. Eles têm a chance de serem testados e podem se sentir bem por estarem em competições de alto nível. A partir disso, eles mesmo podem avaliar se já estão maduros o suficiente para voltar,” Emenalo explanou ao site do CFC.
O diretor de futebol decidiu manter a política de empréstimos mesmo com a adição de competições para a categoria sub-21, preferindo utilizar jogadores entre 16 e 18 anos nessas competições. Até o ano passado o clube participava de uma competição local e uma continental, ambas em menor escala. Esse ano a UEFA implantou a Youth League – que contará com as categorias de base dos times participantes da Champions League -, seguindo o mesmo formato da competição sênior. Somando a competição internacional à FA Youth Cup (campeonato inglês da categoria de base), os jogadores terão a chance de participar de muitas partidas.
“Agora nós temos subido os jogadores de mais talento do sub-18 para o sub-21 onde eles terão a chance de participar de 45 partidas de bom nível entre a FA Youth Cup e a UEFA Youth League. Isso dá a eles uma chance excelente de se desenvolverem e depois de serem emprestados quando estiverem com idade entre 18 e 21, a fim de completar o processo de amadurecimento deles. Enquanto que ter essas competições ajuda em muito a categoria de base, elas ainda são pouco para os jogadores do Chelsea de 20 anos porque eles estão aspirando um nível superior. Basta olhar para Kenneth Omeruo, que ainda nem completou 20 anos, ou para Tomas Kalas [ambos jogadores passaram a temporada passada emprestados ao Vitesse da Holanda, onde participaram de quase todos os jogos do clube]. Se está dando certo com o Vitesse no Campeonato Holandês é porque se trata de uma liga que atrai jogadores e porque o clube cumpriu o que prometeu aos jovens. Quando eles nos dizem que querem um jogador e nós lhes perguntamos se eles têm certeza disso, eles dizem que sim e os jogadores de fato jogam.”
“Se amanhã um time da Championship [segunda divisão inglesa] nos propor a mesma coisa, nós não teremos problemas nenhum em fazer o mesmo. O Vitesse não tem exclusividade sobre os nossos jogadores. Nós emprestamos Josh McEachran ao Middlesbrough e ele jogou muitas partidas e ficou feliz com isso. Se no futuro o Middlesbrough quiser outro jogador nosso emprestado, nós ficaremos felizes em ceder porque estabelecemos uma boa relação com o clube e temos confiança que o jogador vai ser desenvolvido lá. Nós não emprestamos jogadores simplesmente para recuperar parte do investimento feito, nós emprestamos jogadores porque queremos que eles cresçam e melhorem e nós monitoramos o desenvolvimento de todos eles de perto. Nós temos um sistema interno liderado por mim e por Eddie Newton e com o apoio de Kevin Campello para que nós possamos estar de olho nos nossos jogadores e gerenciarmos o que está acontecendo o tempo todo,” concluiu Emenalo.