Um dia comum em uma típica cidade metropolitana brasileira. A melodia dos pássaros é abafada pela buzina de um poluente palio 2001. Uma tarde de primavera, tão quente quanto os dias de verão com sol à pino. As crianças já não brincam mais de futebol nas ruas como no passado. O desânimo com o clube de infância, que mais uma vez está envolvido em alguma polêmica de desvio de dinheiro ou de indisciplina de jogador, faz com que os adolescentes não se empolguem nem mesmo com a tradicional final do campeonato estadual, envolvendo duas das maiores torcidas da cidade, que há muito já deixou de se tornar motivo para que o mais fanático dos torcedores de escritório vista a camisa do clube do coração em público. É em meio a essa triste realidade que mais um jovem torcedor brasileiro questiona então, mais uma vez, o discurso de seus pais, que de tão fanáticos pelos clubes que defendem, não visitam um estádio de futebol a décadas.
Afinal, de que vale a tradição de um clube, quando tudo o que este lhe causa é vergonha? De que adianta um passado repleto de glórias não vividas por este jovem, se o presente lhe causa situação humilhante e vexatória, e o futuro só reserva a constantemente adiada falência? Inconformado com a crescente quantidade questionamentos e a insuficiência de todos em respondê-las, morre então mais um jovem torcedor do futebol brasileiro. Escuridão é tudo o que resta ao recente cadáver. Nada de cores de clubes, nada de hinos que divulgam uma falsa glória. O futebol já não existe mais, acabaram-se as esperanças.
Eis que de repente, envolto em uma nuvem clara, o jovem finado se encontra em um lugar repleto de seres mais cheios de vida que todo o sistema amazônico reunido. Seu falar é mais belo e emocionante aos ouvidos que o som do primeiro choro da criança para seus pais. Olha o jovem ao seu derredor, e percebe a beleza de tudo o que lhe cerca, em todas as coisas que existem naquele lugar. Foi então que percebera: “Estou no céu”.
Passeando por entre as ruas estreitas do céu, encontra homens santos em todos os lugares: Ray Wilkins e Peter Bonetti sentados discutindo esquemas táticos; Dennis Wise em uma sala aos berros em mais uma aula de como se deve incentivar os companheiros. Em outra sala, Mark Hughes demonstra o milagre que transforma a água em vinho, o que vulgarmente chamamos de assistência perfeita. Vai até a cozinha e encontra William ‘Fatty” Foulke preparando uma refeição dos deuses com o seu velho babador azul, o primeiro de todos. Cansado de tanto ver o gordinho comer resolve ir aos gramados e dá de cara com Claude Makelele e Ricardo Carvalho em frente aos portões do céu, como verdadeiros cães de guarda, a espera de qualquer Diabo Vermelho que tente invadir o sagrado solo. Resolve então que chegou a hora de conhecer deus, mas para sua surpresa encontra Didier Drogba sentado no trono, não por ser deus, mas simplesmente porque é Rei. Sim, eu disse Rei, por que existe um deus, na verdade existem 3 deuses que formam a tríplice aliança.
O Pai, José Mourinho, por ser o mentor de tudo, por ter recriado o céu e a terra que hoje chamamos de lar. Por nos ter escrito os mandamentos para que, enquanto nos mantivéssemos fiéis a ele, saíssemos vitoriosos de todas as batalhas.
O Filho, Frank Lampard, pois veio para nos libertar, veio para levar a todo aquele que ama o deus Mourinho à salvação, à glória eterna. Porque quando todos acharam que estava morto, ressuscitou e se tornou o maior de todos.
E o Espírito santo, John Terry, não por ser propriamente santo, Wayne Bridge que me confirme isto, mas por ser a alma, o sentimento de todo elenco nos últimos 10 anos.
Extasiado o jovem torcedor brasileiro percebe então que a vida não acabou. Não há motivos para preocupação e desespero. O que morreu foi a torcida pelo futebol brasileiro, não pelo futebol. O torcedor continua vivo, e finalmente encontrou um novo motivo para viver. Stamford Bridge é o céu, e para lá eu quero ir. Lampard é a salvação, e ao seu lado quero estar. Já não existe mais escuridão, está tudo azul e branco agora.
As palavras contidas nessa reportagem condizem à opinião do autor, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil.