Análise Tática: O 4-4-2 não tão britânico do Manchester City

Inglaterra. Terra dos inventores do futebol e do tradicional 4-4-2 em duas linhas. Por lá, esse esquema é quase unanimidade entre os menores times, que, geralmente, jogam de maneira muito parecidas. Um estilo mais físico e de passes longos, utilizando jogadores pelos lados (os wingers) que vão até a linha de fundo para levantar a bola pra área, onde seus companheiros, fortes no jogo aéreo, estão prontos para cabecear para as redes. É o estereótipo de uma equipe tradicionalmente britânica.

Desse tipo de equipe, o Manchester City, próximo adversário do Chelsea, tem só o esquema tático. Para você conhecer um pouco mais do time, preparamos uma análise de alguns comportamentos dos Citizens.

O 4-4-2 de Manuel Pellegrini no City (Foto: Reprodução)
O 4-4-2 de Manuel Pellegrini no City (Foto: Reprodução)

A primeira característica que difere o 4-4-2 de Manuel Pellegrini do tradicional estilo britânico são os homens de lado. David Silva e Samir Nasri não são wingers, são muito mais construtores de jogo. Estes jogadores são fundamentais para o bom funcionamento dessa formação no City, tanto que quando eles não estão em capo, quase sempre Pellegrini muda o esquema para o 4-2-3-1 e avança Yaya Toure como meia central. Silva e Nasri são tão importantes porque não guardam a posição, não ficam presos às laterais, mas circulam por todo o campo quando seu time tem a posse da bola.

De acordo com as estatísticas do site WhoScored, o time de Pellegrini tem uma média de 559 passes curtos por partida (segunda maior da Premier League) e 59% de posse de bola, e muito disso se deve ao trabalho desempenhado pela dupla. Observe nos mapas de calor abaixo que é o comum o ponta aparecer no lado oposto (Silva na direita e Nasri na esquerda) quando a jogada acontece por lá. Se a bola está no lado direito, o ponta esquerda não fica guardando sua posição, ele atravessa o campo para participar.

Mapa de calor de Silva e Nasri mostra a movimentação dos jogadores (Foto: Reprodução/Squawka)
Mapa de calor de Silva e Nasri mostra a movimentação dos jogadores (Foto: Reprodução/Squawka)

Outra característica importante do ataque citizen é a participação dos atacantes, o que também é diferente se comparado ao tradicional 4-4-2 britânico e seu estilo de jogo. Nada de dois atacantes trombadores na área esperando cruzamentos, os homens de frente do City são participativos na construção das jogadas. É comum ver os atacantes e os pontas invertendo o posicionamento quando o time tem a bola nas proximidades da área adversária. Ao quarteto ofensivo, se juntam um volante, quase sempre Yaya Touré, e um lateral. Os volantes e os laterais apoiam alternadamente, ou seja, enquanto um da dupla sobe ao ataque, o outro segura mais para equilibrar. Dessa forma, ataca com seis jogadores. Quando o oponente está muito fechado, os laterais costumam apoiar ao mesmo tempo e bem abertos para abrir a defesa adversária (o City tenta sempre invadir a área adversária para finaliza a jogada, chuta muito pouco de longe).

Todo este movimento de ataque descrito acima não é só para “confundir a marcação adversária”, como muitos comentaristas gostam de dizer. Essa movimentação também busca desestabilizar a marcação, mas serve principalmente para criar situações de superioridade numérica em setores chave do campo. Como assim? O lance do primeiro gol contra o Liverpool mostra exatamente isso, observe abaixo.

Situação de superioridade numérica do Manchester City (Foto: Reprodução)
Situação de superioridade numérica do Manchester City (Foto: Reprodução)

David Silva largou seu lado esquerdo e foi lá pra direita buscar o jogo. Jovetic não se enfiou na área esperando um cruzamento, fez o contrário, recuou para participar da construção da jogada. Zabaleta também não ficou de fora e subiu ao ataque para apoiar o ataque se juntando a Nasri. Tudo muito bem organizado e treinado, só quem não percebeu foram os jogadores do Liverpool, e isso é tudo que Manuel Pellegrini deseja neste tipo de lance. Note que algumas características desse ataque que já foram citadas também podem ser vistas aqui: o ponta oposto ao lado da jogada (David Silva) aproximando para participar, o lateral do setor (Zabaleta) subindo muito para apoiar o ataque, a participação dos atacantes (Jovetic) na construção das jogadas e a movimentação do quarteto ofensivo. É uma jogada muito utilizada pelo Manchester City.

Quando o time define o lado que vai atacar, lá vai o lateral correspondente subindo para apoiar e o ponta oposto cruzando o campo. Outro detalhe importante: na maioria das vezes, a jogada acontece em direção à área, quase nunca para a linha de fundo. O City joga muito pelos lados, mas faz poucos cruzamentos.

Já falamos bastante do ataque dos Citizens, agora vamos focar um pouco na defesa. Quando não tem a posse de bola, a equipe basicamente se defende com oito jogadores (os atacantes participam apenas da pressão na saída de bola). Costuma pressionar alto em alguns momentos do jogo, mas geralmente inicia as tentativas de recuperar a bola a partir do meio campo. A linha defensiva está sempre adiantada, e isso tem seus prós e contras. Por um lado diminui o espaço que o adversário tem para trabalhar a bola, por outro deixa um espaço nas costas que pode ser explorado por um jogador de velocidade. O time também é compacto e estreito, assim protege muito bem os espaços mais relevantes de cada jogada.

A imagem abaixo serve como exemplo. Note que a distância dos zagueiros para os meias é muito pequena, assim como a distância entre os laterais. Observe também que existe um jogador do Liverpool bem aberto no canto da imagem, mas a defesa não dá a mínima para ele, isso porque o espaço que ele ocupa não é relevante neste momento, o que importa são as regiões perto da bola.

Sem a bola, Manchester City é estreito e compacto (Foto: Reprodução)
Sem a bola, Manchester City é estreito e compacto (Foto: Reprodução)

Quando rouba a bola, a transição ofensiva é rápida e pelos lados. Embora seja um time de posse de bola e passes curtos, também leva perigo nos contra golpes, tanto que na última edição da Premier League foi o segundo time que mais marcou gols em jogadas desse tipo, cinco vezes (WhoScored).

Para o confronto contra o Chelsea, o Manchester City não deve mudar muito taticamente e acredito que a formação e as movimentações que foram destacadas aqui se repetirão. Veremos um Chelsea bem fechado, com grandes possibilidades do “Busão do Mourinho” aparecer no Etihad Stadium, tentando explorar os contra ataques. Mas não é tão simples assim, porque, como foi dito acima, o City costuma atacar com seis jogadores e deixar quatro para conter os contra golpes adversários. É fundamental que o time de Mourinho não permita superioridade numérica, como o Liverpool permitiu no primeiro gol, e saiba explorar os contra ataques mesmo com quatro oponentes na retaguarda (inverter o lado da jogada assim que roubar a bola pode ser uma saída).

No mais, fica a espera por um grande duelo entre os principais candidatos ao título inglês dentro do campo, com dois time de altíssimo nível, e fora dele, com dois estrategistas comandando suas tropas.

Category: Competições

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Article by: Chelsea Brasil

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