Segundo The Guardian, Chelsea estaria envolvido na compra de direitos econômicos de jogadores de outras ligas

Abramovich e Peter Kenyon, ex- (Foto: Peter Macdiarmid/Reuters)
Abramovich e Peter Kenyon, ex-chefe executivo do Chelsea (Foto: Peter Macdiarmid/Reuters)

De acordo com o jornal britânico The Guardian, o Chelsea estaria envolvido no financiamento de jogadores fora do campeonato inglês, contrariando as determinações da UEFA e da Premier League. Documentos no Reino Unido, Jersey e Irlanda sugerem que o Chelsea estaria trabalhando em parceria com Jorge Mendes, agente de José Mourinho, e a companhia Creative Arts Agency, que compra os “contratos de participação de direitos econômicos” em jogadores que atuam fora da Premier League.

Roman Abramovich aparenta ser parceiro das redes de empresas Quality Sports Investments e Quality Football Ireland, que operam através de um emaranhado de empresas e fundos no paraíso fiscal de Jersey, para comprar uma porcentagem dos “direitos econômicos” dos jogadores. Os fundos QSI buscam lucrar na venda de jogadores, operando através de empresas na Irlanda, onde o imposto corporativo é de 12,5%.

Peter Kenyon, ex-diretor executivo de Chelsea e Manchester United, que atualmente está em St. Helier, Jersey, teria ajudado a configurar a controversa transferência de Roberto Jiménez do Benfica para o Zaragoza, juntamente com Mendes e a CAA, logo após sua saída do Chelsea em 2010.

Quando perguntado pelo The Guardian se confirma ou nega seu envolvimento, e para explicar o propósito da entidade de investimentos que o clube teria em Jersey, e discutir possíveis conflitos de interesse, o Chelsea se recusou a discutir qualquer aspecto do mesmo. No entanto, fontes do time londrino indicam que o clube considera estar dentro das regras.

O balanço financeiro do Chelsea da última temporada, cita que o clube, através de uma de suas empresas britânicas, a Briskspring Ltd, possui uma parceria registrada em Jersey, a Burnaby Investments LP. Até novembro de 2012, esta parceria se chamava Quality Sports III Investments LP. As contas do Chelsea dizem que o parceiro do clube na Burnaby Investments LP é a Burnaby GP Limited. Seu país de registro não é especificado, mas não existe nenhuma Burnaby GP no Reino Unido ou na Irlanda. No entanto, existe uma empresa de mesmo nome registrada em Jersey. Seu balanço financeiro mais recente, em janeiro de 2013, revela que ele é de propriedade conjunta, com 100 ações cada, pela CAA e pela empresa de Mendes, a Gestifute International, que está registrada na Irlanda.

Assim, o Chelsea teria formado uma parceria com a CAA e Mendes, com a criação da Burnaby Investments LP em Jersey, que é descrito pelos documentos do clube como uma “empresa de investimentos”. As contas não explicam o tipo de investimento que a empresa realiza em Jersey, e o clube se recusou a explicar isso. No entanto, os registros da empresa sugerem que ela está ligada a uma empresa de compra e venda de “direitos econômicos” de jogadores de futebol: a Burnaby Investments Ireland Ltd. Até seu nome foi mudado em novembro de 2012, para Quality Football Ireland III Ltd.

Esta última empresa declarou nas suas contas financeiras relativas ao ano de 2011 que a QSI III teria pago um total de €10,5 m. Desse dinheiro, a Burnaby Investments Ireland gastou €9.8m na compra de quatro “ERPAs”, ou “contratos de participação de direitos econômicos” dos jogadores, entre dois clubes. As contas, afirmando que o dinheiro veio da QSI III, cobrem um período em que a parceria da Chelsea, Burnaby Investments LP, em Jersey, ainda se chamava Quality Sports Investments III.

Os documentos financeiros da Burnaby Investments Ireland Ltd relativos ao ano seguinte, a 31 de Dezembro de 2012, cobrindo o período após a mudança de nome da empresa dos Blues, afirmam que a quantia de € 10.5m foi recebida “da LP”.

(Foto: Guardian)
(Foto: Guardian)

A participação acionária da Burnaby Investments Ireland é realizada “para fins de caridade”, segundo suas contas. Seus diretores são os contadores baseados em Dublin, Rory Williams e Wendy Merrigan, que não quiseram responder ao The Guardian quando perguntados sobre o envolvimento do Chelsea. A rede da Quality Sports Investment e Quality Football Ireland opera através de pelo menos 10 entidades separadas em Jersey: cinco parcerias gerais (GPs) e cinco sociedades limitadas (LPs). De acordo com fontes envolvidas, a QSI opera fundos diferentes, arrecadando dinheiro para eles. A CAA, agência que a partir de sua sede em Los Angeles representa atores de Hollywood e bandas de rock, teria entrado no lucrativo mundo do futebol em 2010-11, e está envolvida com a “participação dos direitos econômicos” de três jogadores.

Uma das empresas, a Quality Football Ireland Ltd, é 70% de propriedade da própria CAA, com os outros 30% pertencentes por Michael Levine, residente em Nova York, e David O’Connor, residente em Los Angeles, ambos altos diretores da CAA. As contas mais recentes desta empresa irlandesa mostram que em 31 de dezembro de 2012, tinha £15m de “contratos de participação dos direitos econômicos”, e que o dinheiro circulou entre as empresas descritas como “QSI” e “QSI II”. A CAA não quis comentar sobre seu envolvimento com a QSI nem confirmar se o Chelsea teria algum envolvimento, mas a agência estaria disposta a vender seus lucros sobre os direitos econômicos.

A operação que envolve QSI, Burnaby Investments Ireland e Quality Football Ireland não divulgou publicamente a compra dos direitos econômicos dos jogadores, nem os seus atuais clubes. No entanto, o Sporting Lisboa declara que seus jogadores são de propriedade de fundos de “terceiros”. O relatório anual mais recente do Sporting, relativo à temporada 12/13, lista nove jogadores cujos direitos econômicos foram vendidos – em percentuais que variam de 25% a 50% – para Quality Football Ireland Ltd, Quality Football Ireland III Ltd (que agora se chama Burnaby Investments Ireland) e Quality Football Fund Ireland Ltd (que não existe mais nesse nome).

Entre os jogadores está incluído o atacante holandês Ricky van Wolfswinkel, que foi vendido ao Norwich City por £8.5m no final da última temporada. O relatório do clube português revela que 50% dos direitos econômicos do atacante pertenciam a uma das empresas Quality Football Ireland – não especificando qual delas – que comprou sua parte por € 2,5 milhões. A Premier League proibiu a posse de terceiros, o que significa que os 8,5 milhões pagos ao Norwich serviram para pagar as ações do Norwich e da Quality Football Ireland por Van Wolfswinkel.

Um porta-voz do Norwich City disse: “Confirmamos que estávamos cientes da propriedade de terceiros de Ricky van Wolfswinkel. Então nós articulamos com a FA para assegurar que todas as questões sobre a propriedade fossem resolvidas antes da transferência.”

Os outros jogadores do Sporting listados como propriedade das três empresas Quality Football Ireland foram: Carlos Chaby, meia de 20 anos (50% de seus direitos econômicos comprados por €1m); Christian Ponde, atacante de 19 anos (25% comprados por € 100 mil); Diego Rubio, atacante de 20 anos (40% comprados por € 1,4 m); Elias Trindade, meio-campista brasileiro de 28 anos (50% comprados por € 3.85m); Fabián Rinaudo, meio-campista argentino de 26 anos (50% comprados por € 1,1 m, vendido em Janeiro para o Catania); João Mário, meio-campista de 21 anos (25% comprados por € 400 mil, vendido em janeiro para o Vitória Setúbal); Stjin Schaars, meio-campista holandês de 30 anos (37,5% comprados por € 319 mil, vendido ao PSV no ano passado por £850 mil); e Tobias Figueiredo, defensor de 19 anos (50% comprados por € 1 milhão).

Não é possível ver a partir dos documentos da empresa arquivados publicamente se o dinheiro do Chelsea, ou do Burnaby Investments LP, financiou diretamente a compra dos direitos econômicos dos jogadores do Sporting. Mesmo se o Chelsea estiver envolvido na compra e venda de contratos de participação de direitos econômicos dos jogadores em outros clubes, eles não violariam as regras da Premier League, pois nenhum dos jogadores dos Blues são de propriedade de terceiros.

A Premier League proibiu a “propriedade de terceiros” de jogadores após a polêmica sobre as contratações de Carlos Tévez e Javier Mascherano pelo West Ham em 2006, quando os direitos econômicos dos dois jogadores ainda eram propriedade de duas empresas registradas em paraísos fiscais. Richard Scudamore, chefe executivo da Premier League, que se envolveu em uma saga longa de ações judiciais e processos disciplinares sobre o caso Tevez – West Ham foi multado em £ 5,5 milhões pois não divulgou corretamente os contratos – é totalmente contrário à esta prática. A Uefa concorda fortemente, e em aliança com Scudamore, pressionou a Fifa para proibi-la.

Não está claro se a Premier League já considerou a possibilidade de que, mesmo proibindo a “propriedade de terceiros” de jogadores no futebol inglês, seus clubes possam estar envolvidos na posse de jogadores de outras ligas. A Premier League se recusou a comentar sobre o aparente envolvimento do Chelsea.

O envolvimento do Chelsea em uma parceria com Mendes e a CAA através da Burnaby, sem discuti-lo abertamente, levanta muitas questões. Uma delas é se o Chelsea poderia estar envolvido nisso para garantir a preferência de jogadores em outros clubes.

Mendes e Kenyon trabalharam em conjunto, quando Kenyon, na época presidente-executivo da United contratou Cristiano Ronaldo, Anderson e Nani, jogadores agenciados por Mendes. Após sua chegada no Chelsea para suprir os desejos de Abramovich por troféus, Kenyon contratou Deco, Ricardo Carvalho e Paulo Ferreira, jogadores que também são agenciados por Mendes, cuja empresa é conhecida por comprar os direitos econômicos dos jogadores, e representá-los, recebendo parte do dinheiro de uma possível transferência para outro clube.

Mais recentemente, quando o Manchester United contratou Bebé em 2010, a Gestifute comprou 30% dos “direitos econômicos” do jogador poucos dias antes da transferência, e passou a representá-lo, após Bebé ter demitido seu antigo agente Gonçalo Reis. Dos € 9m que o Manchester United pagou ao clube português Vitória Guimarães, a Gestifute teria recebido € 2.7m pela “propriedade” de 30% do jogador, e o agente também recebeu a taxa de 10%: £3.6m no total, embora Mendes nunca confirmou estes números.

O Guardian fez perguntas detalhadas à Gestifute e a Kenyon sobre a QSI, as empresas irlandesas e o provável envolvimento com o Chelsea. Ambos se recusaram a comentar sobre o assunto.

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Article by: Chelsea Brasil

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