Quando o Chelsea conseguiu se estabilizar financeiramente, em meados da década de 90, após 20 anos de altos e baixos dentro e fora de campo, o clube passou a cada vez mais preencher espaços no cenário nacional e internacional e ao final da década já figurava novamente entre os grandes da Inglaterra.
Um dos acontecimentos que impactou as finanças do clube e ajudou a administração a se estabilizar foi a venda de Stamford Bridge, e do terreno onde ele se encontra, aos próprios torcedores, funcionários e jogadores do clube. Isto se deu em decorrência da crise institucional e financeira do clube, que foi muito grande durante a década de 80. À época, o estádio e seu terreno foram vendidos para quitar as dívidas, com o Chelsea tendo que alugar Stamford Bridge para disputar seus jogos. O terreno passou às mãos da Marler Estates (posteriormente Cabra Estates), uma empresa do ramo imobiliário que adquiria terrenos para construção de prédios e condomínios.
O objetivo da empresa era fazer exatamente isto com o Stamford Bridge e o Chelsea, por pouco, não se viu sem seu terreno sagrado. Contudo, graças a uma falência do grupo na década de 90, o dono do clube à época, Ken Bates, conseguiu fazer os arranjos necessários para que jogadores, torcedores e funcionários do clube se juntassem e adquirissem o estádio e seu terreno, o que ocorreu em 1994, após dois anos de negociações.
Com isso foi criada a Chelsea Pitch Owners, uma organização sem fins lucrativos formada por acionistas, que até hoje é dona do estádio. Sem a necessidade de aluguel e podendo explorar economicamente o entorno de Stamford Bridge, em poucos anos o Chelsea se reorganizou financeiramente e passou a brilhar.
E foi no ano da quebra de um jejum de mais de 25 anos sem títulos que o Chelsea iniciou a última reforma de Stamford Bridge. Em 1997 os Blues venceram a FA Cup e começaram a reforma das alas sul e norte do estádio, que só terminariam em 2001, após o projeto acabar por ser uma remodelagem completa do SB.
Veja, abaixo, o antes e o depois:
Curiosamente, a reforma de Stamford Bridge teve um efeito negativo para o clube, gerando, novamente, uma crise financeira, pelos gastos com a reforma, que levaram-no, mais um vez, à beira da falência. O mais interessante é que a crise das décadas de 70 e 80 foi gerada exatamente pela reforma anterior à de 1997, quando o clube, no início da década de 70, resolveu ampliar a capacidade do estádio (devido ao enorme sucesso à época), mas o fez de forma irresponsável, levando o clube a falir e passar por anos terríveis.
Desta vez, no início dos anos 2000, todavia, ao invés de levar o clube de volta às trevas, a crise financeira causada pela nova, e última, reforma de Stamford Bridge, acabou por trazer os azuis de Londres ao patamar onde ele hoje se encontra, consolidado com um dos principais da Europa.
Contraditório, não? Mas é a verdade. A dívida do clube era tanta que Ken Bates, dono do Chelsea na época, colocou o clube a venda para alguém que se interessasse a pagar os passivos do clube. E adivinha quem foi o louco que se interessou?
Pois é. Ele mesmo: o russo Roman Abramovich.
E graças ao investimento dele, dentro e fora de campo, conseguimos estar onde estamos. Campeões de quatro Premier League e da FA Cup, duas Copas da Liga, uma Europa League e uma Champions League, em 12 anos sob seu comando. Fora de campo, Abramovich teve impacto ainda mais significativo: construiu novos centros de treinamento, como Cobham, investiu nas categorias de base, em marketing (hoje o Chelsea é uma das marcas esportivas mais valiosas do mundo/cerca de 1,2 bilhões de libras atualmente) e reformulou todo o sistema administrativo do clube, a ponto de atualmente o Chelsea gerir-se sozinho, sem a necessidade de um centavo do russo, e ainda por cima dar lucros.
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Entretanto, há ainda um passo para Abramovich e para o Chelsea: a ampliação de Stamford Bridge, que hoje é pequeno para o tamanho da paixão e do sucesso do clube. Os 41.798 lugares já não são suficiente para o tamanho dos Blues e, desde que comprou o clube, em 2003, Abramovich já planeja e tenta a expansão do estádio.
E agora, finalmente, parece que realmente ela sairá do papel, com um novo Stamford Bridge a caminho e já até com identidade visual divulgada, aguardando apenas estudos finais para ser colocada em prática: um sonho próximo de se realizar.
Se a última reforma de Stamford Bridge “ajudou” o clube a crescer pelos motivos errados, esta certamente fará com que o clube cresça e evolua ainda mais pelos motivos certos.
O novo estádio aumentará significativamente a renda do clube, que poderá chegar perto de dobrar, apesar do aumento de apenas 50% da capacidade (41.798 para 60 ou até mesmo 65 mil). Esta dobra na renda tem a ver com os espaços que serão ampliados no estádio.
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Lugares cativos serão mantidos, com os torcedores que compram carnês para todos os jogos da temporada tendo seus direitos mantidos. Porém, serão ampliados setores e vagas para pessoas que querem comprar um ingresso por vez, ingressos de balcão, que, é claro, são mais caros.
Com isso, a renda que hoje fica entre 67 e 75 milhões de libras, por temporada, poderá crescer em mais de 50 milhões, significando que, ao final de cada ano, os Blues terão este valor a mais para investir no futebol, o que, dentro da nova realidade do Fair Play Financeiro da UEFA, pode significar um salto gigante.
Até mesmo porque, atualmente, mesmo com uma renda de estádio menor do que a de seus principais concorrentes (os rivais de Manchester, Liverpool e Arsenal), o Chelsea consegue compensar pela força de seu marketing, divulgando a marca e assinando contratos que mantêm as rendas páreas – e até acima – em relação as de seus principais adversários na Inglaterra. Assim, com as rendas crescentes de patrocínio e acordos de mercado, e com as novas rendas vindas do novo Stamford Bridge, os Blues serão ainda mais uma potência.
E o mais curioso disso tudo: nenhum centavo para a reforma do estádio precisará sair dos cofres do clube. Por quê? Porque o estádio não é do clube, lembra? Pois é. O investimento será feito por Roman Abramovich, através da Chelsea Owners Pitch, da qual ele faz parte. Tal manobra é sensacional e poupa o clube dos sofrimentos das reformas anteriores.
O custo (anunciado: 500 milhões de libras/provável: bem mais) será alto e a espera longa, com o novo Stamford Bridge podendo ser aberto apenas em 2020, caso as obras se iniciem mesmo em 2017. Se elas se iniciarem um ano antes, poderemos ver o estádio aberto já em 2019.
Mas não importa quando, nem importa se jogaremos nesse período em Wembley ou em Twickemham enquanto as obras não são concluídas, o que vale é que teremos um estádio a altura do clube, com aumento da renda e que ainda por cima será bonitão.
Por sinal, caro leitor, você já viu o projeto dele? Como o novo Stamford Bridge será? Dê uma olhada aqui. Vale a pena!