
O jornalista Mauro César Pereira, usando uma das ferramentas da ESPN, publicou em seu Twitter gráficos que mostram como os cinco principais jogadores do meio-campo do Chelsea se movimentaram ao longo da temporada 2012/2013.
Usando as imagens cedidas pelo jornalista, fizemos uma análise de como o setor mais promissor do time se comportou e apresentaremos uma projeção do que esperar para a próxima temporada.
A primeira observação importante a ser feita é em relação ao esquema que foi predominantemente usado por Roberto di Matteo e Rafael Benitez. Enquanto o italiano usou em algumas ocasiões o esquema 4-3-3, o espanhol usou praticamente apenas o 4-2-3-1 – tendência europeia em quase todos os times.
O 4-3-3 é um esquema que fortalece o ataque, disponde o time do meio para frente em dois triângulos que além de força, oferece também mobilidade ao time. Nessa formação os três jogadores mais avançados podem ser meias, alas, atacantes ou centro-avantes. A seleção brasileira atualmente usa a mesma formação que tem um meio-campo robusto com três jogadores, dois atacantes e um centro-avante. No caso do Chelsea, às poucas vezes que o esquema foi utilizado, Juan Mata, Oscar e Eden Hazard se alternaram nas posições mais próximas a Fernando Torres que foi usado como atacante principal.
Já o esquema do momento na Europa, o 4-2-3-1 usado pelo Barcelona e pela seleção espanhola e também por José Mourinho no Real Madrid, quebra o meio de campo em duas partes: dois defensores e três jogadores de apoio, além de um atacante ou centro-avante. Essa formação foi a mais utilizada pelo Chelsea na temporada passada pelos dois técnicos que dirigiram o clube e Mourinho já declarou ser o seu esquema preferido, ainda que não tenha confirmado que será a formação a ser utilizada por ele no Chelsea. Nesse esquema há dois volantes que protegem a defesa, enquanto um triângulo composto normalmente por dois alas e um meia jogam mais próximos ao atacante.
O 4-2-3-1 do Chelsea: ‘2’
No ‘2’ do esquema tático os jogadores que predominaram nas escalações foram Ramires e Frank Lampard.
Começando pelo brasileiro, vejamos como o meio-campista mais defensivo dos Blues se comportou:

Ramires joga como o que os ingleses chamam de box-to-box ou B2B que seria o jogador que vai de uma área a outra e o gráfico do #7 mostra que realmente a movimentação é uma das grandes características do brasileiro. As zonas em vermelho destacam onde o jogador teve a posse de bola, enquanto as áreas verdes e azuis mostram a sua movimentação sem a bola.
Ramires teve como principal responsabilidade dar botes, fazer intercepções, marcação e roubar a bola do adversário. Benitez chegou a utilizá-lo no ‘3’ como ala direito, mas a qualidade do passe de Ramires esteve abaixo do esperado e logo ele foi movido de volta à posição de volante. Além disso o jogador se mostrou rápido sem a bola, mas não tanto enquanto a conduzia.
À frente de Ramires quem mais jogou foi Lampard, que tinha responsabilidades semelhantes ao brasileiro, porém com mais liberdade para avançar. Essa liberdade tática ofereceu ao #8 dos Blues a chance de marcar mais gols pelo time, e fez com que ele se tornasse o maior goleador de todos os tempos vestindo a camisa azul.

Como era de se esperar, Lampard ocupou mais o lado esquerdo do meio campo, já que Ramires com frequência jogou pelo lado direito, com ambos ocupando o meio também. O inglês também se aproximou da entrada da grande área adversária mais vezes, e muitos dos seus gols na temporada passada nasceram dali, além das cobranças de pênalti.
Entretanto para que o 4-2-3-1 funcione bem, é preciso que pelo menos um dos jogadores do ‘2’ seja ágil e faça uma transição rápida entre defesa e ataque e nesse ponto o esquema aplicado ao time mostrou deficiências. Ninguém questiona a velocidade de Ramires, que impressiona correndo atrás da bola e dos adversários, mas não é esse tipo de velocidade que o esquema pede. A bola é que deve rolar rápido para chegar logo ao ataque e para isso há dois caminhos: passes longos ou correr com a bola. Lampard obteve maior sucesso com os passes de média e longa distância, mas sua maior característica nunca foi a velocidade. Ramires por outro lado corre bem sem a bola, mas com a bola o meio-campista perde um pouco da sua agilidade. Além disso, o brasileiro tem um aproveitamento baixo de lançamentos certos e ele não está entre os melhores passadores do time.
A exceção, é claro, fica por conta de equipes como o time nacional espanhol já citado, que empregam o tiki taka, futebol marcado pela posse de bola sem pressa. A bola roda entre os três jogadores mais avançados do meio-campo, algumas vezes com a aproximação de um ou dois jogadores do ‘2’, enquanto o time espera o momento certo para dar o bote. Mas a qualidade técnica de todos os jogadores envolvidos deve ser alta para que a posse de bola possa ser revertida em domínio e tanto o Barcelona quanto a seleção espanhola tiveram dificuldades de impor seu jogo como faziam no passado já que os rivais estão aprendendo a explorar a lentidão e previsibilidade do esquema. O Bayern de Munique e a seleção brasileira mostraram recentemente (na Liga dos Campeões e na Copa das Confederações) como neutralizar o tiki taka com marcação acirrada e objetividade quando tiveram a posse de bola. A tendência é que para sua sobrevivência o 4-2-3-1 empregue velocidade e verticalidade ao invés do modelo espanhol de toque exaustivo de bola. A versão do esquema utilizada por Mourinho no Real Madrid apresentava como principal característica o contra-ataque e a rápida transição entre defesa – meio-campo – ataque e se mostrou efetiva, já que o treinador conseguiu quebrar a hegemonia que o Barcelona ostentava no confronto direto com os madridistas.
De volta ao Chelsea, a falta de velocidade foi sentida principalmente na Premier League, já que a liga inglesa é muito mais física e rápida que as outras competições europeias. O time muitas vezes reteve a bola, mas não conseguiu transformar a possessão em jogadas de perigo. A posse de bola dos Blues também não mereceu destaque, e muitas vezes o time dividiu a estatística ou até mesmo perdeu para equipes de menor expressão. Sem posse de bola e sem velocidade, o 4-2-3-1 perde sua efetividade e competitividade, ficando difícil explorar as melhores qualidades dos principais jogadores dos Blues.
Esse com certeza será um dos desafios de Mourinho ao montar o time para a próxima temporada. Apenas um reforço foi trazido ao setor ‘2’ do campo – Marco Van Ginkel – mas o holandês de 20 anos pode ser ainda muito novo para assumir a responsabilidade de oferecer profundidade e agilidade à transição do Chelsea. Além de Ramires e Lampard e do novo contratado, Mourinho também contará com John Obi Mikel e Michael Essien – que volta ao time após empréstimo ao Real Madrid na temporada passada. Vale ressaltar que nenhum dos jogadores citados prima pela velocidade em conduzir a bola ou pela precisão dos passes de média e longa distância, mas Mourinho com certeza irá trabalhar esses fundamentos nos treinamentos táticos que se iniciam na próxima semana, durante a pré-temporada nos EUA.
Na próxima parte da matéria vamos analisar o ‘3’ do esquema com os jogadores Hazard, Oscar e Mata e também fazer projeções quanto às opções táticas de Mourinho para a nova temporada.
As palavras contidas nessa reportagem condizem à opinião da autora, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil. As imagens utilizadas pertencem a Mauro Cézar Pereira e ESPN.