Durante praticamente dez anos, o Chelsea se sustentou por ser uma equipe com uma base sólida e bem estabelecida: fruto de um planejamento que antecedeu a chegada de um certo treinador português, mas que com ele ganhou força e uma identidade que passou, diretamente, pela escolha dos jogadores que vestiriam o manto azul de Londres.
Se nos lembrarmos bem, quando José Mourinho chegou ao Chelsea no verão de 2004, logo após ter conquistado sua primeira Champions League, o clube buscava se encontrar, se reinventar, sob a batuta de seu novo dono, Roman Abramovich; mas principalmente o clube buscava se estabelecer como um dos grandes da Inglaterra. E ao assumir esta missão Mourinho encontrou no elenco do Chelsea um diamante bruto, que precisava ser cuidadosamente lapidado para brilhar. Mourinho viu no grupo a sua frente uma espinha dorsal já constituída, mas que precisaria de certos ajustes, de certos reforços, para poder, de fato, brigar pela tão sonhada Premier League.
Poucos se lembram mas quando o português chegou a Harlington já estavam no elenco nomes como os eternos líderes John Terry e Frank Lampard, além de Damien Duff, Claude Makélélé, Eidur Gudjohnsen, Hernan Crespo, Wayne Bridge, Willian Galas, Carlo Cudicini e o então golden boy Joe Cole.
Mourinho não encontrou um time medíocre, fraco. Pelo contrário. Foi-lhe entregue um plantel que na temporada anterior, sob comando de Claudio Ranieri, terminou como vice campeão inglês. Mas era preciso torna-lo ainda mais forte. Era preciso adicionar força, ambição, decisão. E o português soube perfeitamente fazer a leitura do elenco e cirurgicamente adicionou peças que fizeram do Chelsea um clube vencedor. Mais do que isso Mourinho adicionou músculos e um sistema nervoso ao bom esqueleto que encontrou: construiu uma equipe que durou quase 10 anos – basta ver a base do time campeão da Champions League, oito anos depois.
Ricardo Carvalho, Paulo Ferreira e Tiago foram alguns dos nomes trazidos por Mourinho na janela de verão. Nomes que deram sustentação à equipe e ajudaram a consolidar o que viria a ser o imbatível sistema defensivo do Chelsea, que brindou a torcida com dois consecutivos títulos da Premier League, nas temporadas 2004/2005 e 2005/2006. Outros nomes adicionados pelo treinador naquela temporada foram simplesmente Arjen Robben, Didier Drogba e Petr Cech. Mais tarde, em anos seguintes, vieram Michael Essien, Obi Mikel, Michael Ballack e Ashley Cole.
Foi um time que durou dez anos e que venceu tudo. Fomos mais que felizes com esta equipe montada pelo Special One que, ao final desta década de vitórias, está novamente entre nós, agora com a alcunha de Happy One. E o que poucos estão percebendo são as coincidências entre a montagem daquele elenco vencedor e do atual.
Mourinho encontrou em 2013 um elenco que tinha, além dos veteranos de sua primeira passagem (Terry, Ashley Cole, Lampard e Cech), uma espinha dorsal e bons talentos. O time, antes da chegada de Mou, já tinha uma politica de reinvenção em curso, bem como dez anos antes. Hazard, Oscar, Azpillicueta, Cahill, Ramires, Ivanovic, juntos aos veteranos, compunham uma equipe que vencera a Europa League, mas que precisava, novamente, se compor como elenco para provar a grandeza do Chelsea, que foi colocada em cheque com o fim exatamente da equipe que Mourinho montara lá atrás.
E é aí que entra novamente a mão do mestre, do Special One. Com a mesma leitura de 10 anos antes ele vai construindo um esquadrão vencedor peça por peça. E as coincidências são várias. Se lá atrás ele trouxe Drogba para chefiar o ataque, cercado de dúvidas, hoje ele nos brinda com um Diego Costa igualmente envolto numa áurea de incerteza, mas que vêm provando que tem tudo para reinar com fez seu predecessor.
O clube, há dez anos, precisava de criatividade e ele trouxe Robben. Hoje nos deu o fantástico Fàbregas, que não só passará a comandar o jogo dos blues, como têm a missão de suceder Super Frank. Claro que a posição de Cesc é diferente da do holandês e de Lampard, mas é um paralelo de como Mourinho soube enxergar as carências do elenco.
Veio Ashley Cole por uma bagatela e hoje o Chelsea traz um grande Filipe Luis para suceder naturalmente a posição. E para tirar o lateral inglês do Arsenal foi preciso se livrar de Galas, que, até então, era peça importante para o time, apesar de ter ido de titular absoluto à reserva de luxo, que jogava em mais de uma posição: preciso mesmo citar a história de David Luiz?
Lampard estava lá no elenco e se tornou um jogador fundamental no esquema por anos e, apesar das críticas e dúvidas de muitos, principalmente de brasileiros, Oscar pode ser também por um bom tempo um jogador tão fundamental como foi Frank e já mostrou em vários momentos que têm potencial para isso. Inclusive neste inicio de temporada, mais adequado ao novo sistema de Mourinho, mostrou que é peça chave no meio de campo.
Hasselbaink era artilheiro e um dos grandes nomes antes de Mourinho e foi deixado ir. Mata fora eleito por duas temporadas seguidas craque do time e foi vendido. As duas saídas causaram desconforto nos torcedores e na imprensa, mas se provaram necessárias.
No gol, Cudicini se mostrava um dos grandes nomes da Premier League e o português teve a audácia de pô-lo no banco em favor de um jovem Petr Cech. Hoje este cumpre a mesma função de seu antecessor e dá lugar a um jovem Courtois. A historia se repetirá?
Joe Cole estava lá quando Mou chegou em 2004. Era um #10 jovem, driblador, incisivo, ofensivo, rápido. Hazard também já estava no elenco quando o treinador retornou e têm as mesmas características e funções do inglês, mas parece ainda melhor; sem mencionar a incrível semelhança física dos dois.
Além destes, vale destacar as adições de Mátic, Willian e Schürrle na temporada passada e Zouma, Rémy e o ídolo Drogba na atual, que, além de profundidade ao elenco, dão aos blues de Londres um leque fantástico de ótimos jogadores, com poder de decidirem partidas.
José Mourinho mostrou no seu retorno ao Chelsea que tem não só a mesma sede por títulos, mas principalmente a mesma incrível visão das necessidades e virtudes da equipe e capacidade de montar um elenco vencedor. Como no passado ele vai ao mercado e novamente de forma cirúrgica traz para Londres grandes jogadores com capacidade de manter a história de glórias do Chelsea por muitos anos. E se olharmos para o passado o elenco de hoje parece ainda mais forte do que aquele de uma década atrás.
Em entrevistas recentes, o Happy One tem afirmado que o Chelsea tem um time para 10 anos e ele não está errado. Com nomes como Diego Costa e Fàbregas aliados à Hazard, Oscar, Ramires, Schürrle, Willian e Mátic os fãs do Leão de Londres podem muito bem esperar que a próxima década seja ainda mais feliz do que a que passou.
As palavras contidas nessa reportagem condizem à opinião do autor, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil.