
Único jogador do Chelsea que já conquistou uma Copa do Mundo, Fernando Torres é um dos representantes dos Blues na Copa do Mundo. Parte importante da conquista hispânica de 2010, Torres falou ao site oficial do Chelsea sobre sua experiência na África do Sul.
“Uma Copa do Mundo é sempre algo diferente,” disse, com a propriedade de quem, além de ter conquistado o título em 2010, esteve na Copa de 2006, quando, apesar de a Seleção Espanhola não ter tido bom desempenho, foi possível ver lampejos da qualidade dos jogadores que, notavelmente, conquistariam a Europa e o mundo, nos quatro anos sequentes.
“O grupo que esteve na África do Sul e conquistou a Copa do Mundo foi, mais ou menos, o mesmo grupo que esteve na Alemanha quatro anos antes,” explicou Torres. “Penso que a experiência da saída precoce na Copa do Mundo (em 2006) foi de grande ajuda para o futuro, em particular para a África do Sul.”
“Dois anos depois disso, vencemos a Euro. Rapidamente, nos tornamos uma equipe que sabia como vencer, mas também sabíamos que a Copa do Mundo era completamente diferente. Não é uma Euro. Fomos para a Copa do Mundo da África do Sul como favoritos, o que foi uma coisa nova para nós. A Espanha sempre foi uma equipe que poderia ser uma candidata, mas nunca venceu. Por isso as pessoas nunca preocuparam-se com ela.”
“Naquele momento, éramos os campeões da Europa e os favoritos número um. Todos estavam contra nós, todos queriam nos vencer – e logo perdemos o primeiro jogo, contra a Suíça,” rememorou Torres. “A pior coisa da derrota contra a Suíça foi o fato de termos perdido jogando da forma como gostaríamos de jogar. Às vezes, você começa a pensar se esse é o melhor caminho a percorrer. Havia dúvidas na imprensa. Lembro-me de uma reunião que tivemos depois daquele jogo. Concordamos que foi um acidente. Jogando dessa forma, sabíamos que iriamos ganhar mais jogos do que perder.”

“Não tínhamos nenhuma dúvida sobre o estilo que estávamos jogamos, mas sabíamos que não poderíamos perder mais pontos na Fase de Grupos, porque, caso contrário, estaríamos fora.”
Depois disso, a Espanha entrou nos eixos, batendo Honduras e Chile. Além disso, para melhorar a situação hispânica, a Suíça perdeu pontos nos jogos seguintes e a Espanha se classificou em primeiro lugar.
“Em seguida, enfrentamos Portugal, nas oitavas de finais. Eles sempre são um adversário difícil para a Espanha – eles sabem como jogar contra nós, são muito agressivos, não concedem espaços e, com jogadores como Cristiano Ronaldo e Nani, são muito bons nos contra-ataques.”
A partida contra Portugal foi apertada, tendo sido decidida com um gol solitário de David Villa. Nas quartas de finais, contra o Paraguai, o quadro se repetiu, exceto por um fato.
“No minuto 70, eles tiveram um pênalti. Se tivessem marcado, estaríamos fora. Não haveria tempo para a reação. Iker (Casillas) defendeu o pênalti e depois disso marcamos nosso gol. Passo a passo, nossa confiança foi crescendo, e fomos nos tornando melhores como um time.”
Nas semifinais, a Espanha enfrentou a surpreendente equipe da Alemanha, que tinha valores muito jovens, e, mesmo que a partida não seja lembrada como um grande clássico, novamente a Espanha fez o seu trabalho.
“Nós os vencemos dois anos antes na final da Euro 2008 e eles queriam a revanche. Foi um jogo difícil, feio. Foi muito duro e sem muitas chances. Assim, marcamos em um escanteio! A Espanha venceu a Alemanha com um gol criado em um escanteio – ninguém esperava isso. Futebol é isso, e é por isso que é bonito, porque esse tipo de coisa pode acontecer.”
Para o título, faltava apenas bater a Holanda. A final, em Johanesburgo, foi muito física. Os holandeses claramente sentiram que uma proposta agressiva era o melhor a adotar para parar o jogo de passes da Espanha. E isso quase funcionou. Arjen Robben foi culpado pela perda de duas chances cara a cara com o goleiro, no tempo normal. Então, com a iminente disputa de pênaltis, a Espanha marcou. Foi a quarta vitória, em sequência, por 1×0.
“O gol de Iniesta ficará em nossas cabeças e mentes para sempre. Todos na Espanha podem te dizer os passes que fizemos antes de Andres marcar o gol. Foi um sentimento fantástico. Algumas vezes, quando você é criança, pode sonhar, mas para nós, como também para os espanhóis, nós nunca sonhamos tão alto quanto uma vitória na Copa do Mundo. Crescemos vendo a Espanha na televisão, sem conseguir ir além das quartas de finais.”

“Era algo que estava lá, naquele momento, e precisávamos leva-la. Ninguém sabe se jogará outra final de Copa do Mundo. Sabíamos que era a nossa chance, e não poderíamos perder a chance e pensar que, no futuro, teríamos outra. Foi o jogo de nossas vidas.”
É claro que, quatro anos depois da conquista, a magnitude do feito de Torres e de seus companheiros não se esvaiu. De fato, analisando o fato agora, o atacante é capaz de refletir sobre a maior conquista: a garantia de um lugar no contexto dos campeões da Copa do Mundo.
“Com o passar do tempo, é ainda mais excitante olhar atrás e ver essas memórias. Quando nos encontramos na Seleção, conversamos muito sobre isso, especialmente o grupo que esteve lá. Ninguém acreditava nesse grupo quando começamos a jogar juntos. Foi uma transição difícil da Alemanha em 2006 para a Áustria em 2008, quando conquistamos a Euro. Foi um tempo realmente muito duro para Luis Aragones, que era nosso treinador, e para os jogadores, pois ninguém queria que a Espanha jogasse com passes curtos e muita posse de bola. Ninguém queria esse tipo de futebol; ninguém gostava desse tipo de futebol.”
“Todos estavam dizendo que não conseguiríamos ir à Copa do Mundo ou a Euro jogando assim, pois os times mais fortes nos destruiriam. Havia muitas críticas em torno do time. Isso nos fez muito fortes. Aragones sempre disse: ‘Esse time será campeão. Vocês ainda não acreditam nisso, mas vocês acreditarão.’”

“Vencer a Euro nos deu a grande chance de entender o que ele dizia, mas o espírito e a forma como nos comportávamos como um grupo estava lá. Sabíamos que poderíamos vencer a Copa do Mundo, mesmo depois de perder contra a Suíça. Essa convicção foi a chave.”
“Uma vez que você vence, você aprecia ainda mais, por causa do que o grupo havia feito no passado. Obviamente, você vencer a Copa do Mundo é o principal, mas, quando você vê seus companheiros, fica feliz por todos eles. Esse é um ótimo sentimento, quando você vence e se sente feliz não só pelo troféu, mas porque seus companheiros também estão felizes.”