Análise Tática: Arsenal 3 x 2 Chelsea – falhas determinaram a derrota das Blues

Na rodada de abertura da FA Women’s Super League Gunners e Blues protagonizaram um confronto bastante movimentado. A partida que aconteceu no Emirates Stadium terminou com o placar de 3-2 para as donas da casa.

Muito da vitória do Arsenal, na verdade, se deveu a um erro da arbitragem ao não marcar um impedimento claro de Beth Mead na jogada do terceiro gol. No entanto, a performance do Chelsea foi muito abaixo do normal – o que fica nítido, principalmente, pelo elevado número de gols sofridos.

As equipes rivais de Londres, agora, se encontrarão novamente neste domingo (5). Em Wembley, as equipes disputarão o título da Women’s FA Cup – com transmissão na ESPN e no Star+ às 11h (horário de Brasília). Nesse sentido, será a terceira vez em que os times da capital disputam entre si o campeonato. Na primeira ocasião, na temporada 2015/16, o Arsenal foi campeão. Enquanto em 2017/18, as Blues garantiram o título.

Por causa dessa proximidade entre os confrontos, o Chelsea Brasil deixará aqui o “Como joga” feito para o último jogo entre as equipes. Assim, neste “Análise Tática” aspectos chave do encontro entre Chelsea e Arsenal de setembro serão apontados para ajudar ainda mais na leitura do jogo das adversárias. Bem como serão destacadas as expectativas e as possíveis escalações para o jogo deste fim de semana.

Novidades dos dois lados

A partida marcou a estreia oficial de Jonas Eidevall como técnico do Arsenal. O treinador escalou seu time na sua formação preferida de 4-3-3. Com destaque para Vivianne Miedema no comando de ataque e para as alas Mana Iwabuchi e Beth Mead.

Por sua vez, o Chelsea foi escalado por Emma Hayes em um 3-4-3. Uma formação que não era convencional para as Blues. Nesse sentido, Magdalena Eriksson, Millie Bright e Jess Carter formaram a nova organização da linha de defensoras. Por conta dos jogos olímpicos, muitas jogadoras do time retornaram perto da data da partida. Portanto, apesar do entrosamento do Chelsea, o time ainda estava fora do seu ritmo habitual.

(Reprodução: Total Football Analysis)

A qualidade ofensiva de ambas as equipes foi o destaque da partida, com um bom número de chutes para cada lado. Porém, o Arsenal foi muito mais eficiente – mesmo tento menos finalizações que as adversárias, elas foram melhor aproveitadas. Além disso, pelo fato de as Blues ficarem atrás no placar, houve a necessidade das comandadas de Hayes controlarem mais a partida. Sobretudo no quesito posse de bola.

A tática das Blues

Logo nos primeiros momentos do jogo, ficou nítido que o Chelsea não iria pressionar na marcação. Bem como permitiria que o Arsenal tivesse algum controle da bola. Principalmente pelo fato de as Gunners apostarem bastante na velocidade do seu ataque. Nesse sentido, deixar espaços, pelo menos no início da partida, seria um grande perigo.

Em alguns momentos, Pernille Harder buscava apertar um pouco na marcação da jogada. Porém, sem pressionar a defensora do Arsenal a ponto de gerar algum erro. Assim, essa tendência seguiu para o resto do time. A marcação das Blues não foi tão incisiva, como de costume. Portanto, as Gunners conseguiram se aproveitar dessa falta de intensidade defensiva para construir seus ataques.

No entanto, com o avançar da partida o Chelsea obteve a posse de bola e fez um jogo que estava mais parecido com o habitual estilo proposto por Emma Hayes. Com a posse, as alas apareceram mais na partida. Sobretudo com a compactação da linha de ataque na faixa central do campo:

Boa estrutura, mas com execução falha

Na teoria, o 3-4-3 escolhido por Emma Hayes poderia ser uma boa ideia. Contudo, sua execução foi muito falha e em última instância foi uma das grandes razões para as Blues serem derrotadas na abertura da FA WSL.

Enquanto Niamh Charles jogou pela direita, Guro Reiten fez a função de ala do lado oposto. Porém, enquanto Charles possui características mais defensivas, até mesmo jogando de lateral direita em algumas oportunidades, Reiten é muito mais uma jogadora do último terço do campo.

Dessa forma, a camisa 11 do Chelsea parecia não estar 100% em sintonia com o novo sistema. Em outras palavras, estando em uma posição não muito habitual para ela, Reiten muitas vezes não conseguia retornar para fazer a cobertura defensiva. Com isso, espaços se abriram na defesa das Blues. Ao mesmo tempo que, por conta do deslocamento das alas a todo momento, o cansaço bateu e jogadas ofensivas morriam com erros bobos. Tanto de passe como de posicionamento.

Organização das jogadas de transição

Diante de uma defesa forte como a do Arsenal, a transição entre defesa e ataque deve ser feita com precisão e com o apoio das meio campistas. Durante a partida, o Chelsea acabou deixando de utilizar as meias centrais, dando prioridade às descidas laterais – o que não estava dando resultado.

Porém, na etapa complementar, tanto Melanie Leupolz como Ji So-Yun participaram mais da partida. Com destaque para a camisa 10 das Blues. Ji foi essencial para achar e explorar os espaços deixados pelas adversárias, bem como para conectar os passes do time nas descidas ao ataque.

Além disso, a jogadora sul-coreana deu apoio constante à última linha de marcação. Não só quando recuava para atuar mais próxima às zagueiras e reduzir os espaços. Mas também recebendo a bola das defensoras e fazendo a conexão com o ataque. Nesse sentido, Ji conseguiu construir boas chances de gol tanto para ela como para suas companheiras. No entanto, essas chances não foram bem aproveitadas.

Desafios evidentes

De antemão, o funcionamento das alas das comandadas de Emma Hayes foi o fator que mais chamou atenção. Ainda mais por se tratar de uma novidade trazida pela treinadora naquela partida. Mas também pela atuação apagada de Charles e Reiten.

Contudo, no segundo tempo, o Chelsea voltou com uma movimentação diferente que permitiu mais descidas da camisa 11 pela esquerda. Assim, a norueguesa conseguiu se posicionar melhor de forma a abrir espaços e aparecer como opção de passa para suas companheiras. Em suma, garantindo mais amplitude nas jogadas ofensivas das Blues.

Com a melhor organização do esquema tático, outra jogadora conseguiu aparecer mais na partida: Pernille Harder. A camisa 23 conseguiu operar mais explorando os espaços entrelinhas e conseguindo mais liberdade para se movimentar no campo de ataque. Assim, ficou evidente que o 3-4-3 pode funcionar e pode ser favorável para o posicionamento de Harder em campo – uma jogadora que atua tanto na construção como na finalização de jogadas. Sempre que possível com liberdade para se movimentar e confundir as linhas de marcação.

Enfim, o grande problema do Chelsea no último encontro com as Gunners foi a defesa. Um time que na temporada anterior acumulava clean sheets e boas performances defensivas, ficou completamente exposto e iniciou a campanha de defesa do título levando três gols. Mesmo que um deles não tenha sido anulado, como deveria.

Erros defensivos do Chelsea

Ao passo que o ataque desperdiçou boas chances, a defesa pareceu desorganizada em momentos chave da partida. O que influenciou também o desenvolvimento das jogadas do time do oeste de Londres.

Enquanto no primeiro tempo as Blues buscaram não pressionar muito, na etapa complementar voltaram fazendo uma marcação-pressão. Uma característica do time do Chelsea. Porém, como resultado, espaços apareceram e os erros na cobertura e no posicionamento deram margem para que eles fossem (bem) explorados pelo Arsenal.

A equipe contou com Millie Bright na direita, Jess Carter no centro e Magdalena Eriksson atuando pela direita. Apesar de ser a mais baixa das três, Carter ficou no centro da zaga. Dessa forma, permitindo descidas mais longas por parte de Bright e Eriksson, que tem boas qualidades de passe. Contudo, com o posicionamento mais avançado das linhas de marcação, as Gunners se aproveitaram para pressionar e explorar a velocidade.

Com destaque para Beth Mead que se posicionou bem nas costas das defensoras das Blues, se apresentando como uma boa opção de passes em profundidade. A partir do momento que Mead conseguia receber o passe, ela saia livre em direção ao gol. Assim, levando muito perigo à meta defendida por Ann-Katrin Berger. Sobretudo pela esquerda, onde não havia a cobertura de Reiten na marcação.

Poder de ataque das Gunners

Ainda com Joe Montemurro, o Arsenal jogava na formação de 4-3-3 e sem dúvidas tem em Miedema o nome de comando da linha de frente. Assim, com Jonas Eidevall a formação se manteve e a importância da atacante holandesa ainda é central. No entanto, o que não vinha acontecendo com Montemurro, e eventualmente fez com que ele deixasse o clube, era a movimentação das jogadoras.

As Gunners, então, conseguiram se movimentar bem com a bola. Ainda mais em situações de passe e deslocamento. Diante da linha defensiva de três do Chelsea e com as alas (em especial Reiten) não voltando para marcar, muitos espaços se abriam. E foram aproveitados.

Para permitir que as atacantes aproveitassem mais o ataque, a movimentação das laterais teve grande importância. Principalmente de Katie McCabie pela esquerda – que até mesmo jogou de ala em algumas oportunidades nesta temporada. Além da movimentação das atacantes, as meio campistas se aproveitaram dos espaços.

Da mesma forma, com a eventual descida da lateral, a meio campista Frida Maanum ocupava o lugar da defensora que descia de forma a evitar deixar espaços para as Blues – que buscavam sair em velocidade. Em suma, a organização das Gunners em todos os setores diante de um Chelsea em nova formação e um pouco perdido levou à vitória.

Capitalização sobre os erros das adversárias

Mesmo com a posse ao seu favor, as Blues desperdiçavam constantemente boas chances. Nesse sentido, aconteceram muitos erros de passe que permitiam que o Arsenal retomasse a posse de bola facilmente. No fim das contas, foi em uma situação assim que as Gunners fizeram seu segundo gol:

Com isso, Catley saiu com bastante espaço para realizar um passe em profundidade. O posicionamento de Mead foi clínico para que o ataque terminasse em gol. A camisa 9 do Arsenal expôs totalmente a linha alta de marcação do Chelsea e saiu livre para marcar:

Momentos parecidos na temporada

Arsenal e Chelsea chegam, respectivamente, como líder e vice-líder do campeonato inglês feminino com apenas um ponto separando as equipes. Após oito rodadas disputadas, as Gunners somam 22 pontos (sete vitórias e um empate) com 26 gols feitos e apenas três sofridos. Por sua vez, as Blues somam 21 pontos (sete vitórias e uma derrota) com 27 gols feitos e cinco sofridos.

Nesse sentido, mais da metade dos gols que cada um dos times sofreu foi exatamente no último encontro entre eles. O que demonstra uma evolução gradual de ambas as defesas ao longo da competição. Além disso, Gunners e Blues têm os melhores ataques do campeonato, com ampla vantagem para o terceiro melhor ataque, que é o do Manchester City que tem 16 gols marcados.

As rivais londrinas também disputam a UEFA Women’s Champions League. O Chelsea aparece na liderança de seu grupo com 10 pontos (três vitórias e um empate) com 13 gols feitos e quatro sofridos (sendo três deles na rodada de abertura contra o Wolfsburg). O Arsenal, por sua vez, está na segunda colocação de seu grupo com nove pontos (três vitórias e uma derrota) com 13 gols feitos e cinco sofridos.

Enfim, ambos os times disputarão a final da FA Women’s Cup 20/21, o que demonstra o grande equilíbrio das campanhas nesta temporada até o momento. Ao que tudo indica, Chelsea e Arsenal brigarão até o fim do campeonato inglês pelo título. Portanto, os confrontos diretos entre os times carregará bastante importância. Independente da competição pela qual forem válidos.

Expectativas para a final

Mais uma vez a ofensividade deve ser evidente dos dois lados. Principalmente pelos grandes nomes que aparecem nas posições avançadas. Tobin Heath, Miedema e Mead de um lado. Do outro, Harder, Kerr e Kirby. Dependendo da qualidade dessas jogadoras, bem como das que ficarão à disposição no banco de reservas, a partida poderia facilmente ter 10 gols.

Por isso, novamente, a defesa será o grande diferencial. Por mais que a defesa do Chelsea tenha melhorado, ainda comete muitos erros que comprometem e favorecem a chegada perigosa das adversárias. O destaque, para esta partida, é a possibilidade de Maren Mjelde formar o trio de zaga juntamente com Bright e Eriksson – combinando liberdade e qualidade de saída de bola. Da mesma forma que o trio tem experiência e entrosamento.

A participação das meio campistas poderá ser o diferencial. Pouco a pouco parece que as Blues estão se acertando com a grande participação das alas. Assim, todas as meias, sejam elas centrais ou as alas, têm papel importante na defesa e no ataque. O acerto nesse papel se dá ao longo da partida e do que ela demanda. Por isso, o Chelsea tem que ler bem o jogo e a todo momento buscar imprimir seu ritmo. Caso contrário, deixar o Arsenal controlar a partida pode fazer com que o time do oeste de Londres tenha muitos problemas para agir.

Aspectos chave

Mesmo com grandes nomes na defesa, o Arsenal sofre um pouco quando em situações em que é pressionado na última linha. Nesse sentido, o trio Kirby, Kerr e Harder deve se aproveitar bem das movimentações entre si e da possível superioridade com a descida das alas para criar boas chances. Mais ainda, para fazer gols. Caso contrário, poderá acontecer o mesmo que na última partida, em que as Blues conseguiam chegar, mas não se aproveitavam.

Igualmente, a marcação sobre Miedema será central. A atacante holandesa das Gunners de movimenta bastante e basicamente atua em qualquer posição do ataque. Dessa forma, é uma grande finalizadora e dá muitas assistências para suas companheiras. Além disso, pode atuar como segunda atacante e fortalecer a marcação no meio de campo. Ao mesmo tempo que, assim, pode se aproveitar de escapes em velocidade. Por isso, a atenção sobre ela deve ser grande.

Enfim, o Chelsea tem que se achar em campo desde o início. Com o esquema de 3-4-3 mais desenvolvido e conhecido, agora, a performance deve ser em alta intensidade desde o início. Sobretudo no meio de campo, que será o causador de desequilíbrios. As Blues terão superioridade nesse setor com quatro meias, enquanto o Arsenal terá três. Tocar a bola, achar e explorar os espaços será uma importante saída para chegar na última linha e eventualmente batê-la para chegar ao gol.

Hayes e Eidevall têm qualidade de sobra em seus times e, sabendo da grandiosidade dos clubes que treinam e da importância desta partida, devem ir com força máxima em busca do título.

Prováveis escalações

Arsenal (4-3-3): Zinsberger; McCabe, Beattie, Wubben-Moy, Maritz; Walti, Little, Maanum; Parris (Heath), Miedema, Mead.

Chelsea (3-4-3): Berger; Eriksson, Bright, Mjelde (Carter); Reiten, Leupolz, Ji, Cuthbert; Kirby, Kerr, Harder (Fleming).

Category: Conteúdos Especiais

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Article by: Nathalia Tavares