Daqui a dois dias o Chelsea Women brigará por mais um título na sua história. No sábado (29) a equipe de Emma Hayes encara o Manchester City Women pelo troféu da Community Shield, no Estádio de Wembley. Por sinal, o jogo é cercado por uma atmosfera especial.
Mas antes de caminharmos ao futuro, é necessária uma viagem ao passado não muito distante. De antemão, para entender como a equipe conseguiu ser uma das referências no futebol inglês, faz-se necessário observar cada degrau subido.
Sendo assim, aos alheios ao Chelsea Women, esse é o momento conhecer o trabalho delas e a superação das nossas campeãs. Portanto o Na História de hoje espera cumprir com um objetivo: aproximar a torcida masculina dessa equipe vitoriosa.
1992: O começo do sonho
Apesar de Stamford Bridge ter sido palco de uma partida em 1921 (esse foi o registro primeiro jogo de equipes femininas), somente em 1990 a história dos Blues tem início na modalidade. Antes disso, em 1950 o futebol delas foi banido da Inglaterra.
A liberação ocorreu apenas em 1970. Antes de mais nada, enquanto o Chelsea FC 115 anos, a história da equipe feminina é recente. São 28 anos de existência. Ou seja, a fundação foi em 1992. O contexto era o seguinte: um grupo de torcedores floresceu a ideia de montar a equipe feminina.
Missão cumprida no mês de junho. Se por um lado a modalidade ainda se desenvolve no ano 2020, a realidade dos Blues na década de 1990 era bem distante do “mar de dinheiro” na Era Abramovich. No que diz respeito ao futebol feminino então, as barreiras eram infindáveis.
Tanto que o início dessa história foi marcada por improviso – torcedores voluntariando-se à administração – e resultados ruins. Vinculadas à recém-formada Women’s Football Association National Leagues, por anos a equipe de Londres tentou subir de divisão. Contudo, os resultados eram medíocres. A tão sonhada chegada à National Division ocorreu somente em quase na metade dos anos 2000.
2004: A hora da virada
O divisor de águas foi 2004. Naquele ano tudo mudou. A fase da mediocridade e improviso ficaria no passado. A partir de então, prevaleceria o investimento e profissionalismo. O primeiro passo foi entregar o Chelsea Ladies as mãos do Chelsea FC (por meio do Departamento “Futebol na Comunidade”).
Em outras palavras: haveria investimento do Chelsea FC no time feminino. O resultado da mudança foi percebido pouco depois. Resumindo, na temporada 2004/2005 elas venceram a Southern Divison com nove pontos de vantagem: era o tão sonhado acesso à Elite.
Entretanto, de início o sonho se transformou em pesadelo. A estreia na National Division foi desastrosa. De 18 pontos possíveis, a equipe somou apenas 1. Como resultado, George Michealas foi demitido e assumiu Shaun Gore. Ainda longe do seu melhor, a equipe lutou e permaneceu na elite. As temporadas seguintes trouxeram marcas mais expressivas: duas vezes 3º lugar, um 5º e uma fraca 8ª colocação. A década de 2010 estava prestes a iniciar…
2010: A Liga muda, o Chelsea também
A década de 2010 representou a criação do atual formato da Women’s Super League. Ainda como Chelsea Ladies’, as Blues chegaram à final da FA Women’s Cup de 2012. Contudo, perderam na final. Matt Beard se desligou do clube. Em seu lugar assumia Emma Hayes.
Com ela, o Chelsea conseguiu alcançar outro patamar. De pronto, em dois anos de trabalho com Hayes as Ladies’ foram vice na Super League. O título escapou na última rodada, por um único gol de diferença ao Liverpool. Poderia ser um marco negativo. Porém, ao grupo representou amadurecimento.
No ano de 2015 as atletas de Hayes finalmente alcançaram o topo do país. Na Super League o troféu foi confirmado na vitória sobre o Sunderland, por 4×0. A Inglaterra se curvava ao futebol das Blues 23 anos após a fundação da equipe. Todo trabalho iniciado em 1992 acabou duplamente recompensado naquele ano.
Isso porque dessa vez o troféu da FA Cup ficou nas mãos azuis (final vencida contra o Notts County por 1×0 em Wembley). Um ano após a frustração na última rodada, Hayes e cia comemoravam o inédito Double (o vídeo da final está nos próximos parágrafos).
O papel de John Terry no futebol feminino
O torcedor talvez não conheça a capitã do Chelsea Women. Mas com certeza sabe quem é John Terry e o que o ex-camisa 26 representa aos Blues. Pois bem, o “Capitão, Líder e Lenda” teve papel fundamental ao sucesso delas.
Em 2015 – o ano do Double Feminino – Terry tirou dinheiro do próprio bolso e investiu na equipe. Desde 2009 as finanças do Chelsea Women não iam bem. Mas Terry viu o potencial do grupo e consequentemente, do projeto.
Terry abraçou a equipe e tornou-se presidente. Ele exerce tal função até hoje. “Ele salvou o time feminino. Desde então nós fazemos nossa pré-temporada em Cobham e ele sempre vem assistir”, havia dito Gilly Flaherty ao Daily Mail em 2015.
Títulos e mais títulos em Kingsmeadow
Confiantes de que poderiam mais, o elenco de Hayes se fortaleceu. Novas caras desembarcavam a cada temporada. Ano após ano o Chelsea investia na estrutura de treinamento e de fato abraçou o time feminino. O resultado não poderia ser outro.
De 2015 a 2020 foram três títulos da Super League (2015, 2017/2018 e 2019/2020), duas FA Cup (2014/2015 e 2017/2018) e uma Contintental Cup (Copa da Liga) em 2019/2020. A nível europeu, as melhores campanhas foram duas semifinais da Women’s Champions League nas temporadas 2017/2018 e 2018/2019. A Champions e a Community Shield são os troféus em falta.
A chance de conquistar a Supercopa da Inglaterra vem pela primeira vez neste final de semana. Além da estreia do Chelsea Women no torneio de abertura da temporada, também será o primeiro jogo em Wembley.
Com dois troféus domésticos na temporada 2019/2020, o Chelsea Women quer mais um título nacional. Caso conquiste a Supercopa e a FA Cup, poderá exercer um domínio inédito na história do clube: vencer todas as competições no país. Parece impossível? Não ao time de Kingsmeadow, cuja história definitivamente é marcada por superação.