Neste final de semana o Chelsea volta à Alemanha para mais uma partida da Champions League 2019/2020. Mas o tema de hoje não é o futuro e sim o passado. Há algumas décadas a equipe londrina desembarcava em Munique para o seu primeiro compromisso contra um time da cidade.
Tal fato aconteceu em 1966. Naquela ocasião o adversário não era o poderoso Bayern – principal clube do país – e sim o TSV 1860 München. Quem comandava os Blues? O escocês Tommy Docherty. Assim como Frank Lampard foi jogador de futebol e como Super Frank, tinha nas mãos um jovem plantel.
De pronto a garotada do Doc recebeu como missão europeia visitar Munique para disputar as quartas de final do Inter-Cities Fairs Cup. De lá pra cá muita coisa mudou…
Fairs Cup: como era a competição?
Em primeiro lugar é importante entender o que era esse torneio. A Inter-Cities Fairs Cup foi criada em 18 de abril de 1955. Os idealizadores foram três integrantes da FIFA: Ernst Thommen, Ottorino Barassi e Stanley Rous (que mais tarde se tornaria presidente da entidade).
Pode parecer bizarro, mas como o próprio nome já diz, participavam da Inter-Cities apenas clubes de cidades com feiras comerciais. Considerada a precursora da Europa League, a Fairs Crup durou até 1971. E sabe quem foi o maior campeão? Um velho rival azul, o Barcelona.
O contexto da edição de 1965/1966
1966 era o ano da Copa do Mundo na Inglaterra. Ou seja, a Europa respirava futebol, na expectativa do torneio o qual retornava ao “país do futebol”. O duelo entre Chelsea e TSV aconteceu em março, meses antes do mundial. Conforme relatado há alguns parágrafos, a Fairs Cup não era organizada pela UEFA, porém é considerada a precursora do que hoje conhecemos por Europa League.
A vaga do Chelsea
Naquela edição o Chelsea havia conquistado a vaga por ter sido campeão da League Cup, em 1965. O plantel do Chelsea era formado por muitos jovens e surpreendentemente os atletas de “Doc” foram derrubando grandes adversários.
Roma e Milan caíram, em seguida veio uma importante vitória sobre o Manchester United por 2×0. Havia chegado a vez de conhecer Munique e o frio da cidade alemã. Conforme relatado acima, o grupo dos Blues era muito novo. A média de atletas beirava 23 anos, nada que atrapalhasse o desempenho dentro de campo. Em relação ao grupo, Doc tinha a sua disposição atletas como Peter Osgood, Terry Venables, Ron Harris, além do goleador Tambling.
O jogo na fria Munique
A partida em Munique foi a de ida. A bola rolou no longínquo 15 de março de 1966. Cerca de 12 mil pessoas se fizeram presentes na casa do TSV e presenciaram o animado empate por 2×2. O München saiu na frente aos 18 minutos com Wilfried Kohlars.
Os visitantes precisavam reagir e apareceu a estrela do camisa 8. Bobby Tambling foi o autor do tento de empate, depois de uma jogada iniciada na defesa dos Blues. No contexto da partida faltavam 10 minutos para o intervalo, o que garantiria uma situação mais tranquila aos visitantes.
Contudo, a reação foi completa. Pouco depois o time de Doc virou o jogo. Novamente Tambling balançou as redes. Mas como era jogo importante – afinal estamos falando de uma competição europeia – muita coisa poderia acontecer. E teve o empate dos anfitriões. Friedhelm Konietzka deu números finais ao duelo, no segundo tempo.
Lembranças da cidade
Apesar de ter deixado escapar a vitória, a imprensa inglesa noticiou que o resultado praticamente colocava o Chelsea na fase seguinte (Semifinal). Especialmente levando em conta o fato de o time de Londres ter conseguido fazer frente aos alemães em meio a um campo repleto de neve.
“Aquele jogo foi jogado na neve e nós pensávamos que ele não poderia ter sido jogado. Eles eram bons, estavam a caminho do título do Campeonato Alemão naquela temporada e tinham um goleiro brilhante”, relembra Tambling.
O segundo maior artilheiro do Chelsea relembra com muito carinho da ida a Munique. Isso porque teve festa na volta ao hotel. “Doc já estava muito alto, como todos nós, e ele continuava pedindo mais e mais garrafas de champanhe para todos os rapazes. Os garçons tiveram que passar por todos os repórteres para trazê-lo para nós”, diz o atacante.
Chelsea vence na volta
Apesar de o foco ser a viagem à Alemanha, é indispensável contar os capítulos seguintes. A partida de volta foi realizada no dia 29 de março e o Chelsea venceu por 1×0. Sabe de quem foi o gol? Peter Osgood. Entretanto, a campanha marcante dos Blues terminou nas semis com uma rivalidade presenciada até hoje.
O time de Doc cruzou seu caminho com o Barcelona. A partida de ida terminou com vitória deles por 2×0 (jogo na Espanha). O Chelsea devolveu o placar na volta (em Londres) e houve o Replay. Para azar azul, o Barça aplicou um sonoro 5×0 na Catalunha. A final daquela temporada foi espanhola e o Barça derrotou Real Zaragoza.
O retorno à Alemanha em 2020
No próximo sábado, 8 de agosto o Chelsea retorna a Munique, não para reencontrar o TSV. O adversário da vez é o Bayern, principal clube da cidade. Assim como aconteceu no ano de 2012, o confronto novamente é válido pela Champions League.
Mas, o que mudou de 1966 para 2020? Quando pisou na cidade alemã o Chelsea buscava construir sua história na Europa. Atualmente o time de Roman Abramovich é uma das principais equipes da Inglaterra e soma diversos títulos a nível nacional e internacional (coincidência ou não, o título da Champions veio contra o Bayern na Alemanha).
Já o TSV disputa a modesta 3.Liga, a 3ª Divisão do Futebol Alemão. Portanto, antes de concluir esse texto vale relembrar o que aconteceu na Fairs Cup de 1966. Como era ano de Copa do Mundo, o calendário do torneio somente foi concluído em setembro. Isso porque houve um hiato de maio até a decisão, quando o Barcelona levantou sua terceira e última taça da competição.