Ninguém gosta de perder uma final, isso é um fato. Mas se voltarmos um pouquinho no tempo e avaliarmos com um olhar crítico, o saldo da temporada 2019/2020 do Chelsea foi além do que muitos especialistas imaginavam. O motivo? Um ex-jogador que agora é treinador, mas não tem experiência por grandes clubes é anunciado num “clube problema” (o histórico de demissões dos comandantes fala por si).
Além disso, o Chelsea se viu proibido de contratar atletas e ainda por cima perdeu a maior referência dentro de campo. Era o cenário para deixar muito torcedor em dúvida. A pessoa que vos escreve também tinha lá um pé atrás sobre essa aposta. Contudo, Frank Lampard provou que como tudo na vida, no futebol também é necessário tempo para colher os frutos do trabalho.
Primeiro Tempo: tempo de reconstrução
Ora, todo projeto começa por um planejamento. É necessário refletir, adotar uma filosofia, estabelecer metas e enfim, colocar a mão na massa. Ao apostar em Lampard como comandante, a Diretoria do Chelsea sinalizou uma “nova era”. Lampard é ídolo. Isso é inegável. Ele tem identificação com o clube. Além disso, é um jovem treinador. Mostrou no Derby County que poderia fazer mais caso tivesse um melhor plantel. Claro que ele não está imune a críticas (afinal, quem escala os 11 iniciais é o treinador).
Mas vamos nos ater ao ponto principal. Lampard tem o respeito dos seus atletas, algo que há algum tempo não sentíamos no Chelsea. Quantas vezes de 2010 até hoje não ouvimos histórias de atletas estrelas querendo derrubar o comandante? Com seu pulso firme (quem não lembra da famosa lista com multas a quem chegasse atrasado?), o treinador deu o recado: a autoridade no vestiário sou eu.
Essa é uma boa forma de iniciar a reconstrução do Chelsea. O modo de agir sinaliza que, mesmo o comandante tendo pouca experiência em tal função, não veio para brincar. Isso reflete a postura de Lampard enquanto jogador. Um atleta centrado, jogando pelo grupo, honrando a camisa que vestia. E é isso que o treinador Lampard espera dos seus.
Segundo Tempo: atletas com identificação
A reformulação do Chelsea passa pela base. Essa é uma afirmação meio óbvia. Todavia, é importante bater nessa tecla. Ao utilizar os jogadores mais jovens, além de economizar nas contratações, Lampard aposta na identificação dos jogadores com a camisa azul. Esse era um ingrediente em falta há algumas temporadas. Talvez o maior câncer do futebol moderno seja o fato de o atleta querer apenas dinheiro e não valorizar o manto utilizado dentro de campo.
Jogadores formados no clube são também torcedores. Assim como você, leitor, eles respiram o azul e atuam com mais paixão. A ideologia do “ser Chelsea” está nas veias da garotada. De certa forma a punição teve tal ponto positivo para o clube. Aproveitar as soluções caseiras tem seus benefícios.
Porém, ter amor à camisa não é suficiente. Qualidade técnica em um clube como o Chelsea é imprescindível. Mason Mount e cia oscilaram em alguns momentos, assim como o grupo (não dá para apontar o dedo apenas a alguns nomes). Resta saber lapidar o talento de todos. Eis então o último elemento. Para brigar por títulos os Blues precisam de jogadores experientes e com qualidade para agregar ao clube.
Terceiro Tempo: reforços de qualidade
Superada a punição para contratar, Lampard já mostrou que o Chelsea buscará reforçar o elenco. De pronto trouxe Timo Werner e o Hakim Ziyech, dois jovens talentos da Alemanha e Holanda. Não é o suficiente, especialmente quando levamos em conta a fraqueza do sistema defensivo e do meio-campo.
Os jornais ingleses indicam que o próximo reforço é o jovem alemão Kai Havertz, do Bayer Leverkusen. Porém, é a hora de questionar: devemos ir ao mercado em busca de mais um homem ofensivo? A defesa não seria mais importante na temporada 2020/2021?
Investir na defesa ou ataque?
Claro que ter um nome como Havertz fortaleceria o elenco. Mas, a organização da casa deve começar pelo essencial. E como vocês bem sabem, a defesa foi o calcanhar de Aquiles de Lampard em 2019/2020. Kepa ainda é jovem, no entanto, deu sinais de quem não é capaz de seguir titular. Cabellero também não e ainda por cima está em fim de carreira. Rudiger, Zouma, Tomori e Christensen não passam a devida segurança.
Os marcadores também não estão isentos da crítica, afinal o futebol é coletivo. Há poucos parágrafos foi mencionado: é necessário investir com sabedoria. Uma prova irrefutável são os números defensivos: 54 gols sofridos apenas na Premier League (a favor foram 69).
Tentos esses por muitas vezes infantis, para não citar bobos. Falhas na marcação, de bola parada, em lambanças da zaga… Inteligente no momento é ir ao mercado pensando no sistema defensivo.
Dê tempo ao tempo
Obviamente o novo Chelsea não será reconstruído em um ano. Ninguém é mágico para usar a varinha de condão e transformar o elenco atual numa máquina, como a Fada Madrinha fez com a Cinderella. É necessário tempo, disposição e claro, dinheiro (sendo utilizado da forma correta).
E conforme dito parágrafos acima, Lampard não está isento de críticas. O amadurecimento do time passa por ele também. Se quiser permanecer e ter uma história bem sucedida como treinador, o ex-meia deve fazer uma autocrítica sobre seu trabalho na atual temporada. Os resultados ruins também refletem suas escolhas erradas e acertadas ao escalar/substituir os atletas. Lampard é a mente pensante por trás do projeto Chelsea 2020.
Ainda falta uma partida para o encerramento da atual temporada. Mas já é possível avaliar o quadro geral dessa primeira temporada. Terminar no Top 4 foi um feito e tanto, especialmente levando em conta a competitividade da Premier League (com Wolves, Manchester United, Everton e Leicester bem próximos).
Alcançar a final da FA Cup foi para aplaudir. Infelizmente o título não veio, seria o reconhecimento necessário aos envolvidos no clube. E seja qual for o resultado desse final de semana na Champions, há sim motivos para celebrar esse começo de trabalho.