No futebol, a distância entre um ano e outro pode ir muito além de 365 dias – e o Chelsea pode provar com clareza essa teoria. A realidade enfrentada pelos Blues na atual 29ª rodada da Premier League não tem absolutamente nada a ver com o cenário vivido à mesma altura da competição na temporada passada, quando os comandados de Antonio Conte alcançaram a conquista do tão prestigiado título inglês.
Hoje, a conquista parece ser um sonho bem distante. Somando 53 pontos, a equipe londrina ocupa apenas a quinta posição na tabela, cinco pontos atrás do Tottenham, o quarto colocado. Correndo o risco de perder até mesmo a vaga direta para a Champions League 2018/2019, o Chelsea não tem sequer a possibilidade de idealizar o bicampeonato, já que o título está praticamente garantido pelo Manchester City, que tem 16 pontos de vantagem sobre o vice United.
Mas o que pode ter dado tão errado de um ano para o outro? Será que o mérito dessa drástica mudança é somente do City de Pep Guardiola? Ou a queda do Chelsea se deve exclusivamente a fatores internos?
A verdade é que um conjunto de razões contribui para esta rigorosa e confusa mudança, e a lista pode começar pelos reforços – ou pela ausência deles. O torcedor dos Blues não se cansa de reclamar das péssimas janelas realizadas pelo clube, e com razão. Apesar de ter mantido a maior parte do elenco campeão inglês no primeiro semestre, o Chelsea perdeu Diego Costa, peça essencial no esquema de Antonio Conte. Sem um substituto à altura, hoje o clube possui um total de 50 gols na competição, nove a menos do que na mesma época da temporada passada, tudo isso sem um centroavante titular.

E o problema se estende até mesmo a posições em que os titulares permaneceram. Enquanto as demais equipes da Premier League foram às compras de mãos abertas para brigar pelos títulos nacional e continental, os Blues pareceram ter entrado no mercado com uma política de poucos gastos, trazendo jogadores relativamente baratos para serem nada além de reservas. Mas a tentativa de economizar ao máximo por já ter um elenco campeão foi, na realidade, um tiro na água para a equipe de Roman Abramovich.
Outro fator que pareceu não ser levado em conta entre as duas temporadas foi o aumento do número de partidas no ano, o que aumenta ainda mais a necessidade de reforçar a equipe. A essa altura do primeiro semestre de 2017, o Chelsea já tinha o título inglês nas mãos, pois além de não estar disputando nenhum torneio continental, já havia chegado às semifinais da FA Cup. Ou seja, os Blues mantinham seu foco quase integral na Premier League.
Já em 2018, a estrada da equipe de Conte no ano ainda pode ser bem longa. Caso consiga superar o Barcelona no Camp Nou, o Chelsea avança para as quartas de final da Champions League. Uma chegada à final da competição ainda significaria mais cinco jogos complicados até o título, além de oito rodadas do campeonato inglês a serem disputadas, e mais cinco partidas caso chegue à final da FA Cup. É uma sequência dura e extremamente desgastante, criando o ambiente propício para maior número de lesões musculares na equipe – a menos que haja a possibilidade de rotacionar o elenco.

Os pontos anteriores, porém, não descartam outros dois fatores essenciais e que passaram por mudanças entre as duas temporadas: o bom momento e o relacionamento do grupo, especialmente para com o treinador. No ano passado, o Chelsea viveu seus piores momentos ainda no início da competição, o que acabou sendo o combustível necessário para uma mudança completa em sua postura. Até a 29ª rodada, os Blues acumulavam apenas três derrotas e três empates, aproveitamento considerável em um campeonato difícil como a Premier League.
Mesmo cometendo algumas falhas na reta final, os londrinos conseguiram manter sete pontos de vantagem para o vice-líder, faturando o título de forma antecipada. O que mais chama atenção na campanha, no entanto, é o fato de que, após a derrota contra o Arsenal no primeiro turno, o Chelsea pareceu literalmente “virar a chave”. Não sofreu mais derrotas ou empates em sequência, e sequer passou por um momento que possa ser considerado instável desde que assumiu a liderança, na 12ª rodada.
Em contrapartida, instabilidade é uma das características principais do clube na atual temporada. A maior sequência de vitórias dos Blues nessa edição do torneio chega a apenas quatro partidas. Até o momento, somam oito derrotas e cinco empates e, somente nos últimas cinco jogos, o Chelsea sofreu quatro revezes, retrospecto bem negativo para uma equipe campeã e que almeja seguir viva na Champions League.
O momento vivido, inclusive, está muito ligado ao relacionamento entre jogadores e treinador. Os atritos entre Antonio Conte e alguns de seus atletas repercutiram muito mal no elenco inglês, que vem sendo acusado de fazer corpo mole em alguma partidas para derrubar o italiano – que também não vem tornando as coisas mais fáceis. O acúmulo de tensão e cobranças leva muitas vezes o treinador a cometer algumas loucuras em suas escalações, na tentativa de provocar alguma reação positiva do grupo. É preciso admitir que, algumas vezes, suas invenções deram certo, mas na mesma proporção, conseguiram ser desastrosas.

Em termos de elenco quase nada mudou no Chelsea, mas a única coisa que existe em comum entre a atual temporada e anterior é isso. Ao longo de quase um ano, muitos atritos e poucas resoluções marcaram a trajetória dos atuais campeões da Premier League, algo que aos poucos minou o espírito de grupo que marcou 2016/2017 – e isso talvez seja o que mais faz falta aos Blues.
Para voltar aos momentos áureos, o Chelsea precisará de um novo começo, e esse pode ser o momento ideal. Sem chances de conquistar algo a mais no campeonato inglês, os Blues precisam definir seu foco no que ainda resta da atual temporada, e começar a planejar um 2018/2019 bem diferente do que foi o último ano, aprendendo com os erros ao invés de ignorá-los para seguir em frente.
As palavras contidas nessa reportagem condizem à opinião do autor, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil.