O Chelsea Brasil está fazendo uma série de textos especiais que antecedem o início da nova temporada da Premier League. O segundo é sobre a defesa. A cada dia um texto sobre o time londrino, jogadores do elenco e considerações sobre as melhores possibilidades para deixar o elenco dos Blues, ainda mais forte.
Ao longo dos últimos anos, o Chelsea vem se destacado no cenário mundial como um dos times com o melhor sistema defensivo. Isso se tornou mais evidente para o mundo com o time de José Mourinho campeão da Premier League da temporada 2004/05 quando sofreu somente 15 gols, a melhor defesa da história da competição até hoje.
Naquela época, a defesa contava, além do atual capitão John Terry, com o ótimo Ricardo Carvalho completando a zaga, o esforçado Paulo Ferreira na lateral direita e o zagueiro improvisado pela esquerda William Gallas.
Conforme a passagem do tempo, após entradas e saídas de jogadores, os Blues mantiveram sua zaga como ponto de apoio para o time. Seja no título da Champions League conquistado pelo time de Di Matteo com as adições de Ashley Cole, Gary Cahill e José Bosingwa, seja no terceiro lugar conquistado na segunda passagem de Mourinho com o famoso ônibus com a chegada de César Azpilicueta, o time sempre se baseou em sua defesa, até para atacar.
Então chegou a temporada 2015/16. O Chelsea defenderia o título e era o principal candidato, o time a ser batido. Apesar de algumas dúvidas quanto ao rendimento de alguns atletas como Ivanovic que já não estava nos seus melhores dias, Terry que parecia estar em fim de carreira e jovens que tinham muito a amadurecer, a zaga ainda era considerada como pilar da equipe. Após desastres defensivos, falhas grotescas e muita especulação sobre o que fazer, os Blues amargaram somente o décimo lugar na temporada.
Novos ares em Stamford Bridge
Chegou uma nova temporada e com ela um novo técnico. Antonio Conte veio trazer para o time aquilo que não tinha nas últimas temporadas: garra, suor e trabalho. Apesar de manter basicamente os mesmos atletas da fraca última temporada, a zaga do Chelsea ganhou um reforço da própria base que pode fazer a diferença: Ola Aina. O jovem de 19 anos pode jogar em todas as posições da linha de quatro jogadores defensiva. O inglês, cria do próprio clube, é forte, rápido e bom no jogo aéreo e isso dá uma opção de mais versatilidade para Conte na montagem do sistema defensivo. Jogando pela direita e deixando Azpilicueta na esquerda, o time fica mais ofensivo pela esquerda, mas a situação pode se alterar facilmente até mesmo dentro de uma mesma partida, somente invertendo os laterais conforme a necessidade de ataque/defesa. Esse é o lado positivo de começar o jogo com dois jogadores que jogam por ambos os lados como titulares.
Nesse sistema com a linha de quatro jogadores, dois zagueiros e dois laterais, Conte não projeta muito seus atletas de beirada de campo, fortalecendo o sistema defensivo e dando mais vitalidade à zaga, que será composta de pelo menos um veterano (Cahill, Ivanovic ou Terry).
O pilar defensivo
Leia Mais: “Terry será o pilar deste time, mesmo que não jogue todos os jogos”, diz Antonio Conte.
Conte declarou em entrevista que o pilar do seu time será o capitão John Terry, “mesmo que não jogue todos os jogos”. O que pode funcionar para equilibrar a balança da juventude de Aina e de Kurt Zouma, que volta de lesão ainda esse ano, é a experiência dos outros zagueiros do elenco. Com Ivanovic, Cahill e Terry como referência para os mais jovens (Zouma, Aina, Hector e até mesmo Miazga), a zaga do Chelsea pode voltar a dar segurança para o resto do time.
O ideal para o sistema funcionar seria realmente a mescla entre os jogadores mais experientes e os mais novos. Com Aina pela esquerda, Terry e Zouma pelo centro e Azpilicueta na direita, o Chelsea será um time ágil, com boa velocidade e resposta, diferentemente dos últimos anos, porque três dos quatro jogadores possuem as características citadas. Tudo isso sem perder em mentalidade defensiva e liderança da linha de zaga pois, no time titular, o capitão John Terry fará a função de organizar os mais jovens com a ajuda de Azpilicueta.
O Problema
Conte tem tudo para ajeitar a marcação dos Blues já nesta temporada. Porém, um cenário desfavorável que pode acontecer é o da lesão/suspensão de um dos laterais (Aina, Azpilicueta) ou de Zouma. No caso de um dos laterais não puder ser escalado, qualquer que seja o atleta, Ivanovic será promovido ao 11 titular pela direita deslocando ou não o outro lateral para a esquerda. Com isso, o time perde em velocidade, capacidade de reação e recomposição defensiva, visto que o sérvio sobe muito para completar escanteios e não possui a mesma velocidade de antes para deter contra-ataques. Se Zouma estiver de fora, a situação pode ser ainda mais crítica porque será necessário a efetivação de um dos jovens (Hector, Miazga) se a mesma tática de mescla quiser ser utilizada ou, no caso mais provável, será necessário colocar dois atletas experientes juntos. Nesse segundo cenário, o que o Chelsea ganha em qualidade perde em dinamismo e, na Premier League, isso pode ser fatal.
Soluções e Alternativas
O futebol moderno é pautado por um esquema tático versátil e jogadores que desempenhem mais de uma função ao mesmo tempo. A solução para a parte defensiva do Chelsea, no caso de lesão/suspensão de algum de seus atletas, pode ser a contratação de mais um jogador versátil para jogar tanto na lateral como na zaga, o que não é provável nessa altura da janela de transferências ou a solução pode estar dentro do próprio elenco. Juan Cuadrado e o brasileiro Kenedy, apesar de serem meias ofensivos ou pontas, podem jogar pelas laterais direita e esquerda, respectivamente, como já fizeram em outras ocasiões. Isso traria mais velocidade para a primeira linha e mais ofensividade, porém um menor poderio defensivo, visto que nenhum dos dois atletas possui “cacoete” de zagueiro, apesar de se virarem bem por ali.
O que pode acontecer, principalmente com Kenedy, é a transformação do atleta para servir mais como lateral. O seu lado defensivo pode e deve ser melhorado com treinamentos, porém mantendo a sua característica e capacidade ofensiva. Com isso, o atleta pode ocupar uma posição carente no elenco dos Blues desde a saída do ídolo Ashley Cole: o lateral esquerdo que apoia.
Variações táticas
Conte não deve mexer na linha de quatro jogadores atrás, visto que desde que chegou manteve esse formato. Porém, como é um treinador ousado e que não tem medo de abdicar de peças em favor do coletivo, o time pode se ver em uma situação de jogo onde seja necessária a colocação de um terceiro zagueiro. No caso o sacado seria um dos laterais, ou os dois, e a trinca de zagueiros seria formada por dois mais experientes e um mais veloz (Terry, Cahill/Ivanovic e Zouma, por exemplo), ou por dois jovens e um mais lento (Zouma, Aina/Hector/Miazga e Terry/Ivanovic).
Ainda outra variação, apesar de remota a possibilidade da sua utilização, seria a colocação de Azpilicueta ou Aina na posição de terceiro zagueiro, liberando assim um lateral ofensivo pela esquerda (Kenedy) ou pela direita (Cuadrado), dependendo de qual jogador fosse recuado para a zaga e de que lado estivesse jogando. Deste modo, apesar da linha não mudar na teoria, com a bola o Chelsea se posicionaria como um 3-1-4-2 com Kenedy/Cuadrado avançando para a linha de quatro no meio campo, o meia lateral oposto ao lateral avançado centralizando para junto do meia central, deixando um volante sozinho na marcação. Já sem a bola, voltaria ao esquema com quatro zagueiros, voltando à formação original.
Quantidade, Qualidade, Juventude e Experiência
Qualidade o Chelsea já mostrou que tem inúmeras vezes, principalmente no sistema defensivo. A última temporada, com a chegada de Conte, será apagada para a escrita de uma nova era e implantação de uma nova mentalidade. O treinador valoriza a experiência de seus atletas e isso temos de sobra. O italiano gosta de promover a entrada de novos valores e isso também temos de sobra, tanto emprestados quanto no elenco atual.
Mas acima de tudo ele dará a variabilidade de jogo que tanto faltou ao Chelsea mas principalmente ao sistema defensivo. Jogando sempre com Ivanovic, Cahill (Zouma), Terry e Azpilicueta improvisado, o time perdeu em surpresa, apoio ao ataque e em vitalidade defensiva por não se adaptar à idade de seus jogadores e à posição-base de cada um. Temos tudo para arrebentar na temporada atual, dando mais um show defensivo como estávamos tão acostumados a ver mas sem jogar feio como também, em grande parte dos jogos, estávamos acostumados a ver.
Veja também a primeira parte do nosso Guia: Chelsea na EPL: Blues possuem fartura na escolha para goleiro titular