Headhunters: Você já deve ter ouvido sobre eles, mas não sabe realmente quem eles são

Depois das brigas, os headhunters deixavam um pequeno cartão onde estavam escritas menções aos adversários (Imagem: Football Hooligans)
Depois das brigas, os headhunters deixavam um pequeno cartão onde estavam escritas menções aos adversários (Foto: Football Hooligans)

A Inglaterra foi um dos países que mais sofreu para lidar com as constantes brigas de torcidas. O hooligan é, especificamente no esporte, um rebelde torcedor que vai aos estádios ou sai nas ruas para gerar violência, usando o futebol como desculpa.

No começo dos anos 80, o hooliganismo vinha atacando o país da rainha. A Inglaterra tinha reconhecimento mundial no quesito vandalismo envolvido ao esporte, devido a vários acidentes causados por hooligans ingleses. Com o tempo, times como o West Ham, Liverpool, Chelsea e Millwall vinham crescendo e seus grupos organizados eram os mais famosos e violentos do país. E os headhunters, os hooligans do Chelsea, estiveram em meio de grandes alvoroços e até mortes pelo país.

O fanatismo sangrento desses torcedores surgiu no final da década de 60. Também conhecidos como The Shed Boys (“Os Meninos de Shed”), os hooligans do Chelsea começaram a se intitular como “caçadores de cabeça” a partir do ano de 1995. Por que eles se chamam assim? Bem, porque a cabeça dos adversários é a parte que eles mais gostam de atacar.

Os headhunters têm rivalidades com os principais vizinhos de Londres, como Arsenal, Tottenham, West Ham, Millwall e Queens Park Rangers.

O surgimento dos The Shed Boys coincidiu com o início do movimento skinhead na Inglaterra, trazido para Stamford Bridge por Danny “Eccles” Harkins nos anos 60. Apesar de terem tido essa ideologia preconceituosa, o grupo não era totalmente formado por brancos, tendo também negros, ao contrário de outros grupos que os garotos eram aliados, como o Combat 18 e National Front, ambas organizações preconceituosas que só tinham membros de cor branca. Além dos hooligans terem se aliado a neonazistas, eles também tinham coligações com a Ulster Volunteer Force, um grupo terrorista paramilitar legalista da Irlanda do Norte.

Danny Eccles sendo preso por se envolver em uma briga de torcidas. Babs, um dos negros pertencentes aos The Shed Boys, que era famoso por andar armado em Stamford Bridge  (direita à esquerda)
Danny Eccles, líder dos The Shed Boys sendo preso por se envolver em uma briga de torcidas; Babs, um dos negros pertencentes aos The Shed Boys, que era famoso por andar armado em Stamford Bridge (direita à esquerda)

Com o tempo, a forte repressão da polícia britânica diminuiu casos de confrontos entre torcidas, principalmente no século XXI, onde os números de brigas e mortes caíram de uma forma drástica, porém não chegando totalmente ao zero.

Imagem de Stamford Bridge em 1969, onde o skinheads assistiam ao jogo do Chelsea vs Arsenal (Foto: The Shed End)
Imagem de Stamford Bridge em 1969, onde os skinheads assistiam ao jogo do Chelsea vs Arsenal (Foto: The Shed End)

Líderes e catástrofes

Apesar de o Chelsea ser um clube “novo” no mundo dos grandes do futebol, os headhunters seguem o time de Londres de uma maneira tão doente ao ponto de levar pessoas a morte e a prisão perpétua, caso de Kevin Whitton.

Em 8 novembro de 1985, após os Blues terem perdido uma partida, Kevin Whitton  e outros arruaceiros entraram em um pub americano na Kings Road (Londres – Inglaterra), gritando “Guerra, guerra, guerra!”. Minutos depois, enquanto eles saiam do bar, Whitton apareceu dizendo “Malditos americanos! Vem para cá roubar nossos trabalhos”. O gerente norte-americano do bar, na época com 29 anos, Neil Hansen, estava estirado ao chão, perto de morrer após apanhar covardemente de Whitton.

Kevin recebeu prisão perpétua, mas após recorrer em 19 de maio de 1986, teve sua sentença reduzida. Um dos rebeldes que entraram no bar, Terence Matthews, com 25 anos na época, assaltou o pub e foi preso logo após de Whitton, condenado a quatro anos de prisão.

Terence apareceu de novo, em 2002, quando ele e seu filho de 21 anos e mais outro homem foram pegos espancando dois policiais ingleses em Morden – Surrey, condenados a sentença de dois anos cada. Em 2011, o The Sun publicou que Matthews esteve envolvido em outro incidente, ocorrido em 2010, onde os headhunters e os hooligans do Cardiff City se enfrentaram após partida entre os dois times pela FA Cup.

O Chelsea havia ganhado o jogo por 4 a 1, ante o Cardiff durante a 5ª rodada da Copa da Inglaterra. Tendo visto uma oportunidade de brigar, a Soul Crew (grupo hooligan do Cardiff) e os headhunters se encontraram na Fulham Road (via onde se encontra Stamford Bridge), já perto do cruzamento com a Holmead Road. A tensão entre os grupos subiu, e a polícia teve que intervir. Oficiais fizeram uma corrente humana entre os torcedores a fim de separá-los. Contudo, muitos torcedores do Cardiff conseguiram furar a passagem e desceram a Holmead com destino a Kings Road. Em resposta, torcedores do Chelsea também foram até lá e a pancadaria começou. Alguns headhunters também esperavam o grupo da Soul Crew em becos, lugares por onde eles iriam passar.  A polícia relata que haviam, em média, 200 hooligans que usavam cones, tijolos, e claro, o combate corpo-a-corpo.  O número de feridos foi tão alto que até um policial se feriu, tendo sua mandíbula quebrada, levando-o a cirurgia. Vinte e cinco arruaceiros foram identificados e condenados. Todos foram proibidos de entrar em qualquer campo de futebol da Inglaterra e País de Gales de três a oito anos, e alguns pegaram sentença de até dois anos. Um desses envolvidos era Jason Marriner, um dos hooligans mais temidos de toda a Inglaterra.

Jason Marriner, de 46 anos, tem uma história cheia de caos. Sempre envolvido em brigas e prisões, Marriner foi um dos principais alvos do jornalista Donal MacIntyre para a produção de um documentário feito pela BBC sobre a vida dos headhunters. Donal confirmou a relação racista do grupo com organizações como Combat 18 e até com o Ku Klux Klan. As denúncias realizadas no curta-metragem foram excepcionais para levar vários dos headhunters à prisão, sendo Marriner um deles. Tempo depois, em seu livro, Jason declarou que muitas das coisas que tinham no documentário foram “forjadas” por MacIntyre e a BBC.

Além de arrumar encrenca, Marriner também participou, por autenticidade, de outros documentários e filmes sobre hooligans ingleses.

Jason Marriner, um dos hooligans mais conhecidos dos Chelsea’s Headhunters


Hoje, os headhunters são objetos de admiração de uma nova geração. Eles deixaram marcas históricas, fatos e crimes, e criaram uma imagem assustadora por todo o país. E essa nova geração hooligan nenhum inglês conhece, graças às câmeras, policiais e vigia. E espera não conhecer.

Bibliografia: The Shed End, Jason Marriner e o documentário The Real Football Factories

Category: Conteúdos Especiais

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Article by: Chelsea Brasil

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