Opinião: Não saberemos nos despedir de John Terry

É interessante ver jogadores de futebol que ainda se identificam com um único clube, criam laços fortes e são eternizados no coração dos torcedores. Nos últimos anos, o dinheiro tomou conta do esporte com mais intensidade, e o amor foi deixado de lado gradativamente. Neste contexto, fica o meu primeiro agradecimento a John Terry.

Muitos de nós não tinham ideia do que era o Chelsea Football Club quando, em outubro de 1998, Terry estreou pelo clube. Não se via Roman Abramovich ou qualquer acordo milionário que abalaria o continente europeu naqueles tempos. Poucos nomes eram conhecidos e a repercussão em cima do time era bem diferente.

Com o tempo, um garoto chamado Frank Lampard começou a despontar, e Terry estava ao seu lado. Pouco depois, veio a gloriosa classificação à UEFA Champions League, seguida da contratação de José Mourinho, e Terry estava lá. Vieram Cech, Drogba, Ballack e muitos outros nomes consagrados e caros, mas Terry continuava lá, intocável. Sua trajetória vitoriosa não caberia neste post, mas, em suma, foram 13 anos como capitão, com participação em um terço dos títulos da história do clube. Não se vê isso em qualquer lugar.

Aos 14 anos, o primeiro passo para a história (Foto: Reprodução/Instagram)
Aos 14 anos, o primeiro passo para a história (Foto: Reprodução/Instagram)

Em 2008, vimos a glória a um chute certo de distância, nos pés do nosso capitão, contra um grande rival. Pois bem, todos sabem o que aconteceu, e não me lembro de um ser vivo que tenha ficado mais triste do que o próprio Terry, e mais, não acredito que alguém tenha ousado criticá-lo. A volta por cima era mais esperada do que nunca, e veio como a maior alegria da vida de quem vestia azul naquele saudoso 19 de maio de 2012.

Ainda em 2012, nos despedimos – ou começamos a fazê-lo – de Didier Drogba. Em 2014, Frank Lampard se foi, seguido por Petr Cech, em 2015. A geração de lendas foi desmanchada porque o clube só oferecia contratos anuais ao veteranos, e os acordos não vinham. Por um tempo, parecia que Terry encerraria essa geração juntamente com sua carreira, vestindo azul. Mas tudo indica que não será tão feliz assim.

Mesmo sem jogar a final, Terry levantou a maior taça da história do Chelsea (Foto: Tom Jenkins)
Mesmo sem jogar a final, Terry levantou a maior taça da história do Chelsea (Foto: Tom Jenkins)

Portanto, precisamos ressaltar alguns pontos: Terry é o defensor com mais gols (40) na história da Premier League e o jogador com mais partidas (477) pelo Chelsea na era moderna – pós 1992. Ele também tem o maior número de cleansheets na história da Premier League, e é o defensor mais vezes eleito o melhor da posição na Europa.

Após 16 anos, John Terry representa o Chelsea aonde quer que vá. Pode ter se envolvido em polêmica extracampo, mas é um exemplo dentro das quatro linhas, a liderança que qualquer time precisa, e o dono do oportunismo que um zagueiro acima da média deve ter.

Olhar para a defesa e não ver a camisa 26 deve ser muito difícil, assim como nos acostumar a ver a faixa de capitão presa em outro braço. Aos 36 anos, e com energia para mais uns dois anos de Chelsea – fica a crítica -, teremos que nos separar.

Pode até ser que se faça um jogo festivo, com discurso e tudo mais, mas não saberemos nos despedir de John Terry.

John Terry: capitão, líder, lenda (Foto: Getty Images)
John Terry: capitão, líder, lenda (Foto: Getty Images)

As palavras contidas nessa reportagem condizem à opinião do autor, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil.

Category: Opinião

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Article by: Lucas Sanches

Eterno projeto de jornalista. Apaixonado por futebol e viúvo do Fernando Torres. Hazard é o melhor jogador do mundo. Twitter: sanches_07