Lupa Tática: é muito cedo para descartar a base

O torcedor do Chelsea está extremamente feliz com o mercado que o clube vem fazendo para esta temporada. Diversos nomes grandes foram anunciados como Timo Werner, Kai Havertz, Hakim Ziyech, Ben Chilwell e Thiago Silva. Além disso, investimentos foram feitos também em jogadores para a base e corpo técnico dos londrinos. Ou seja, o time está se reforçando e tem objetivos maiores para o futuro.

Mas e os jovens que fizeram parte da surpreendente última campanha, não merecem um pouco mais de crédito? Nomes como o de Tammy Abraham foram dos principais atletas do Chelsea num período sem contratações e não devem ser descartados assim tão facilmente. É sobre isto que o Lupa Tática desta semana irá falar.

Então recline a poltrona, fique atento e confira o texto a seguir.

9 ou 11?

É necessário personalidade para um atacante de 22 anos anotar 18 gols e seis assistências em sua primeira temporada na liga mais competitiva do mundo. Apesar da queda de rendimento na segunda metade da época. Abraham também foi o artilheiro dos Blues na campanha de estreia de Frank Lampard. Além disso, o centroavante inglês assumiu o peso da camisa 9 e a sua “maldição”. Mas, com todas as dificuldades, trouxe mais certezas que dúvidas para o torcedor.

Assim, muito por conta da pequena “seca” vivida pelo jovem, o clube foi atrás de Werner. A joia alemã de 23 anos assinou 47 participações em gol em 45 partidas pelo RB Leipzig em 2019/20. Dessas, 34 foram bolas no fundo da rede empurradas pelo atacante. Então, foi uma oportunidade que não poderia ser desperdiçada, principalmente por sua versatilidade, eficiência e juventude. Mas, acima de tudo, pela compatibilidade com as ideias de Lampard.

Tammy Abraham abre o placar para o Chelsea contra o Barnsley.
Abraham abriu o placar contra o Barnsley. Foto: Chelsea FC)

Portanto, foi algo extremamente natural quando o manager escolheu o novo camisa 11 para começar a temporada como titular. Assim, o artilheiro da última campanha daria lugar ao artilheiro desta, como diriam os especialistas. Entretanto, apesar das grandes atuações de Werner nos primeiros jogos da nova época, ninguém deve ser leviano de pensar que Abraham perdeu qualquer espaço.

Muito pelo contrário, o inglês já contabiliza dois gols e duas assistências em dois jogos como titular. Enquanto isso, o alemão, que ainda precisa se ambientar, tem somente uma assistência. A intenção aqui não é escolher um ou outro, mas sim enaltecer a grande oportunidade que o treinador tem nas mãos: um plantel confiável e amplo.

Adição ou substituição?

Werner e Abraham são jogadores completamente diferentes. Enquanto um é alto, forte e atua como ponto de referência, o outro é rápido, mais habilidoso e funciona melhor atacando os espaços. Assim, os dois não são excludentes, mas complementares. Este tipo de dilema é uma novidade para Lampard, já que, em outras partes do campo, tem jogadores de qualidade que se anulam jogando juntos.

abraham e werner podem igualar outra dupla
Abraham e Werner podem ser usados como outra dupla do Chelsea (Foto: ChelseaTalks)

Portanto, é praticamente impossível não pensar na possibilidade de termos um time montado com dois atacantes, depois de muito tempo. Os torcedores hão de lembrar que o time dos Blues que mais marcou gols na Premier League tinha Anelka e Drogba como artilheiros. Assim, a lembrança afetiva pode ser um ingrediente que pesará na decisão do técnico para coloca-los juntos mais vezes, como aconteceu contra o West Bromwich.

Contudo, como qualquer parceria bem-sucedida, eles precisam estar em suas funções corretas e de tempo para desenvolver a confiança entre si. Além disso, nada impede que, dependendo do adversário, formações e estratégias diferentes sejam utilizadas. Aliás, isso é preferível e desejável a ter sempre o mesmo esquema e forma de jogo. Já vimos que esta abordagem funciona por pouco tempo nos últimos anos.

Versatilidade ou especialidade?

Nesta temporada temos um dos elencos mais versáteis da história recente do Chelsea. Jogadores como Werner, Havertz, Mount, Ziyech e Azpilicueta podem atuar em diversas posições. Além disso, temos atletas como Jorginho, Kanté, Alonso e Giroud, que são especialistas nas suas funções. Para completar a receita, temos também jogadores de qualidades mais amplas como Pulisic, Abraham, Loftus-Cheek e Kovacic, e os trabalhadores como Barkley e Chilwell.

versatilidade e especialidade no time
Azpilicueta e Jorginho, capitão e vice-capitão, exemplificam a versatilidade e a especialidade do elenco (Foto: Getty)

A ideia deveria ser aproveitar os dois goleadores do elenco. Para isso, Lampard deve investir mais em soluções que unam os dois. Assim, há mais um argumento para a utilização do 3-5-2, pelo menos até termos todas as peças à disposição. Além de todas as vantagens conhecidas para a linha defensiva e para os alas, Werner e Abraham seriam os principais beneficiados no campo ofensivo.

Obstáculo ou catalisador?

Assim, a amplitude do elenco pode fazer a diferença no sucesso da equipe. Todavia, quem deve estar à altura do desafio é o treinador. O ex-jogador já demonstrou indecisão e cometeu erros na hora de escalar o time. Apesar de consertá-los em algumas ocasiões, Lampard com frequência toma decisões equivocadas sobre o posicionamento do time, função dos jogadores e sua movimentação.

Dilema de Lampard
Treinador terá de evoluir mais rápido que o elenco (Foto: Getty Images)

Cabe a ele ser um obstáculo ao crescimento dos seus atletas ou continuar sendo um catalisador das suas habilidades. O único receio que o clube deve ter é o elenco tornar-se grande demais para o conhecimento do seu jovem treinador. No momento, Lampard vem demonstrando evolução constante, assim como seus atletas. Porém, precisa escolher qual linha quer seguir dentro de campo e não mudar o esquema meia dúzia de vezes, consertar e “quebrar” o time com as alterações e perceber as particularidades de cada comandado.

Gostou do texto? Na sua opinião, o que Lampard deve fazer para tirar o máximo de seus jogadores? Compartilhe com os amigos nas redes sociais!

Category: Conteúdos Especiais

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Article by: Lucas Jensen

Jornalista que ainda acredita que o futebol pode ser apreciado sem torcer (mas não se segura e torce mesmo assim). Fã de tática e do jogo reativo, se deleita nos contra-ataques e toques 'de primeira'. Amante racional da Premier League e nostálgico do Calcio, seus hobbies incluem teorias mirabolantes e soluções inusitadas.