Já fazia quase quatro anos desde a última vez que o Chelsea visitou o Atlético de Madrid em sua casa. Desde então, muita coisa mudou, a começar pela própria casa: Vicente Calderón, seu antigo estádio, foi abandonado de maneira definitiva, e agora o novíssimo Wanda Metropolitano abriga a equipe colchonera, que desde seu último confronto contra os Blues, conseguiu firmar-se no cenário europeu, chegando a disputar duas finais de UEFA Champions League no período.
Mas o Chelsea também não fica atrás em questão de mudanças: elenco quase que completamente reformulado, estádio novo nos planos e um novo técnico que tem a missão de fazer o Chelsea voltar a ter grandes feitos no cenário europeu. E o primeiro feito parece já ter acontecido, na heroica vitória sobre o próprio Atlético de Madrid na última quarta-feira. E a mudança de técnico pode ser a mudança que mais fez a diferença de 2014 para hoje.
No dia 22 de Abril de 2014, quando a equipe londrina visitou o Atlético de Madrid em seus domínios, José Mourinho era o dono da prancheta. Na ocasião, Mourinho fez valer a fama de retranqueiro e simplesmente utilizou a estratégia de estacionar o ônibus e impedir que o Atlético jogasse (ou pelo menos marcasse gols). A estratégia até podia ser racional, já que se tratava da equipe que viria a terminar a competição com o segundo melhor ataque (atrás apenas do campeão Real Madrid), e a princípio pareceu sair dentro do planejado: num jogo sem grandes chances, o empate em 0 a 0 foi garantido, e parecia ser um bom resultado para levar para a decisão em casa. No entanto, o desfecho acabou não sendo nada agradável, com a derrota e eliminação do Chelsea em pleno Stamford Bridge, com o treinador adversário Diego Simeone superando seu colega Mourinho.
A derrota pode ter acontecido somente no jogo da volta, mas para muitos, já havia sido anunciada na primeira partida, quando o Chelsea não provou ter condições ou sequer mostrou vontade de vencer, e o castigo veio logo em seguida.
Três anos depois, com o trauma devidamente superado, o Chelsea voltou à Madrid. E mostrou uma postura totalmente diferente. Foi superior na maior parte do jogo e conseguiu superar o baque do primeiro gol tomado quando Álvaro Morata igualou o placar. Mas não foi apenas isso, claro que não. O Chelsea não estava satisfeito com o empate, nunca esteve: buscou a vitória enquanto o jogo estava em 0 a 0, e após o empate voltou a buscá-la até o último segundo (literalmente) de partida.
E Antonio Conte merece os méritos por isso, afinal, coube a ele montar um esquema tático que priorizasse a busca pela vitória (mas claro, sem ficar exposto por demasiado) e fazer uma leitura de jogo quase perfeita, sendo premiado com o gol de um atleta que entrou em campo durante a partida. Além disso, a vibração do italiano também merece ser exaltada: seu jeito peculiar de se portar à beira do campo certamente contagia os jogadores, que suaram a camisa até a última gota de suor. Essa sintonia entre comandante e comandados é importante para qualquer equipe com grandes objetivos, e até agora vem funcionando muito bem.
Talvez a missão de Antonio na quarta fosse mais difícil que a de José há alguns anos, mesmo sendo por fase de grupos: o Atlético de Madrid é hoje uma equipe bem mais cascuda, acostumada com grandes competições e com um elenco ainda mais qualificado. Já o Chelsea não fez praticamente nada relevante no cenário europeu desde aquela eliminação, sequer participou da última edição da UEFA Champions League e perdeu nomes experientes como Frank Lampard e John Terry, com os quais Mourinho contava na ocasião anterior.
Até por esse motivo, os jogadores do elenco atual dos Blues levantavam desconfiança, pois sabe-se que ter experiência na maior competição europeia é um fator por muitas vezes determinante. Com isso, Conte exorciza dois fantasmas de uma vez só: o primeiro, de que o elenco do Chelsea não é cascudo o suficiente para disputar a Champions League. Bem, a força para se recuperar do gol sofrido e ainda mais para não se contentar com o empate já pode provar o contrário. Já o segundo é um fantasma pessoal, de que o italiano não costuma se dar bem em competições de mata-mata.
A competição ainda está no início e é cedo para falar qualquer coisa, mas o feito de quarta pode ter sido fundamental para dar confiança ao clube de Londres. A postura de time vencedor deve ser mantida mesmo fora de casa, e a gana pelo resultado deve ser constante. Antonio tem fome, muita fome. E se continuar assim, a Champions League pode ser um prato cheio para o italiano.