Como o Chelsea perdeu Lukaku, Salah e De Bruyne?

Atualmente, a Premier League tem como protagonistas três jogadores bastante conhecidos pelo torcedor do Chelsea. Está sendo complicado acompanhar o enorme sucesso de Mohamed Salah pelo Liverpool e Kevin De Bruyne pelo Manchester City. Soma-se a eles Romelu Lukaku, que é um grande destaque da competição já há alguns anos, e atualmente defende as cores do Manchester United. Os Blues contaram com os três jogadores em seu elenco há poucas temporadas e não compreendem como talentos tão grandes não foram aproveitados quando ainda vestiam a camisa azul do clube londrino.

O egípcio é o atual artilheiro da competição com incríveis 28 gols marcados até então, enquanto o belga é tido como o melhor jogador do líder Manchester City, com atuações impressionantes que se refletem em números expressivos: 14 assistências e mais sete tentos anotados. O camisa 9 do Manchester United foi contratado por 85 milhões de Euros e corresponde ao investimento, são 14 gols e boas atuações.

Buscando explicar o motivo desses atletas não estarem mais no plantel dos Blues, é necessário entender o contexto de suas vendas. Quem brigava pela posição, qual foi o valor acertado, qual era o treinador que não quis contar com esses atletas e, mais profundo que tudo isso, qual é a política atual do Chelsea para tratar os jovens jogadores que são contratados ou sobem da excelente categoria de base do clube.

Romelu Lukaku

Lukaku não recebeu muitas chances durante a temporada com José Mourinho no Chelsea [Foto: Getty Images]

Apontado como uma das maiores revelações do futebol belga nos últimos tempos, Lukaku foi disputado por grandes clubes europeus desde as categorias de base. Até que no dia 6 de agosto de 2011, o Chelsea acertou a contratação do jovem atacante de 18 anos junto ao Anderlecht, por 15 milhões de Euros.

O treinador no momento, era o português Villas-Boas, e o belga tornou-se o terceiro jovem contratado por ele naquela janela, depois do goleiro Thibaut Courtois, de 19 anos, que foi emprestado ao Atlético de Madrid, e de Oriol Romeu, com a mesma idade do anterior, ex-Barcelona. A chegada de Lukaku foi elogiada pelo comandante que queria trabalhar com o jogador, além de ter pesquisado o mercado na intenção de buscar mais jovens para reforçar o clube.

“É um jovem muito interessante e temos de ser capazes de nos posicionar no mercado para garantir jogadores com este talento” – afirmou Villas-Boas sobre apresentação de Lukaku

Mesmo com o aval do treinador para permanecer no elenco, a primeira temporada do atacante no Chelsea foi muito irregular. À sua frente no comando do ataque haviam Daniel Sturridge, Fernando Torres e Didier Drogba. Com isso, o belga fez apenas 12 jogos pelos Blues na temporada, entrando geralmente no segundo tempo e conseguiu fazer apenas uma assistência.

No dia 10 de agosto de 2012, o Chelsea anunciou em seu site que o jovem atacante belga seria emprestado ao West Bromwich, para ganhar mais experiência. Mesmo sendo reserva em alguns jogos, foi o artilheiro do time na Premier League 2012/13 com 17 gols – foi eleito Jogador do Ano do West Brom na temporada. A equipe naquele ano tinha apenas Fernando Torres e Demba Ba na disputa por uma vaga no ataque e sentiu falta de um artilheiro, como foi Lukaku jogando por uma equipe menor.

Depois da ótima temporada na Premier League, Romelu Lukaku parecia estar pronto para integrar o elenco dos Blues. O treinador era José Mourinho, que começou a pré-temporada usando o belga em amistosos, até que um episódio que marcou muito negativamente o começo de sua jornada no clube de Londres. Na disputa de penalidades da Supercopa da UEFA de 2013, o atacante perdeu o último pênalti, ocasionando no título do Bayern de Munique. Talvez isso tenha feito a confiança em cima do atleta cair, e o técnico preferiu começar o campeonato com Samuel Eto’o, Fernando Torres e Demba Ba como opções de ataque.  No início de setembro, na temporada 2013/14, Lukaku foi emprestado pelo Chelsea ao Everton. Pelo clube de Liverpool, foram 33 partidas e 16 gols na temporada.

Depois desse empréstimo, aos 21 anos de idade, José Mourinho liberou sua venda. Foi vendido por 35,4 milhões de Euros, a maior contratação da história do Everton na época. Nos Blues, ele teria de brigar por posição com os recém chegados Diego Costa e Didier Drogba além de, por enquanto, Fernando Torres.

Ao todo, Romelu Lukaku passou três anos sendo jogador do Chelsea. Foi emprestado duas vezes e não conseguiu fazer partidas suficientes pelos Blues para provar o seu valor. Foram apenas 15 jogos oficiais e nenhum gol marcado. Chegou por 15 milhões e foi vendido por 35,4. Um “lucro” de 20,4 milhões de Euros, que passa a ser quase insignificante por se tratar de um jogador que foi vendido ao Manchester United por 85 milhões e tem seu valor estipulado em mais de 100 milhões atualmente.

Vale lembrar que, nessa atual janela, Lukaku era um dos principais alvos do Chelsea para substituir Diego Costa. Ou seja, o jogador foi vendido na temporada 2014/15 por não ter espaço no elenco, e já para a 2017/18 era cotado para ser a solução do ataque – apenas duas temporadas após sua venda.

Kevin De Bruyne

O belga chegou a fazer sua estreia no primeiro jogo da temporada 2013/14 da Premier League [Foto: Getty Images]

No dia 31 de janeiro de 2012 o Chelsea anunciou a contratação de De Bruyne, junto ao então campeão belga, Genk. O valor girou em torno de oito milhões de euros – de acordo com a imprensa da Bélgica. Por ter apenas 20 anos na época em que fechou seu contrato, o então treinador André Villas-Boas preferiu manter o jovem talento no Genk até o final da temporada. Vale ressaltar que foi mais um atleta que veio a pedido do treinador português.

Na temporada seguinte, o belga chegou ao Chelsea e sabia das dificuldades que enfrentaria. O Chelsea era o atual campeão da UEFA Champions League e Roberto Di Matteo era o treinador com a missão de renovar o elenco. Junto com o retorno de De Bruyne, seu compatriota Eden Hazard e o brasileiro Oscar juntaram-se ao elenco campeão europeu. Em sua entrevista ao site oficial do clube, Kevin já mostrava que conhecia o tamanho de seu desafio:

“Ir para um time como o Chelsea é um sonho, mas agora eu tenho que trabalhar para alcançar o nível que é necessário para jogar aqui.”

O meio campo era recheado de jogadores já consagrados com a camisa dos Blues, e que tinham a confiança do treinador. Além dos volantes, o Chelsea tinha para o setor onde De Bruyne poderia atuar nomes como Oscar, Juan Mata, Yossi Benayoun, Eden Hazard, Frank Lampard, Ramires, Florent Malouda, Victor Moses e Marko Marin. Uma competição complicadíssima para o jovem meia de 21 anos, que acabou sendo emprestado para o Werder Bremen em 2 de agosto de 2012.

Depois de uma temporada de sucesso com o Werder Bremen, na qual conseguiu disputar 34 partidas e anotar dez gols, De Bruyne retornou oficialmente ao Chelsea no dia 1 de julho de 2013. Novamente, uma disputa complicada por posição, e dessa vez foi seu agente, Patrick De Koster, que deixou isso evidente em uma entrevista:

“Nós não recebemos nenhuma garantia, mas isso é normal num clube como o Chelsea. Cabe a De Bruyne provar que é capaz, como ele fez nos últimos 18 meses.”

A temporada começou difícil para o belga. Em um amistoso de pré-temporada contra o Malaysia XI, De Bruyne lesionou seu joelho, justamente no jogo em que marcou seu primeiro gol pelo Chelsea. Mas o meia conseguiu se recuperar a tempo de fazer sua estreia no primeiro jogo da temporada 2013/14 da Premier League, contra o Hull City, dando uma assistência para o primeiro gol na vitória por 2×0.

O treinador no momento já era José Mourinho, que tinha em seu elenco Hazard, Ramires, Lampard, Oscar, Willian e André Schürrle para brigar por uma vaga com De Bruyne no meio campo. Por saber que jogaria muito pouco, o belga pediu para ser negociado, e o treinador liberou a venda do jogador para outro clube alemão. No dia 18 de janeiro de 2014, ele foi vendido por 20 milhões de Euros ao Wolfsburg.

Ao todo, Kevin De Bruyne passou dois anos sendo jogador do Chelsea. Foi emprestado duas vezes e não conseguiu fazer partidas suficientes pelos Blues para provar o seu valor. Foram apenas nove jogos oficiais e nenhum gol marcado. Chegou por oito milhões e foi vendido por 20. Um “lucro” de 12 milhões de Euros, que passa a ser insignificante por se tratar de um jogador que foi vendido ao Manchester City por 75 milhões e tem seu valor estipulado em mais de 100 milhões atualmente.

Mohamed Salah

Salah marcou seu primeiro gol pelo Chelsea em uma vitória por 6×0 contra o Arsenal [Foto: Reuters]

Vinha fazendo bons jogos no FC Basel até ser contratado em 26 de janeiro de 2014, com cinco anos e meio de vínculo. Pelo clube suíço, foram 20 gols em 78 partidas. No meio da temporada 2013/14, José Mourinho pediu sua contratação, que aconteceu por 16,5 milhões de Euros. O curioso de sua história é que Salah se destacou em partidas contra o próprio Chelsea pela fase de grupos da Uefa Champions League 2013/14. O egípcio marcou aos 87 minutos o gol da vitória por 1×0 e um dos tentos na vitória do Basel por 2×1 em pleno Stamford Bridge.

Aos 22 anos de idade, Salah chegou para ser apenas uma das opções de ataque dos Blues, visando compor e dar mais uma opção de velocidade ao elenco. Concorria por uma vaga com Oscar, Willian, Hazard, André Schürrle e Ramires – que muitas vezes atuava pela ponta direita. Com tantos jogadores e apenas duas vagas pelas pontas, o egípcio acabou não jogando muito sob o comando de José Mourinho, apesar de ter sido uma contratação que o próprio treinador pediu. Foram 19 jogos ao todo, a maioria deles entrando no final, e com isso, conseguiu marcar apenas dois gols – um deles na memorável vitória por 6×0 contra o Arsenal.

No dia 2 de fevereiro de 2015, após ficar de lado no elenco de José Mourinho, o Chelsea confirmou o empréstimo por 18 meses de Salah para a Fiorentina, como parte de um acordo pela transferência de Juan Cuadrado para a equipe londrina. A transferência aconteceu em uma janela de meio de temporada, e o Chelsea vinha fazendo grande campanha na Premier League em que seria campeão com Mourinho. Por isso, mesmo com o fracasso do colombiano Cuadrado com a camisa azul, a saída do egípcio não foi tão sentida. Pela Viola, foram 26 jogos nove gols durante seu empréstimo.

Em 6 de agosto de 2015, após o Chelsea se sagrar campeão inglês, Salah acertou sua ida para Roma em empréstimo de uma temporada por cinco milhões de euros, com a opção de compra por 15 milhões de euros. Nessa passagem, foi nomeado o jogador da temporada da equipe italiana, terminando como o artilheiro do clube com 15 gols em todas as competições e mais seis assistências. Em 3 de agosto de 2016, foi contratado em definitivo pelo time romano, que exerceu a cláusula de compra após o final de seu tempo emprestado.

Recentemente, Salah explicou o motivo de não ter ido bem em sua passagem pelo Chelsea:

“Eu não fui bem pois eu não joguei muitos jogos.”

“Eu estive lá [no Chlesea] por um ano, mas só joguei durante os seis primeiros meses. Depois disso eu raramente participei”

Ao todo, Mohamed Salah passou dois anos e meio sendo jogador do Chelsea. Foi emprestado duas vezes e não conseguiu fazer partidas suficientes pelos Blues para provar o seu valor. Foram apenas 19 jogos oficiais e dois gols marcados. Chegou por 16,5 milhões e foi vendido por 20. Um “lucro” de 3,5 milhões de euros, que passa a ser insignificante por se tratar de um jogador que foi vendido ao Liverpool por 42 milhões e tem seu valor estipulado em mais de 75 milhões atualmente.

O denominador comum

O ex-Chelsea De Bruyne é atualmente um dos melhores jogadores do mundo [Foto: AFP/Getty Images]

O que todos esses atletas têm em comum é sua passagem pelo Chelsea antes de explodir no futebol. São três jogadores contratados ainda jovens pela equipe de Londres, e por isso foram cedidos por empréstimo com o intuito de ganhar rodagem e experiência.

O erro da diretoria e dos treinadores foi não saber integrá-los ao elenco quando chegou o momento. O Chelsea é um time que sempre contrata e tem pelo menos dois jogadores brigando por cada posição. Quando um jovem jogador não recebe as oportunidades que precisa, seu desejo acaba sendo sair do clube, para ter a tranquilidade e estabilidade necessários para alavancar sua carreira. Dessa forma, a alternativa acaba sendo a venda.

Por ser um clube milionário e ter a política imediatista de suprir rapidamente as posições necessárias com contratações, o Chelsea cria um grande fluxo de entradas e saídas de jogadores, seja por empréstimo ou por uma venda definitiva. Muitas vezes, a solução para alguma demanda do elenco está em empréstimo para alguma equipe europeia. Imaginar que o time sofreu com a falta de um atacante – mesmo que seja para a reserva – quando Lukaku estava fazendo muitos gols pelo Everton é um absurdo.

É necessário tomar cuidado para não perder jogadores talentosos por falta de oportunidade. Na última janela, Nathan Aké, Dominic Solanke e Nathaniel Chalobah foram vendidos para equipes inglesas e têm potencial para crescer muito no futuro. É impossível segurar tantos jogadores jovens no elenco, mas é necessário se certificar de que eles sejam testados o suficiente antes de vendê-los em definitivo, pois podem ser grandes jogadores no futuro, e restará aos torcedores lamentar a perda.

Category: Chelsea Football Club

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Article by: Victor Rosa

Jornalista e viúvo de Eden Michael Hazard.